quinta-feira, 13 de março de 2025

Histórias fúnebres

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Pedro Popinhaki, meu pai, trabalhava com o carro fúnebre da Prefeitura Municipal de Curitibanos nos anos de 1968 e 1969. Naquela época, não existiam empresas privadas especializadas em serviços funerários na cidade, e toda a demanda por velórios e transporte de defuntos era atendida pela administração municipal. A Prefeitura também era responsável pelos equipamentos de combate a incêndios, já que não havia um corpo de bombeiros militar como conhecemos hoje.

Meu avô materno, João Ferreira de Souza, era um próspero fazendeiro que vivia na localidade de Palmares, distrito de Campos Novos/SC (hoje, Brunópolis/SC). Ele faleceu em 1968, e após o velório e o enterro, seus bens foram divididos entre os herdeiros. Ele era dono de uma fazenda com um extenso pinhal de araucárias, árvores que, na época, tinham grande valor comercial. A terra em si não era tão valorizada; muitas vezes, as pessoas compravam a floresta e recebiam o terreno como um “brinde”. Foi assim que muitos proprietários rurais da região construíram seus patrimônios.

Antes da construção da BR-470, a estrada que ligava Curitibanos a Palmares (atual Brunópolis) oferecia uma vista impressionante das araucárias da fazenda do meu avô. As árvores centenárias eram majestosas, e essa imagem nunca saiu da minha memória, mesmo com o passar dos anos.

Quando meu avô faleceu, meu pai, que trabalhava na Prefeitura, conseguiu autorização para usar o carro fúnebre municipal para o transporte do corpo até o cemitério de Rondinha, mesmo sendo em outro município. Naquela época, os prefeitos tinham grande autonomia, e não havia um controle rígido sobre o uso dos veículos municipais. O carro fúnebre era uma pick-up Ford F-75, pintada de preto, com uma capota metálica adaptada para transportar o caixão. Os velórios eram realizados nas residências, uma prática comum na época.

Lembro-me vividamente do dia do enterro do meu avô. Eu estava no banco da frente, ao lado da minha mãe, enquanto meu pai dirigia o carro fúnebre. Ele chorava durante todo o trajeto até o cemitério, onde meu avô foi sepultado.

Pedro Popinhaki também tinha uma história engraçada envolvendo o transporte de defuntos. Certa vez, ele foi encarregado de buscar um corpo em uma localidade rural de Curitibanos, à noite. A estrada era precária, e a escuridão tornava a viagem ainda mais difícil. Durante o trajeto, a porta traseira da camioneta abriu-se sem que ele percebesse, e o caixão com o defunto caiu na estrada. Quando chegou à cidade, todos ficaram chocados ao descobrir que o corpo havia desaparecido. Tiveram que retornar pelo caminho para encontrar o caixão, que estava completamente destruído, e o defunto, bastante machucado. Esse incidente virou motivo de piada entre os amigos de Pedro, que brincavam sobre ele ter "perdido" um defunto durante o transporte.

Há relatos de que meu tio, João Popinhaki Sobrinho, também passou por uma situação semelhante, perdendo um defunto durante o transporte. Talvez os dois irmãos tenham vivido experiências parecidas, ou talvez haja alguma confusão nas histórias contadas por quem viveu naquela época. De qualquer forma, essas histórias fazem parte da memória da nossa família e da vida em Curitibanos naqueles anos.

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