quinta-feira, 2 de março de 2023

O HOSPITAL FREI ROGÉRIO


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


No dia 26 de fevereiro de 1939, sob a presidência de Felippe Granemann, houve a primeira reunião para a deliberação de atos e movimentos em função da construção de um hospital na cidade de Curitibanos. Segundo a Ata daquele encontro, o início da reunião foi às 15 horas. Estiveram presentes homens importantes, personagens que contribuíram, de certa forma, dentro das suas esferas de poder, com a construção do que hoje é o município de Curitibanos. Entre os citados, estavam Felippe Granemann, Napoleão Sbravatti, Osny Câmara da Silva, Faustino Sbravatti, Heraclides Vieira Borges, o então prefeito, Graciliano Torquato de Almeida, Ceslau Silveira de Souza, José Antônio de Mello, Luiz Dacol, Fioravante Ortigari, Anacleto Antunes de Souza, Alfredo Lemser, Henrique Coninck Junior, Walter Tenório Cavalcanti, João Pedro Carneiro, Antonio Francisco de Campos, Antonio Tenório Cavalcanti, Sebastião Calomeno e Teodoro França Pereira. Além desses, como disse, havia outros nomes com menor expressividade histórica e política.

A reunião foi conduzida pelo senhor Heraclides Vieira Borges, que explicou aos presentes a finalidade do encontro e por qual razão estavam reunidos os homens mais importantes de Curitibanos. Disse haver a necessidade de um movimento organizado que culminasse com a construção de um hospital para atender as necessidades dos munícipes. Uma Comissão Pró-Hospital foi constituída naquele instante. Previamente combinados, pela ordem, foram convidados a expressarem as suas opiniões e também argumentarem em favor do assunto, os senhores, Walter Tenório Cavalcante, Ceslau Silveira de Souza e Antonio Francisco de Campos. Esses, eram homens eloquentes e articulados, apresentaram os argumentos necessários e apelaram aos presentes para que se empenhassem em atender o primordial anseio da população curitibanense da época, que sofria muito pela falta de um local apropriado, que tivesse médicos, enfermeiros, ambulatórios e estrutura de atendimento e consequentemente, o acompanhamento dos enfermos.

A constituição da Comissão Pró-Hospital ficou assim: Presidente: Felippe Granemann, Vice-presidente: Napoleão Sbravatti, Secretário: Osny Câmara da Silva, Tesoureiro: Faustino Sbravatti, Procurador: Heraclides Vieira Borges, Vogais: Graciliano Torquato de Almeida, Ceslau Silveira de Souza, José Custódio de Mello, Artur Barth, Luiz Dacol, Fioravante Ortigari, Anacleto Antunes de Souza, Arno Hübbe, Alfredo Lemser, Henrique Coninck Junior, Walter Tenório Cavalcante, Antonio Francisco de Campos, João Pedro Carneiro, Teodoro França Pereira e Sebastião Calomeno. 

Nessa primeira reunião, ficou acertado que a diretoria da Comissão, composta pelo presidente, vice-presidente, secretário, tesoureiro e procurador, tinha como missão, sensibilizar e apelar aos munícipes qualquer tipo de auxílio para que o hospital fosse construído em Curitibanos.

A segunda reunião da Comissão organizada ocorreu em 17 de julho de 1939. Depois de vários assuntos preliminares, o que foi mesmo importante nessa, foi a elaboração de um requerimento ao senhor prefeito da época, o senhor Graciliano Torquato de Almeida, solicitando uma área de terras para a construção do hospital. Dessa forma, com uma área previamente escolhida e definida, o anseio e objeto da Comissão não ficaria mais no âmbito de projeto, no campo das ideias, mas sim, tomaria uma forma concreta. A área deveria ser grande suficientemente para a construção do prédio do Hospital, das dependências necessárias, como casa para isolamento, enfermaria, local para uso dos médicos e outras que se tornassem necessárias. Cópias do requerimento foram feitas, com o auxílio de papel carbono, muito utilizado na época, sendo arquivado na secretaria, como um importante documento. Esse requerimento seria a base para que a Comissão tivesse força, no sentido de conseguir atingir o objetivo proposto.

