quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

SÍNTESE DA BIOGRAFIA DE ANITA GARIBALDI



Texto adaptado por Antonio Carlos Popinhaki


Esta é uma síntese da biografia de Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, a Anita Garibaldi, nascida em 30 de agosto de 1821. Alguns estudiosos e pesquisadores discutem até hoje, o local do seu nascimento. Alguns apontam para Lages ou outra cidade do “Planalto Serrano”. Entretanto, para aqueles que mais a honram e a homenageiam, e estou falando dos pesquisadores e historiadores de “serra-abaixo”, há consenso de que ela tenha nascido em Laguna.

De família humilde, sendo o pai, Bento Ribeiro da Silva, de profissão “tropeiro”, e a mãe, Maria Antônia de Jesus Antunes, costureira. Sabe-se pouco sobre o tempo da sua infância, interrompido no dia do seu aniversário de 14 anos, quando na Igreja Matriz de Santo Antonio dos Anjos da Laguna, aceitou, resignada, desposar um homem de 30 anos, com ideais completamente diferentes dos seus. Após viverem uma vida de brigas, discussões e incompatibilidades, optaram pela separação, que aconteceu três anos depois, quando o marido ingressou no exército imperial.

Anita herdou do pai o gosto pelos cavalos, pois desde os tempos de infância, demonstrou estar determinada a “tomar as rédeas” do seu destino. Com personalidade forte, não se intimidava diante de eventual importunação. Insurgia-se, impunha-se, com a energia própria dos destemidos, conforme escreveram os escritores catarinenses e alguns outros de além-fronteira. A jovem não ignorava a situação política e econômica do governo monárquico-regencial, com a pesada carga tributária e as críticas à administração dos recursos imperiais. Seu tio Antônio, por exemplo, por simpatizar com o movimento farroupilha, teve a sua casa incendiada na cidade de Lages.

Em 1839, o movimento dos farrapos seguiu para a cidade catarinense de Laguna, com o objetivo de tomá-la, pois o porto da pequena vila facilitaria a expansão do comércio com o mercado exterior, fortalecendo assim, os ideais revolucionários. Naquele mesmo ano, alguns homens, incluindo Giuseppe Garibaldi, sob o comando do General David Canabarro, tomaram Laguna, depois de uma epopeia náutica iniciada no Rio Grande do Sul, que envolveu o transporte por via terrestre de dois barcos conduzidos, sobre carretas, por 200 bois, desde a cidade de Camaquã, até o Rio Capivari. A distância entre os dois pontos era de cerca de 100 quilômetros.

Antes mesmo de desembarcar, Garibaldi pegou uma luneta e observou atentamente uma formosa e bonita mulher caminhando pela praia. Após desembarcar, Garibaldi percorreu toda a pequena cidade de Laguna em busca daquela mulher que mexera com ele, enquanto a observara do interior do barco. A procura falhou, ele não a encontrou em nenhum lugar. O italiano mal sabia falar algumas palavras em português. Ao tomar café na casa de um dos líderes locais, eis que surgiu à sua frente, aquela que ele procurava. Tratava-se de Ana Maria de Jesus Ribeiro (alguns escritores dizem que seu nome era Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva devido ao sobrenome do pai). Após se postarem de frente, de se olharem face a face, e se observarem demoradamente, um na frente do outro, sem dizerem uma só palavra, Garibaldi quebrou o silêncio. Meio em português, com sotaque acentuado em italiano, disse: “Tu deves ser a minha mulher”.

Passados os dias de euforia, Ana Maria, ao ser chamada carinhosamente de Anita, não poderia imaginar que esse encontro fulminante, selaria um compromisso de amor e de lutas pelos ideais republicanos e de justiça social que estavam por vir.

Dessa forma, depois da tomada de Laguna, estava então instalada a República Juliana. Os historiadores escreveram que “o povo foi para as ruas e os sinos repicaram”, quando os farrapos entraram em Laguna. Dois meses depois da tomada de Laguna, a decidida mulher convenceu Garibaldi da relutante decisão de levá-la consigo numa das batalhas marítimas. Na noite de 20 de outubro de 1839, Anita subiu na escuna “Rio Pardo”, levando consigo apenas alguns pertences pessoais. Não tardou para ser colocada à prova, demonstrando coragem ímpar. Em novembro daquele mesmo ano, durante um combate, em Imbituba, um balaço de canhão a fez tombar no convés. Dois marinheiros, ao seu lado, padeceram. Anita ensanguentada, demonstrou excepcional bravura, causou admiração em todos, para orgulho de Garibaldi, que agradecendo a providência divina, registrou em suas memórias, a coragem sem igual da jovem amada, que não fugia à luta. Digna de admiração de todos, encarava com humor as vicissitudes das batalhas.

Grávida, ficou responsável pelo transporte e o abastecimento de munições entre a retaguarda e as posições avançadas na “Batalha de Coritybanos”, ocorrida em janeiro de 1840, quando a fizeram prisioneira. Escapou corajosamente, numa noite tenebrosa, conforme relatou o comandante do exército Imperial. Depois de uma jornada extenuante, conseguiu encontrar Garibaldi acampado nas imediações entre Lages e Vacaria.

