Texto de Antonio Carlos Popinhaki
O município de Curitibanos foi criado no ano de 1869 e instalado oficialmente em 7 de maio de 1873. Não era uma tarefa fácil manter o novo município. Os primeiros gestores tinham que lidar com impostos e taxas de moradores de uma grande área territorial. Havia a necessidade constante e, às vezes, pouco eficaz da presidência da Província. O município, quando foi criado, tinha uma extensão territorial consideravelmente grande, sendo os seus limites, a leste, com o Rio Canoas, Itajaí do Norte, subindo até o Rio Iguaçu. Ao norte, com o Rio Iguaçu e o território de Palmas, no Paraná. A oeste, com o Rio do Peixe e o território de Palmas, e ao sul, com o Rio Canoas e o Rio Uruguai. Notemos que as divisas, nas suas maiores extensões, eram os rios. Rios Canoas, Uruguai, do Peixe, Iguaçu e Itajaí do Norte.
Os rios sempre foram obstáculos naturais para os viajantes, principalmente, para os tropeiros que precisavam atravessá-los em locais apropriados, onde as águas eram rasas e quando as condições climáticas permitiam. Demorou muitos anos, desde que os primeiros caminhos foram abertos, para que as primeiras pontes fossem construídas. Os pequenos rios e riachos tiveram prioridade, mas os mais largos, sempre foram desafiadores. Os Rios Canoas e Marombas, os mais largos, só tiveram as suas primeiras pontes concluídas no século XX.
Em 1881, a administração do município de Curitibanos solicitou, por escrito, autorização ao Presidente da Província para explorar as atividades de travessia dos Rios Canoas e Marombas. Depois de várias discussões, pedidos de vistas e suspensões dos pareceres, foi concedido, para aumentar a arrecadação do município, explorar as atividades de travessia dos rios, nos chamados “passos”, locais apropriados, com águas rasas. Em 21 de agosto de 1885, a Câmara de Curitibanos aprovou a contratação de uma pessoa para cuidar do passo do Rio Marombas, na estrada que ligava o município a Campos Novos.
Esse passo do Rio Marombas, foi palco, em 1840 da batalha de Curitibanos, na Revolução Farroupilha, onde estiveram presentes Giuseppe e a sua futura esposa Anita Garibaldi. O embate colocou Curitibanos nos anais da história do Brasil.
Na era republicana, os gestores de Curitibanos começaram a construir balsas em locais mais profundos e explorar a travessia de pessoas, cobrando uma taxa, que era revertida aos cofres do município. No ano de 1903, encontramos nos editais da Superintendência, chamamento público para a construção de pontes de madeira nos pequenos rios do interior de Curitibanos. Em 1936 foi construído uma balsa para atender o fluxo de veículos que começava a ficar intenso, com o advento dos automóveis e dos primeiros caminhões.
Do outro lado do Rio Marombas, já na metade do século XX, encontrávamos as comunidades de Marombas e Palmares, também denominados de “Picada do Marombas”, porque era o caminho que ligava Curitibanos a Campos Novos. Em 1948 chegaram as primeiras famílias que se estabeleceram e formaram as localidades, uma próxima do “passo” do Marombas e a outra, um pouco mais à oeste. Em 1995, Palmares se emancipou de Campos Novos com o nome de Brunópolis, e a localidade de Marombas virou Distrito do novo município.
No ano de 1951, o Deputado Walter Tenório Cavalcanti, de Curitibanos, fez uma indicação para a construção de uma ponte sobre o Rio Marombas, na estrada que ligava Curitibanos a Campos Novos. Ele destacou que a obra seria considerada uma importante benfeitoria para os dois municípios, pois facilitaria o trânsito e as comunicações dentro e fora do estado, especialmente com o vizinho estado do Rio Grande do Sul. Após as deliberações corriqueiras, a indicação foi aprovada. O governador do Estado, naquela época, era o senhor Irineu Bornhausen, da União Democrática Nacional — UDN.