Há uma carta remetida para a Prefeitura de Curitibanos, em 5 de abril de 1940, pelo Engenheiro-Adjunto Isaías de Mello, de Florianópolis, que detalha o pedido da Comissão ao prefeito da época, de uma área de terras de 200 metros X 200 metros, totalizando 40 mil metros quadrados, para a construção de todas as edificações referentes ao hospital de Curitibanos. O prefeito informou à Comissão que o terreno pretendido, estava localizado numa parte plana, no alto de uma colina, que a área pleiteada e solicitada não poderia ser disponibilizada, como inicialmente queria a Comissão, pois havia ruas projetadas que futuramente seriam prejudicadas, além disso, uma área de 40 mil metros quadrados dentro da área urbana abrangeria outras ruas já existentes. Dessa forma, informou que poderia atender apenas com um terreno de 100 metros X 100 metros, totalizando assim, 10 mil metros quadrados (1 hectare). A Comissão insistiu com o pedido original, alegando a necessidade de construções de várias dependências: Uma área de isolamento, uma casa para uso do médico, um galpão para depósito, uma horta, um espaço para criação de galinhas, um jardim para recreio dos doentes, uma lavanderia e um necrotério. Alegaram, ainda, que os organizadores não tinham nenhum intuito de lucro. A prefeitura informou, em seguida, não possuir no município, tão grande área no perímetro urbano. Ainda informou à Comissão, não possuir em Curitibanos, no ano de 1939, nenhum hospital e nenhuma casa de saúde. Os doentes que precisavam de recursos hospitalares, eram levados para outros municípios distantes a mais de 100 quilômetros, como Caçador e Blumenau. Após vários cálculos e estudos, chegaram num consenso quanto ao tamanho da área para a construção do Hospital Frei Rogério.

Um ano depois, no dia 24 de julho de 1940, reuniram-se novamente para deliberar sobre os andamentos da construção do hospital na cidade de Curitibanos. O local do encontro foi numa das salas da Casa Paroquial, ao lado da Igreja Imaculada Conceição. Houve nova constituição de uma nova Comissão, incluindo o cargo de Presidente de Honra, dado ao senhor Salomão Carneiro de Almeida. Alguns outros nomes entraram para compor essa lista: O vigário da Paróquia, Frei Roque Saupp, Hugo Bernardoni, Salomão Carneiro de Almeida. Na ocasião, o Procurador Heraclides Vieira Borges prestou contas, fornecendo listas de donativos que estavam em seu poder, bem como os nomes das pessoas que fizeram as doações. Também foi apresentada uma lista das pessoas que estavam encarregadas de angariar doações.

No dia 12 de agosto de 1940, houve nova reunião. Ficou acertado, nessa, o nome do Hospital: se chamaria “Hospital Frei Rogério”, em homenagem ao antigo padre que trabalhou em Lages e Curitibanos na época do Conflito Social, denominado de Guerra do Contestado. A reunião, mais uma vez, ocorreu numa das salas da Casa Paroquial. O presidente da Comissão, Frei Roque Saupp convocou a reunião para dar ciência a todos, o teor de uma carta emitida pelo Procurador Heraclides Vieira Borges ao tesoureiro, o senhor Faustino Sbravatti. Nessa reunião não esteve presente o senhor Heraclides. A carta tinha como assunto principal, uma proposta feita pelo senhor Heraclides, proprietário de uma olaria na época, em Curitibanos, da entrega de 25.500 tijolos ou telhas, como pagamento à Comissão pelos valores recebidos por ele, da família Rauen e de mais alguns nomes da lista de doadores. Foi explicado posteriormente ao senhor Heraclides, também por carta, datada de 14 de agosto de 1940, que a Comissão aceitou a sua proposta e que a mesma, poderia fazer uso conforme fosse necessário do material recebido. Pelo que podemos deduzir, alguns doadores fizeram os seus donativos em espécie ao senhor Heraclides Vieira Borges, e esse, pagou à Comissão em tijolos ou telhas, pois era proprietário de uma olaria na cidade. Para minimizar ou não deixar que mal entendidos ocorressem, foi instituído nesse dia, o “Livro de Ouro”, onde todos os doadores para a construção do hospital, deveriam assinar, ao lado dos valores doados. Esse livro substituiu as várias listas existentes em posse dos responsáveis pelos recebimentos de doações. Foram autorizados aquisições de livros de talões para os responsáveis pela arrecadação de donativos.

