quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O REVÓLVER BANHADO A OURO, COM 4 PEDRAS DE RUBI NO SEU CABO

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Setembrino Alves dos Santos teve uma vida de muito trabalho em todos os setores de atuação, quer fosse na agricultura, na perfuração de poços ou nos serviços de cobrador de dívidas. Ele era filho de João Alves dos Santos. A sua família era composta do pai, da mãe e de mais 25 irmãos e irmãs. Todos viviam do trabalho extenuante em 20 alqueires de roçado no interior da cidade de Curitibanos. O pai de Setembrino tinha um irmão gêmeo de nome Alfredo. Esse, no que lhe concerne, tinha um genro de nome Antenor Dias, um valentão que sempre vivia armado, portando duas armas, pois, segundo Setembrino, era um contraventor na localidade de São Sebastião do Sul, hoje, distrito de Lebon Régis/SC. Parece que o destino colocou Antenor na vida de Setembrino e dos seus entes queridos, como uma espécie de provação, ou de teste, objetivando o aperfeiçoamento individual de cada um, até se encontrarem todos numa esfera mais elevada.

O terreno da família de João Alves, no interior de Curitibanos, fazia divisa com o do irmão Alfredo. Ambos eram divididos por cercas e porteiras Por causa dessas porteiras, que muitas vezes, ficavam abertas por descuido ou desatenção de alguém, é que começaram as brigas e intrigas entre os familiares dos gêmeos. O roçado no terreno de João Alves funcionava como uma área de labor comunitário para os seus filhos, onde os homens da família trabalhavam em mutirão para conseguirem o precioso sustento do lar.

Do outro lado da cerca, no terreno de Alfredo, mudou-se o genro, Antenor Dias e a sua esposa. Há quem diga que ele abandonou São Sebastião do Sul devido a algum crime e veio refugiar-se nas terras do sogro em Curitibanos.

Enquanto João Alves e seus filhos saiam para trabalhar na roça, a esposa e as demais filhas ficavam em casa, sem a presença de nenhum homem. Antenor, aproveitando-se da ocasião, com mais cinco cunhados, começaram a atravessar a divisa das propriedades e visitar essas mulheres, ameaçando-as de morte. Isso se deu repetidas vezes, até que João Alves não suportou mais a situação e vendeu a propriedade para um cunhado.

A numerosa família mudou-se para a área urbana de Curitibanos. Inicialmente, foram morar no bairro São Luiz. Setembrino Alves dos Santos conheceu uma jovem de nome Devanil Figueira dos Santos, vindo posteriormente a casar-se com ela. Se estabeleceram no bairro São José, onde viveram como família por 12 anos.

Nesse mesmo tempo, Antenor Dias, já conhecido como um pistoleiro de aluguel na cidade de Curitibanos, assassinou de forma brutal, com alguns policiais, um farmacêutico em Ponte Alta do Norte. Segundo as palavras de Setembrino, o crime, com seus detalhes, foi assim: Antenor “era tão sangue-frio que matou a vítima aos poucos, primeiro castrando, depois, cortando a língua, depois furando o olho, e ainda, quando a vítima pedia-lhe água, Antenor mijava na sua boca”. Depois de nove dias do crime, já em estado de decomposição, o corpo foi encontrado. Após assassinar o farmacêutico, Antenor resolveu assaltar e roubar alguns pertences na residência da vítima. O crime foi logo descoberto, pois um dos filhos de Antenor apareceu na escola com um anel que só era usado por um farmacêutico. Um Cabo da polícia perguntou ao garoto:

— Onde você conseguiu esse anel?

— Ganhei do meu pai.

— Como o teu pai conseguiu esse anel para te dar de presente? 

— Não sei! Lá em casa tem máquinas de escrever, armas, relógios e diversos outros objetos que vieram com o anel.

Depois dessa declaração informal do filho de Antenor Dias, o Cabo comunicou o fato para o Capitão Peters, que não titubeou em elaborar diligências para prender o assassino do farmacêutico.

Após ser preso, Antenor Dias entregou os companheiros. Dessa forma, confessaram o crime. Todos foram presos e submetidos a júri. Apesar da crueldade do crime, com a ajuda de bons advogados e álibis, Antenor e mais um policial foram absolvidos. Outros dois, foram condenados e expulsos da Polícia Militar. Foram presos na Penitenciária da região de Florianópolis. Esses policiais presos, acabaram denunciando Antenor Dias por mais 16 homicídios. Foi preso temporariamente, mas acabou tornando-se amigo do delegado Joaquim Silva, e foi logo absolvido.

