Texto de Antonio Carlos Popinhaki
A história do Estádio Municipal Wilmar Ortigari, conhecido popularmente como “Ortigão”, passou pela necessidade e o clamor dos adeptos do futebol para possuírem um lugar de destaque para os seus jogos amistosos e ou de campeonatos, dos quais, times curitibanenses participavam. Antes da construção desse estádio, havia em Curitibanos, o antigo “Alçapão da Baixada”, localizado na parte baixa e oposta ao portão de acesso da atual garagem de veículos e máquinas da Secretaria de Obras de Curitibanos.
No final dos anos da década de 1950 e início de 1960, existiam, em Curitibanos, dois times que disputaram a série principal do campeonato catarinense de futebol masculino, o Independente Atlético Clube e o Flamengo Futebol Clube. Além da torcida dos aficionados pelo esporte nas manhãs e tardes de sábado e domingo, havia muitos curiosos que viam o local, como um lugar de recreação e de memoráveis encontros para uma boa conversa. Curitibanos vivia o auge do ciclo da madeira e tinha entre os atletas dos clubes de futebol, alguns dos funcionários das dezenas de madeireiras ora existentes.
Apesar do gramado do estádio “Alçapão da Baixada” não ser dos melhores, servia perfeitamente como palco para as disputas com os times de outros centros. Encontramos uma reportagem estampada no jornal ‘A Notícia’, de Joinville, datada de 4 de novembro de 1959, feita na ocasião em que o América, daquela cidade, foi derrotado pelo Independente Atlético Clube de Curitibanos, no estádio “Alçapão da Baixada”, elencando considerável crítica ao local do embate:
“Ainda não descobrimos, como é que um campo de futebol que não serve nem para partidas de várzea pode ser considerado oficial para partidas de Campeonato Estadual; o seu gramado é completamente acidentado, com as áreas esburacadas e carecas, cheio de saliências, campo idêntico ao do C.A. Baependi de Jaraguá do Sul, é bem verdade que existe uma certa segurança para os jogadores e juízes, pois uma parte do gramado é cercado por um pequeno alambrado.”
Os times curitibanenses não se sustentavam em pé com as suas próprias pernas, mesmo com o auxílio financeiro de muitos nomes importantes da sociedade. Empresários e adeptos do futebol empregaram esforços para manter os seus times, infelizmente, não foram esforços suficientes. Prefeitos também lutaram, como foi o caso do prefeito José Bruno Hartmann, que através da Lei Ordinária Municipal n.º 423/1959, garantiu auxílio monetário ao, talvez, maior e melhor time de futebol que Curitibanos já teve, o Independente Atlético Clube, time da primeira divisão do futebol catarinense. Com o passar dos anos, os principais times desapareceram e deram lugar a outros de menor expressividade no âmbito estadual, sem afastar os aficionados das arquibancadas de madeira do antigo estádio.
Na segunda metade dos anos da década de 1960, na gestão do então prefeito Wilmar Ortigari, se deu início às obras do atual Estádio que levaria o nome do gestor municipal. Curitibanos necessitava de um novo estádio para a prática do futebol. Como já citado, as disputas até esse tempo, eram realizadas no antigo “Alçapão da Baixada”, tradicional estádio curitibanense, palco de acirradas disputas. O esforço foi coletivo, não só do setor público, empresários e pessoas ligadas ao esporte, num esforço conjunto, arriando temporariamente as armas de ataques e de defesas políticas, uniram-se para a construção do que seria o palco de muitos encontros e de partidas memoráveis. Cito como exemplo o empreendedor Atecir Guidi, que trabalhou como guarda-livros, madeireiro, agricultor e também exerceu atividades no ramo farmacêutico. Atecir Guidi foi também o Presidente da Comissão Municipal de Esportes de Curitibanos — CME, pois era um homem dedicado, grande incentivador da prática esportiva. Sob a sua responsabilidade, foram construídas as fundações e o aplainamento, que serviu para a base do gramado do Estádio Municipal Wilmar Ortigari, o “Ortigão”. Ele vistoriou cotidianamente as obras pessoalmente.
O prefeito Wilmar Ortigari, em sua gestão, além da grandiosa obra do prédio da prefeitura, foi também o responsável pela construção do Estádio Municipal, conhecido carinhosamente por “Ortigão”. Não é verdade que as arquibancadas do estádio foram construídas voltadas para o Oeste ou o poente do sol, por causa da maioria das partidas serem realizadas pela parte da manhã. Na verdade, havia sempre partidas realizadas pela manhã e à tarde, muitas vezes, mais partidas realizadas à tarde.