O governador Irineu Bornhausen fez uma administração transparente, deixando claro aos catarinenses as suas centenas de obras públicas, como a abertura e a conservação de novas rodovias, pontes, abertura de terras destinadas à colonização, distribuição de sementes para a agricultura e a cessão de máquinas para os agropecuaristas.
No início de 1952, ao prestar contas dos trabalhos executados durante a sua gestão no ano de 1951, anunciou a construção de 24 novas pontes de grande porte, entre elas, estava a tão sonhada ponte de concreto armado sobre o Rio Marombas, conforme a indicação do Deputado Walter Tenório Cavalcanti. Um ano depois, em janeiro de 1953, o governador explicou aos catarinenses que a abundância de pontes era uma velha aspiração da população, ele não estava fazendo mais nada do que atender, em forma de concreto armado, as obras que seriam amplamente utilizadas pela própria população catarinense.
O local escolhido para a construção da ponte de concreto armado, conforme o governador difundiu amplamente em seus discursos, foi um lugar raso, onde antes, havia o “Passo do Marombas”, local de fácil construção, apesar de ter uma extensão de quase 100 metros. Havia antes, uma ponte provisória de madeira, que servia aos motoristas que trafegavam no sentido leste-oeste ou vice-versa. Essa ponte foi destruída para a construção da nova obra. A trafegabilidade foi desviada para outro local, onde havia uma balsa para atravessar os veículos. No dia 31 de maio de 1954, o deputado curitibanense Walter Tenório Cavalcanti usou a tribuna da Assembleia Legislativa. Ele apresentou um requerimento aos demais colegas, para referendar o documento, para ser encaminhado ao governador do estado, fazendo-o sentir a necessidade da reconstrução de uma ponte provisória sobre o Rio Marombas. Segundo o deputado, o tráfego era intenso naquela rodovia estadual e os proprietários das indústrias das duas cidades estavam enfrentando transtornos, isso, até que a nova ponte fosse concluída. O requerimento foi aprovado.
Em 12 de fevereiro de 1955, numa nota da página 6 do Jornal O Estado, havia uma crítica ao governador Irineu Bornhausen, afirmando que ele havia construído duas pontes sobre o Rio Marombas, que uma delas, as águas levaram em época de chuvas. A ponte destruída era a de madeira e considerada provisória. Não causou grandes prejuízos, mas serviu de estopim para os adversários políticos espalharem pelo estado, mediante notas em jornais que o governador não estava construindo sólidas pontes.
No dia da inauguração da nova ponte, estavam presentes várias autoridades convidadas ou não. Políticos das duas cidades beneficiadas diretamente com a obra e de demais regiões do estado. Discursaram vários deles. No jornal o Estado, de 26 de janeiro de 1955, na primeira página, tem uma frase do discurso do então vereador por Curitibanos, José Bruno Hartmann que disse: “A oposição sistemática, a oposição cega e apaixonada, oposição mantida só para combater o governo e atrapalhar-lhe o trabalho, é um câncer na vida social e política de um povo”. A ponte foi inaugurada no dia 22 de janeiro de 1955, num sábado.
No momento da inauguração, estava presente no ato, o senhor Leovegildo José de Freitas, cantor, compositor e trovador gaúcho, conhecido popularmente pelo nome artístico de Gildo de Freitas. Na época, ele tinha 36 anos e ainda não era muito conhecido ou popular como viria a se tornar. Com um dom extraordinário para formar frases e rimas em trovas, numa oportunidade que lhe surgiu, pegou uma gaita e começou a tocar e a cantar de improviso perante o público presente. Nos seus versos, ele pedia uma gaita nova para o governador Irineu Bornhausen. Todos ouviram e presenciaram a cena, testemunharam o pedido em verso e a desfaçatez do governador, dando a entender que não estava prestando atenção no cantor. Ocasionalmente, Gildo de Freitas insistia em pedir a gaita, dentro dos seus versos improvisados e rimados. Como aqueles pedidos começaram a incomodar Irineu Bornahusen, num determinado momento, ele acenou ao artista que atenderia o seu pedido. Depois, se Irineu presenteou Gildo de Freitas com a gaita, ninguém sabe, é um mistério, ainda mais que nenhum dos dois era da região de Curitibanos.
