Texto de Antonio Carlos Popinhaki
A história de Curitibanos, como povoado propriamente organizado, teve início por volta do ano de 1800. O primeiro registro é datado do ano de 1829, quando o Capitão José Ferreira Bueno, o fundador da cidade de Lagoa Vermelha, estando pela região dos campos dos Curitibanos, enviou uma correspondência às autoridades da vila de Lages, solicitando um padre para catequizar 29 indígenas, que manifestaram o desejo de permanecer no novo povoado dos Curitibanos.
Alguns anos mais tarde, encontramos uma nova alusão ao povoado dos Curitibanos nos registros das memórias de Giuseppe Garibaldi. Ele relatou que no início do ano de 1840, houve uma batalha entre os homens que estavam com ele, servindo na causa farroupilha, contra as forças do exército imperial, nas margens do rio Marombas. Garibaldi, no confronto, estava acompanhado da sua amada Anita, que cuidava do pequeno arsenal de munições. Ela era a responsável pelo abastecimento das armas do pequeno grupamento de farrapos ou farroupilhas, como foram chamados os gaúchos insurretos. Garibaldi referiu-se em suas memórias, à existência do povoado de Curitibanos, descrevendo alguns detalhes da região e das imensas árvores que existiam no local. Essa batalha de Curitibanos, como ficou conhecida na história do Brasil, também foi notícia em vários jornais do império na época. Dessa forma, o lugar chamado “Curitibanos”, chamou a atenção de muitas pessoas..
O local também foi palco de outros confrontos armados em diversas ocasiões da história. Como vimos anteriormente, houve no seu solo, a participação na Revolução Farroupilha. Anos mais tarde, por volta de 1893/1894, passaram pelo local, homens que fizeram parte da Revolução Federalista, deflagrada no estado vizinho do Rio Grande do Sul. Alguns líderes curitibanenses tiveram suas vidas em perigo, outros, foram decapitados (degolados) nos capões de mato que aqui existiam, como o da Estância Nova, na região Oeste.
A participação de Curitibanos mais marcante em meio às guerras e conflitos, foi certamente, no movimento social denominado por um lado, de Guerra Santa de São Sebastião, e por outro lado, de Guerra do Contestado. Isso ocorreu entre os anos de 1912 a 1916. Tudo teve início em solo curitibanense, pois em 1912, numa tentativa de capturar o monge José Maria, o Superintendente Municipal (espécie de prefeito), Francisco Ferreira de Albuquerque fez com que o mesmo monge fugisse com alguns homens da localidade de Taquaruçu, em direção aos campos do Irani (território paranaense), onde foi morto pelas forças da polícia do Paraná. Antes de morrer, prometeu retornar à vida em um ano, ou seja, em 1913. O povo começou a se aglomerar de tal maneira, que foi organizada a Irmandade Cabocla, com sede em Taquaruçu, depois, Caraguatá e outros lugares. Essa guerra civil dizimou entre 8 a 15 mil vidas de ambos os lados. A vila de Curitibanos foi incendiada em setembro de 1914 pelos homens da irmandade. As casas do local demoraram muitos anos para serem reconstruídas. Por décadas, o local não cresceu.
Houve um longo tempo em que os Coronéis da Guarda Nacional mandaram em Curitibanos, sendo alguns deles, da família “Almeida”. Houve também, revezamentos e rixas políticas. Por muitos anos, os gestores municipais serviram os interesses eleitoreiros dos seus padrinhos sentados nas cadeiras de governador, interventor federal no Estado e o próprio presidente da república. No meio desses interesses, algumas mortes por causas políticas foram registradas ao longo da história. Nos anos das décadas de 1930 a 1950, começaram a chegar pela região algumas famílias de italianos, como as famílias Dacol, Pellizzaro, Guidi, Agostini, Fontana, Rossa, Della Giustina, Gava, e outras. Essas famílias foram de vital importância para o desenvolvimento do local, pois com suas aptidões empreendedoras, começaram a construir engenhos, edifícios, casas comerciais e a explorar o que Curitibanos tinha de mais valioso, a madeira nativa.
Houve um problema muito sério que atrapalhou esses projetos, a falta de energia elétrica. Construíram usinas movidas a lenha e a carvão. Essas, não resolveram o problema. Depois, foi construída, em 1946, uma pequena hidrelétrica no Rio Marombas, a “Força e Luz Curitibanense”. Também não resolveu o problema da falta de energia elétrica em Curitibanos. Os anos avançavam rapidamente, estávamos na década de 1960, quando foi construída a Usina Hidrelétrica do Salto Pery (1965), no Rio Canoas, resolvendo em grande parte a demanda energética curitibanense. Então as madeireiras se proliferaram por todos os cantos do vasto território curitibanense. Começou a época da dizimação das florestas nativas. As famílias de madeireiros enriqueceram rapidamente com essa atividade. Enquanto poucos enriqueceram, a maioria da população era constituída de pobres operários. Foi designado um lugar para esses operários morarem, a chamada “Rua dos Pobres”, que mais tarde transformou-se no “bairro São José”.
O índice de Desenvolvimento Humano de Curitibanos, esteve por longos anos entre os piores do estado de Santa Catarina. A situação melhorou a partir da virada do milênio, quando o assunto foi amplamente debatido. A extração desenfreada da madeira proveniente da mata nativa foi proibida e a cidade diversificou a sua atividade econômica.
Hoje, o povo curitibanense tem orgulho do município. Os tempos difíceis ficaram para trás, registrados nos anais da história. Entretanto, não podemos esquecê-los, para podermos deixar um legado melhor para os nossos descendentes. Esse foi um pequeno texto, sucinto, mas que contém parte da história de Curitibanos, a cidade que é carinhosamente chamada de “o Coração do Estado de Santa Catarina”.
Muito obrigada pela leitura. Sou natural de Curitibanos, mas não moro na cidade desde 1 ano de idade. É muito importante pra mim entender minha ancestralidade.
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