Poucos meses após assumir a presidência da Comissão pró-hospital, o vigário de Curitibanos, Frei Roque Saupp foi transferido para ser nomeado vigário de Canoinhas, entregando, por escrito, uma carta de renúncia do cargo ocupado em Curitibanos. Os curitibanenses se reorganizaram com novos membros e interessados na construção do hospital. É importante aqui ressaltar, que havia, em Curitibanos, nos anos da década de 1930, um casal que mantinha uma casa na atual Rua Medeiros Filho, disponibilizada para atendimento aos enfermos pelo farmacêutico que atuava como médico na região, o senhor Alfredo Lemser. O nome do casal era Rosinha e Teodoro França Pereira. Havia no local, duas salas com camas, uma para parturientes, onde a senhora Rosinha atendia como uma habilidosa parteira da época, sempre auxiliada e sob orientação do farmacêutico. Na outra sala, o germânico farmacêutico atendia outros pacientes que apresentavam diversos sintomas.

No início da década dos anos 1930 atendia também em Curitibanos, de forma particular, o médico alemão Doutor Henrique Berger Filho num consultório estabelecido numa sala da sua residência. No mesmo ano de 1939, quando se deu início às conversações para a construção do Hospital em Curitibanos, chegou na cidade um médico formado, o Doutor José Macedo. Esse continuou o trabalho do senhor Alfredo Lemser, atendendo os doentes no mesmo local do casal França Pereira.

Em 1946, foi fincada e lançada a “Pedra Fundamental” para a construção do Hospital Frei Rogério, ficando as instalações prontas, poucos anos depois. Outro médico surgiu nos anais dos profissionais da saúde que passaram por Curitibanos, o Doutor Marcos Splitzer, que também atendeu a população curitibanense, ficando ele, na direção do hospital, por alguns anos.

No ano de 1953, as “Irmãs da Sagrada Família” assumiram o controle das edificações do Hospital Frei Rogério, que funcionou, como hospital, até a construção de um novo, em 10 de outubro de 1984, o Hospital Regional Doutor Hélio Anjos Ortiz.

No ano de 1959, o médico curitibanense, Doutor Altino Lemos de Farias, começou a exercer a sua profissão na sua terra natal. Ele contava que a instituição hospitalar era precária, com apenas 8 quartos, nenhum apartamento e 3 banheiros (masculino, feminino e infantil). Altino ocupou o cargo de Diretor do hospital. Através do seu trabalho, ampliou o estabelecimento, construiu quartos e deu condições para os funcionários trabalharem com dignidade. Quando entregou a direção do estabelecimento, ao mudarem para o novo hospital regional de Curitibanos, o edifício do antigo Hospital Frei Rogério tinha 160 novos leitos e bem acabados. Altino Lemos de Farias trabalhou arduamente como o principal médico de Curitibanos por longos anos. Ele contou que nunca recebeu dinheiro do Estado, todas as obras de reformas e ampliação do Hospital Frei Rogério foram custeadas pela sua própria competência em arrecadar fundos dos moradores da região.

No final dos anos da década de 1970, o então Secretário de Saúde do Estado de Santa Catarina era o médico curitibanense, Hélio Anjos Ortiz. No cargo, trabalhou com afinco para melhorar a estrutura da saúde pública em todas as regiões de Santa Catarina. Foi o responsável pela construção de um Hospital Regional para atender a demanda do Meio-Oeste catarinense. Graças aos esforços desse brilhante curitibanense, temos hoje o Hospital que leva o seu nome em Curitibanos, atendendo pacientes de dezenas de municípios.



Referências para o texto:


ALVES, Sebastião Luiz. Henrique Berger Filho. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/henrique-berger-filho.html


ALVES, Sebastião Luiz. Hospital Frei Rogério. Curitibanos memórias da nossa terra. Portal Facebook. On-line, disponível em: https://www.facebook.com/profile/100063625371539/search/?q=hospital


Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Livro n.º 157. Livro de Atas da Comissão para a construção do Hospital Frei Rogério.


POPINHAKI, Antonio Carlos. Alfredo Lemser. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2021/08/alfredo-lemser.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Altino Lemos de Farias. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2022/03/altino-lemos-de-farias.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Hélio Anjos Ortiz. Blog Curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/helio-anjos-ortiz.html

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