Numa fotografia datada de 1968, constatamos que o projeto inicial contemplava a construção de arquibancadas contínuas e baixas nos dois lados do Estádio, sendo que um lado, o do lado Oeste, seria parcialmente coberto, com cabines instaladas para o uso de transmissões de rádio e televisão. Nos fundos dessas cabines, estava prevista a construção de quadras de cimento para a prática de futebol de salão, hoje, futsal. Não era uma obra faraônica, mas serviria perfeitamente para atender a demanda curitibanense. No projeto, não constavam pistas de atletismo, entretanto, as necessidades de um local para a prática de uma diversidade de esportes se fez necessária, e o projeto foi alterado, transformando o Ortigão num estádio olímpico, as pistas de atletismo foram instaladas.
A primeira arquibancada, perto da usual entrada principal, foi construída logo em seguida à inauguração, e outra, construída posteriormente, fugindo do projeto inicial, com altura e um vão entre elas. Antigos atletas e incentivadores dos times locais, afirmam que nunca viram as duas arquibancadas totalmente lotadas. Elas tinham um apelido: “Paredão”! Isso, devido à forma como foram construídas. Em dias de jogos, os torcedores mais fanáticos ficavam expostos às intempéries da natureza, como o sol e a chuva.
Inicialmente, não havia uma praça em frente à entrada do Estádio. Ela foi construída e ornamentada definitivamente na gestão do prefeito Wanderley Teodoro Agostini, quando Luiz César Abraão, o Juca, assumiu o departamento de esportes, antes mesmo deste ser elevado à categoria de Secretaria de Esportes. A área mostrava-se abandonada e sem cuidados, com alguma pastagem em frente e enormes eucaliptos que foram plantados nas extremidades do Estádio. Era comum encontrar cavalos pastando no local, deixados amarrados por diversos proprietários, que moravam no bairro São Francisco. Às vezes, os cavalos se soltavam, e ao perceberem a grama do estádio, adentravam no local, pois o muro estava caído, talvez por causa da falta de manutenção e das raízes dos enormes eucaliptos que cresceram e derrubaram o muro.
Foi iniciado um trabalho de manutenção do estádio municipal. O antigo secretário conta que ele e um funcionário conhecido pela alcunha de “Bahiano”, especularam a construção de uma praça em frente ao estádio, fizeram um esboço e levaram para o Setor de Obras, para o engenheiro responsável, na época, o senhor Sérgio Provesi analisar. Foi dado continuidade à ideia e com a ajuda de muitas mãos, a praça tomou forma. Plantaram grama, árvores para quebrar o vento e fizeram a urbanização.
Quanto ao nome, foi uma sugestão do prefeito Wanderley, em homenagem ao grande atleta curitibanense Robson Lúcio Abraão, que faleceu em trágico acidente, quando se deslocava para Florianópolis, onde iria participar de uma partida de Futsal. Através da Lei Ordinária Municipal n.º 3775/2005, de 15 de setembro de 2005, foi denominada de Praça Robson Lúcio Abraão, a área em frente ao acesso do Estádio Municipal Ortigão. Inicialmente, era para ser maior, mas por falta de recursos na época, foi abreviada, conforme está presentemente. A solenidade do dia da inauguração foi muito bonita e comovente. Havia uma banda municipal, com poucas pessoas, mas algo que marcou bastante, principalmente os parentes do homenageado.
Referências:
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal nº 423/1959, concede auxílio do Independente Atlético Clube
Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 3775/2005, denomina praça.
Depoimento de Luiz César Abraão.
Depoimento de Juarez Leão.
Fotografia: Página 105 do livro Nossa Terra Nossa Gente, de Coracy Pires de Almeida.
Jornal A Notícia de 4 de novembro de 1959
POPINHAKI, Antonio Carlos. José Bruno Hartmann. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2021/10/jose-bruno-hartmann.html
POPINHAKI, Antonio Carlos. Atecir Guidi. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2022/03/atecir-guidi.html
POPINHAKI, Antonio Carlos. Eu e a madeira / Antonio Carlos Popinhaki. – Blumenau : 3 de Maio, 2016. 93 p.
POPINHAKI, Antonio Carlos. Wilmar Ortigari. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/wilmar-ortigari.html
URBANSKI, Cícero. História do Futebol. Independente Atlético Clube - Curitibanos/SC. On line: Disponível em: https://historiadofutebol.com/blog/?p=77951
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