segunda-feira, 19 de abril de 2021

A MINHA PARTICIPAÇÃO NA SOLENIDADE DE FORMATURA - 1981

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Era o ano de 1981. Estávamos no último e derradeiro caminho para a conclusão do 2º Grau, hoje, “Ensino Médio”, no antigo Colégio Comercial Cardeal Câmara de Curitibanos. Lembro que nos primeiros meses do ano, a professora Sebastiana Medeiros Becker foi até a nossa sala, para escolher um representante da turma para ser o orador na solenidade de formatura, que ocorreria no final do ano. Ela tinha o objetivo de preparar o aluno ou a aluna com antecedência para que tudo saísse conforme o planejado no dia da entrega dos certificados.

Lembro ainda, que não houve muito interesse por parte dos alunos para ser o orador ou oradora. Ninguém se manifestou, até que foi escolhida uma aluna para tal função. O ano transcorreu normalmente até chegarmos no mês de outubro, quando a aluna escolhida procurou a professora Sebastiana, alegando não poder ser a oradora da turma. E agora? Não sei como, acabaram me escolhendo para tal função.

Justo eu, que nunca na minha vida, tinha ido ou participado de nenhuma solenidade de formatura. Não sabia nada como funcionava essa tal entrega de certificados e encerramento dessa etapa das atividades escolares. Acredito que, como não houve interessados, me incumbiram de tal tarefa, simplesmente, porque tinha que ter alguém para essa função. Tínhamos pessoas mais capacitadas, mais velhas e experientes. Cito aqui os nomes dos alunos que na minha opinião, estariam mais bem qualificados e preparados. Eli Almeida que já tinha sido professor de Educação Física, Celso de Oliveira que era funcionário do Departamento Estadual de Estradas e Rodagem — DER, Luiz Pacheco que trabalhava na Delegacia de Polícia na época. Esses homens eram, em relação à turma, além de mais velhos em idade, também, mais experientes. Nenhum deles se prontificou.

Aceitei, sem saber o que fazer, o que falar e o que escrever, visto que a professora Sebastiana me deu a seguinte incumbência, após a escolha do meu nome: 

ー Você já pode ir escrevendo o discurso, daqui a uns dias vou corrigir.

Aquilo me deu medo. Escrever o quê? Naquela época não tínhamos os recursos de hoje à nossa disposição. Onde eu arranjaria um modelo de discurso de formatura para me embasar? Acabei indo na Biblioteca Pública Municipal e procurei ajuda. Escrevi um esboço, o qual foi lido e corrigido pela professora Sebastiana. O resultado, ficou da seguinte forma:


Excelentíssimas autoridades aqui presentes, caros mestres, meus senhores, senhoras, prezados colegas de turma!

Coube a mim o dever, de neste dia, que é para nós, muito solene, representar meus colegas terceiranistas, do nosso saudoso Colégio Comercial Cardeal Câmara.

Acreditamos que quase todos, ou melhor, todos os que aqui se fazem presentes, já passaram pelas experiências dos bancos escolares.

Mesmo os que gazeavam, em algum dia se dedicaram para conseguir algo do estudo. 

Estudar é aplicar a inteligência para aprender, analisar, descobrir, adquirir conhecimentos, instruções dos que têm maior vivência.

Ser estudante é ser dedicado à pesquisa e ao estudo; é gostar de ler para que em cada dia que passar, seus conhecimentos aumentem.

É estupendo observar como o tempo passa depressa; parece-nos que foi ontem, quando, há três anos passados, iniciamos esta carreira que ora culmina.

Foi uma jornada árdua, longos dias de estudo e sacrifício e eis que hoje é o término.

Beneméritos mestres, aqui estamos para dizer muito obrigado e “Deus lhes pague” por tudo o que por nós fizestes. Perdoe-nos se em algum dia fomos irreverentes.

Vejamos o antigo provérbio: “A educação vem do berço!” — Mas vós, ó mestres, sois quem molda, pincela, aperfeiçoa esta educação, este caráter iniciado em casa por nossos pais.

Queridos pais, graças a vós é que aqui estamos, recebendo nosso diploma de Técnicos em Contabilidade. Foi de vossa pessoa que sempre tivemos o apoio, a palavra amiga e animadora. Nosso muito obrigado.

Caras esposas, namoradas, noivas, obrigado pelo incentivo recebido e pela compreensão.

Colegas, todos devíamos parar para pensar, sentir, refletir os momentos felizes porque passamos. Tudo foi. Tudo passou. Só nos resta uma saudade. Hoje, a partir deste exato momento, nos separaremos, cada um para um rumo diferente; cada um com carreira já definida. Hoje é o fim do 2º Grau. Nosso trabalho nos espera. O dever nos convida para a luta.

Vamos, com muita coragem e persistência, a perseverança continue em nosso lema: ‘Pobre é o homem que busca no trabalho apenas a realização material, pois não há dinheiro que pague as ideias perdidas e a moral corrompida. Rico é aquele que encontrou no trabalho, o caminho para a sua realização humana e profissional, vencendo barreiras, saltando obstáculos e colocando a sua profissão e inteligência a serviço do bem comum’. Obrigado!”


Não parece um texto longo, mas a professora Sebastiana passou a limpo o discurso numa folha dupla de papel almaço, muito utilizado naqueles tempos, de forma bem legível, ocupando três laudas. Ao me entregar a cópia, disse:

ー Estude este discurso para o dia da formatura.

Eu lia e relia as palavras e frases, até que acabei decorando o texto todo. No dia da solenidade, que foi na “Igreja Católica Imaculada Conceição” de Curitibanos, com a presença do prefeito, senhor Wilmar Ortigari, pais, alunos e convidados, subi à frente e proferi, de forma eloquente e decorada, as palavras do discurso. 

Confesso que eu tremia mais do que “vara verde em dias de vento”. No final, recebi os cumprimentos do proprietário e Diretor da escola, o senhor David Novak e também, do prefeito. O nervosismo era aparente. Afinal, minha família e eu nos preparamos para aquele dia. Meu pai encomendou num alfaiate famoso, um terno para mim, tendo eu ido até a alfaiataria para tirar as medidas e fazer provas, várias vezes. Era um terno especial, para uma solenidade especial. Foi usado por mim, uma única vez.

Depois da formatura, houve uma confraternização, e mais tarde, num outro dia após essa data, houve outra confraternização num sítio que não lembro onde era. E assim, cada um dos alunos tomou um rumo diferente em suas vidas, tal qual as palavras do discurso. Eu fui para o Exército, ficando por lá um ano inteiro. Depois trabalhei mais um tempo em Curitibanos e fui para o norte do Brasil. Cada um dos alunos daquele educandário têm uma história importante de vida.

Esse foi o meu relato sobre a solenidade de formatura e o discurso feito por mim e pela professora, Dona Sebastiana Medeiros Becker, à qual, só tenho a agradecer.

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