Em setembro de 1840, já no Rio Grande do Sul, quando o Exército Imperial cercou a sua casa, precisou fugir sozinha. Emboscadas e círculos de fogo não foram suficientes para detê-la. Depois de uma marcha ininterrupta por alguns dias e noites, sem comer e nem beber, com o seu filho recém-nascido nos braços e montada em seu cavalo, empreendeu fuga memorável, imagem digna de futuramente para a construção de uma estátua ilustrativa desse feito. Para os Farroupilhas, a guerra estava perdida. Em 1841, quando a situação da República Rio-grandense ficou insustentável, Garibaldi, Anita e o filho Menotti seguiram para o Uruguai.

No ano seguinte, em Montevidéu, o casal legalizou a sua união, foi lá que nasceram três de seus filhos. Nossa heroína se revelou, então, ao mundo, como uma mãe extremamente dedicada. No Uruguai, a católica Anita, exerceu o ofício de costureira, usou os conhecimentos apresentados para ela, ainda na infância, por sua mãe. Anita floresceu em plena guerra civil do Uruguai, enquanto Garibaldi comandou a frota uruguaia, Anita foi incorporada como enfermeira da “Legião italiana”, e passou a cuidar de numerosos feridos na “Batalha de Santo Antonio de Salto”. Ocupava-se dessa tarefa, como calmante vivo para aplacar o luto devastador pela morte prematura da sua filha Rosita, com apenas 2 anos de idade, às vésperas das comemorações do natal de 1845.

Dois anos depois, Anita embarcou com os filhos para a Itália, que fervilhava com um movimento chamado “ressurgimento”, movimento na história italiana que buscou entre 1815 e 1870, unificar o país, que era uma coleção de pequenos Estados submetidos às potências estrangeiras. Em Gênova, a sua chegada foi celebrada de modo extraordinário. Mais de 3 mil pessoas a aguardavam em frente à casa, onde se instalou. O mesmo ocorreu, dias depois em Nice, terra natal do seu marido.

Anita esteve ao lado de Garibaldi, quando em 1848, ele reuniu voluntários para libertar a Itália do domínio austríaco, e juntou-se à luta pela unificação do país. Em sua última primavera, organizou um hospital para os legionários, depois voltou para junto dos seus filhos, em Nice. Entretanto, ao saber do ataque francês ao Gianicolo (uma das colinas de Roma, onde é possível ter uma visão da cidade pelo alto), partiu ao encontro do seu marido, participando ativamente da batalha final, não sabendo que o destino de Roma já havia sido selado. Anita, vestida como Amazona, marchou então com Garibaldi, na grande retirada. Despistaram os inimigos, com estratégias que até hoje são estudadas nas academias militares. Tropas inimigas, com milhares de homens, continuaram as buscas. Companheiros desertaram, a retaguarda da cavalaria foi massacrada. Anita, exausta, grávida e com a saúde abalada, tentava comandar os soldados, apesar das críticas condições impostas.

A caçada inimiga não deu tréguas. Mesmo destruída pela febre, sob o sol escaldante, Anita mantinha o seu espírito indômito. Ao chegar no destino, o médico constatou a gravidade da situação. Ao acomodá-la no leito, Garibaldi percebeu, incrédulo, que o coração do seu mais precioso soldado já não pulsava mais. A sua brava e amada companheira descansava, enfim, às 19 horas e 45 minutos, do dia 4 de agosto de 1849.

O corpo de Anita Garibaldi foi enterrado numa cova rasa, e mais tarde, em 11 de agosto, foi sepultado no cemitério local. Ainda mais tarde, seus restos mortais foram enviados para Bologna, Livorno, Gênova, Nice, por onde descansou por 72 anos. Em 1931, após nova exumação, foram levados a Gênova. No ano seguinte, em apoteose nacional, foram finalmente depositados em Roma, aos pés de um impressionante monumento erguido em homenagem à “Heroína dos dois Mundos”, no Monte Gianicolo, palco das lutas republicanas de 1849.

Esses foram alguns fatos históricos da biografia de Anita Garibaldi, que dão razão às constantes homenagens prestadas à “Heroína dos dois Mundos”, como foi carinhosamente conhecida.





Referência para o Texto:



Adaptação da leitura da síntese da biografia de Ana Maria de Jesus Ribeiro da Silva, feita pelo Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina — TCE-SC, José Nei Alberton Ascari, numa transmissão ao vivo realizada em 11 de agosto de 2021. Sessão especial comemorativa ao “Bicentenário do nascimento de Anita Garibaldi”. Disponível pela YouTube em: https://youtu.be/ENGhJLcNmQs


GALINO, Gaetano. https://web.archive.org/web/20090302091742im_/http://terrasdosul.pampasonline.com.br/terrasdosul_anitagaribaldi.jpg


POPINHAKI, Antonio Carlos. Revolução Farroupilha. A Batalha de Coritybanos. 2021 — Disponível na plataforma Amazon.com.br — https://www.amazon.com.br/Revolu%C3%A7%C3%A3o-Farroupilha-Antonio-Carlos-Popinhaki-ebook/dp/B09BBSHNVH/ref=sr_1_5?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=popinhaki&qid=1629980488&sr=8-5

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