A primeira página do jornal Correio do Norte, edição de 6 de fevereiro de 1954, estampava que o governador Irineu Bornhausen, em três anos de mandato, entregou 33 pontes de cimento armado, e que tinha mais 15 em construção, quase prontas e mais 9 iniciadas naquele ano de 1954, totalizando um total de 57 pontes de cimento armado no seu mandato. O jornal ainda fazia uma comparação entre as obras de Irineu Bornhausem e as de Aderbal Ramos da Silva, seu antecessor.
Aquela ponte de concreto armado serviu muito bem à população catarinense até o ano de 1972, quando foi construída uma nova ponte mais ao norte, na então novíssima rodovia BR-470. No ano de 2022, com a inauguração da Usina Hidrelétrica de São Roque, no Rio Canoas, depois que o Rio Marombas despeja suas águas, foi preciso construir duas novas pontes, mais altas, porque as águas do lago da represa chegaram até a BR-470. Uma dessas novas pontes fica ao lado da antiga ponte, inaugurada em 1955. Para surpresa de todos, a velha ponte continua firme e resistente, ao lado na nova. Na BR-470, também foi construída uma nova ponte, porque a que havia sido inaugurada em 1972, também ficou baixa para a quantidade de água represada.
Referências para o texto:
Brunópolis, jovem e próspera. Jornal Correio do Norte. Canoinhas, sexta-feira, 26 de janeiro de 2007. Caderno de Turismo. Edição n.º 2769, p. 6.
Com informações do senhor Aldair Goetten de Moraes.
Com informações de José Antonio Ribeiro Maciel.
Jornal A Regeneração. Desterro, quinta-feira, 17 de fevereiro de 1881. Ed. n.º 14, p. 2.
Jornal A Regeneração. Desterro, domingo, 10 de abril de 1881. Ed. n.º 27, p. 2.
Ponte Velha e Ponte Nova. — Distrito de Marombas. Portal de Turismo de Brunópolis. On-line, disponível em: https://turismo.brunopolis.sc.gov.br/o-que-fazer/item/ponte-velha-e-ponte-nova-distrito-de-marombas
Prestando Contas. Jornal A Gazeta. Florianópolis, 1.º de agosto de 1936. Ed. 581B, p. 5.
“No meu governo não há lugar para traficantes do dinheiro público”. Jornal A Nação. Blumenau, domingo, 1.º de março de 1953. Ano IX, n.º 223, p. 1.
Prestou contas ao povo catarinense, o governador Irineu Bornhausen. Jornal A Nação. Blumenau, 26 de fevereiro de 1954. Ed. 407, p. 3.
Parecer. Jornal A Regeneração. Desterro, domingo, 27 de março de 1881. Ano XIII, n.º 24, p. 1.
Pontes. Jornal Correio do Norte. Canoinhas, 6 de fevereiro de 1954. Ano 7, n.º 290, p. 1.
Importantes obras públicas a serem inauguradas este mês assinalarão o 4.º aniversário do fecundo Governo de Irineu Bornhausen. Jornal Correio do Norte. Canoinhas, 8 de janeiro de 1955. Ano 9, n.º 333, p. 1.
Ampla e leal prestação de contas do governador Irineu Bornhausen. Correio do Norte. Canoinhas 16 de fevereiro de 1952. Ed. 0193, p. 3.
Rodovias. Jornal Correio do Povo. Ano XXXII, n.º 1680. Jaraguá do Sul, domingo, 17 de fevereiro de 1952, p. 1.
Construção de Pontes. Correio do Povo. Jaraguá do Sul, domingo, 25 de janeiro de 1953. Ano XXXIII, n.º 1727, p. 1.
A Sessão de ontem. Jornal O Estado. Florianópolis, terça-feira, 1.º de junho de 1954. Ed. 11905, p. 6.
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