Antenor Dias soube por intermédio da sua esposa que era prima de Setembrino, que ele havia recebido de presente do seu pai João Alves, um revólver da marca “Smith & Wesson”, banhado a ouro e com quatro pedras de rubi no cabo. Essa arma era considerada uma relíquia familiar, pois pertenceu ao avô de Setembrino, que o deu para o seu pai e que posteriormente, o presenteara.

Antenor Dias, como era amigo do delegado Joaquim Silva, regularmente lhe oferecia dinheiro para que o mesmo apreendesse o tal revólver e lhe entregasse. Certo dia, no início do ano de 1964, quando Setembrino fez uma viagem para Caçador, para fazer um poço naquela cidade, os dois, Antenor e Joaquim Silva foram até a sua residência, exigindo que a sua esposa lhes entregasse o revólver. A esposa de Setembrino recusou-se a entregar-lhes a arma:

— Não sei de arma alguma.

Os dois então prenderam Devanir, levando-a para a Delegacia, onde a estupraram e a espancaram muito, até ao ponto de terem que levá-la para o hospital. A esposa de Setembrino estava grávida, vindo a perder o bebê, e a sua própria vida, devido à brutalidade à qual fora submetida. No laudo médico, expedido pelo Dr. Hélio Anjos Ortiz estava escrito, que a “causa mortis” foi o resultado de espancamento.

Esse fato causou muita revolta entre os moradores de Curitibanos na época. O prefeito municipal da época providenciou o funeral e o enterro, sendo todas as despesas custeadas pela prefeitura. 

Após enterrar a esposa, Setembrino Alves dos Santos procurou as autoridades locais para que tomassem providências contra Antenor Dias e o Delegado de Polícia de Curitibanos. O Juiz de Direito, Dr. Ernani de Palma Ribeiro, que posteriormente, se tornou Desembargador até a sua aposentadoria, alegou, na presença do Escrivão da época, Onofre Santo Agostini e do Oficial de Justiça Virgílio Neves e mais testemunhas:

— Antenor é um homem do comércio e o Delegado é um homem de Direito. Esses dois, jamais teriam coragem de cometer tamanha barbaridade.

— Eu vim procurar a justiça, mas já que encontrei as portas fechadas, vou fazer justiça com as minhas próprias mãos. Esse é o pagamento que recebemos por sermos bons para os outros.

Quinze dias após a morte de Devanil, Setembrino estava jantando na antiga Churrascaria Nossa Senhora Aparecida em Curitibanos, quando o Delegado Joaquim Silva e alguns policiais adentraram no recinto de armas em punho para lhe desarmar, com objetivos de prisão. Setembrino percebeu o movimento dos homens da lei e sendo mais rápido do que eles, rolou para debaixo de uma mesa no mesmo instante em que abriu fogo contra o Delegado, acertando-lhe 4 tiros no peito. Os soldados Alceu e Lageano, vendo aquele movimento repentino, saíram correndo do local. Setembrino teve tempo de recarregar o revólver, substituindo as 4 cápsulas deflagradas por 4 novas balas. Ele acreditou naquele instante, que havia matado o abusador e o causador da morte da sua esposa. Saiu correndo do local e fugiu com destino ao Rio de Janeiro.

Joaquim Silva não morreu, ficou meio que aleijado pelo resto da vida. Eu trabalhei com ele no final dos anos 70 e conheci o seu temperamento. Quanto a Setembrino, foi preso e absolvido. Futuramente, ele e Antenor Dias travariam novo embate, utilizando os seus revólveres. Essa história ficará para uma publicação futura.


Referência para o texto:

SALVADOR, Wanderlei. Setembrino, o Rei do Gatilho/Wanderlei Salvador. 1º ed. — Xanxerê/SC: News Print, 2015.


Óbito de Danair Alves dos Santos. Portal FamilySearch. On-line, disponível em: https://www.familysearch.org/ark:/61903/3:1:S3HY-62Y9-5M4?i=181&wc=MXYG-128%3A337701401%2C337701402%2C338783801&cc=2016197

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