sexta-feira, 17 de março de 2023

A ESTAÇÃO RODOVIÁRIA MUNICIPAL DE CURITIBANOS



Texto de Antonio Carlos Popinhaki


A história da antiga Estação Rodoviária Municipal “Doromeu Bossardi” de Curitibanos passa pelo progresso da cidade no século XX. A vila estava na rota dos principais centros urbanos, apesar de nunca a estrada de ferro ter chegado, de fato, por essas paragens. Em certa época, era o limite entre o progresso e o sertão. Noutra, era o centro, e representava muitas oportunidades, principalmente para os aventureiros e as pessoas ligadas ao ramo madeireiro. Curitibanos era um polo madeireiro, com suas imensas florestas de araucárias, exploradas ininterruptamente por gananciosos que vieram de todos os cantos do sul do Brasil, com seus engenhos e serrarias, sem nenhuma concepção de preservação, mas sim de exaurir os recursos naturais que parecia-lhes, nunca findar. Dessa forma, Curitibanos tornou-se fornecedora de madeira para a construção civil de várias cidades, como Curitiba, São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

Nos anos da década de 1950/1960, em certas ocasiões, faltavam leitos nos parcos hotéis da cidade, para acomodar os negociantes e pessoas ligadas ao ramo da madeira. Eram vendedores de peças, máquinas para o setor e compradores de madeira serrada. Dessa forma, chegavam de ônibus e havia, também, os que se aventuravam com seus automóveis pelas precárias rodovias que ainda levariam décadas para serem pavimentadas.

O ônibus passou a ser um meio de transporte de muita significância em Curitibanos. A Empresa Reunidas S.A. se autodenominava “A empresa de integração catarinense”. Por muitos anos, foi a única empresa que dominou as linhas intermunicipais e interestaduais que partiam, que chegavam e que passavam por Curitibanos. A primeira rodoviária foi no antigo Palace Hotel, local apropriado para os viajantes se hospedarem. Uma época de oportunidades para o setor hoteleiro, pois o viajante desembarcava e, sem esforço, já estava acomodado no hotel.

Essa rodoviária funcionou no Hotel Palace até o ano de 1956. Entretanto, preciso deixar claro, que empresas de transporte de pessoas, atuaram em Curitibanos desde os anos da década de 1930. Em 1957, mudou-se para uma região mais elevada, na Avenida Salomão Carneiro de Almeida, onde funcionou por 15 anos. O local foi, também, o lar da tradicional família Tortato. Depois, funcionou temporariamente em frente, onde hoje está localizado o Posto Capital. Todos os locais eram privados e particulares. A prefeitura de Curitibanos até o início da década de 1970, não possuía um terminal rodoviário na cidade, sabendo que o número de passageiros era grande, deixava de arrecadar a taxa de embarque dos mesmos, lembrando ainda, que o local era considerado o centro do estado de Santa Catarina, portanto um local estratégico para várias oportunidades. Naqueles mesmos anos, de 1970 até 1974, houve o asfaltamento da BR-470, interligando o litoral até a BR-282, que vinha do Oeste do estado. Dessa maneira, tornou-se possível viajar pelo estado de Santa Catarina, por rodovias novas e asfaltadas de Leste para o Oeste e vice-versa. No final da década de 1960, houve o asfaltamento da BR-116. Curitibanos estava bem servida, bem localizada e necessitava urgentemente de uma Estação Rodoviária mantida pelo setor público. A empresa Reunidas S.A. cobrava insistentemente do prefeito, Dr. Hélio Anjos Ortiz, uma solução, pois queria e necessitava aumentar as suas linhas municipais e intermunicipais que partiam, passavam ou chegavam em Curitibanos.

Em 1971, foi anunciada a construção do novo Terminal Rodoviário, que seria conhecido popularmente como a “Estação Rodoviária Municipal de Curitibanos”. Inicialmente, foi anunciada a sua inauguração para setembro de 1972. Por problemas corriqueiros do setor público, a empresa construtora, não conseguiu atender o prazo. Numa das suas últimas atividades como prefeito de Curitibanos, no dia 28 de janeiro de 1973, sob grande número de pessoas, curiosas ou não, com a presença de vários ônibus da frota da empresa Reunidas S.A., foi inaugurada pelo então prefeito, Doutor Hélio Anjos Ortiz, na esquina das ruas Coronel Vidal Ramos com a Heraclides Vieira Borges, a Estação Rodoviária Municipal “Doromeu Bossardi”. Uma justa homenagem a um empresário que dentro das suas limitações, proporcionou o progresso para a cidade a partir da década de 1950. Estiveram na inauguração, várias pessoas importantes da história local: Roberto Agostini, Leoniza Carvalho Agostini, Onofre Santo Agostini, Hélio Anjos Ortiz, Felipe Abrahão Neto, Rogério Lima, João Brás Peters e convidados. O padre que proferiu a bênção do local, foi o Frei Valmor Cattoni, que no dia 13 de agosto de 1972 tinha sido nomeado o Vigário Coadjutor de Curitibanos. 

Em 1973, assumiu, em Curitibanos, o prefeito Onofre Santo Agostini que, com o pessoal competente, sob sua supervisão, administraram o local, mantendo as dependências limpas e organizadas. Semanalmente, o caminhão-pipa da prefeitura abastecia na cachoeira do Rio Pessegueirinho, na Cascatinha. Os empregados da prefeitura, lavavam, inclusive, o pátio onde os ônibus manobravam, para dar a aparência de limpeza que o local exigia. Afinal, passavam pela cidade, muitos viajantes que não desembarcavam, mas que percebiam a diferença entre a Estação Rodoviária de Curitibanos e as de outras cidades.

Havia no local, bar, lanchonete, restaurante, salas locadas com diversos fins comerciais, banca de revistas, serviço de som, que avisava aos passageiros sobre os horários de chegada e partida dos ônibus. Ponto de táxi, com vários automóveis que estavam no local 24 horas, inclusive, nos finais de semana. Por muitos anos, alguns personagens ficaram conhecidos na antiga rodoviária. Tinha um que se chamava Assis, que era conhecido pelos motoristas como o “Assis da Rodoviária”. Com ou sem a anuência dos motoristas, pegava carona com os ônibus da Reunidas, indo desembarcar noutras cidades. Depois de um tempo, voltava para Curitibanos. Ele, também, pedia cigarros aos passageiros e ficava irritado com alguma palavra ou cara feia, quando percebia que o passageiro era fumante e negava-lhe o cigarro. Ficava o dia todo circulando na Rodoviária. No local, ainda tinha o Valdemar que circulava procurando algo que pudesse ser vendido para a reciclagem. Ele ainda vive em Curitibanos, com seus cachorros que o seguem pelas ruas centrais. Mais tarde, houve, onde está localizada a Biblioteca Municipal Professor David Novak, salas que funcionaram como Circunscrição da Junta Militar, do PROCON, e outros órgãos cedidos pela Prefeitura Municipal de Curitibanos.

Em 2008, um novo terminal rodoviário foi inaugurado em Curitibanos sob a gestão do então prefeito Wanderley Teodoro Agostini, na Avenida Lions. Recebeu o mesmo nome da antiga: Estação Rodoviária Municipal “Doromeu Bossardi”. O ato de inauguração teve a presença do então Deputado Onofre Santo Agostini e do Governador do Estado de Santa Catarina, o senhor Luiz Henrique da Silveira. As antigas instalações do antigo terminal foram reestruturadas e transformadas em Terminal Urbano. Recebeu o nome de Terminal Urbano Ulysses Gaboardi.

Numa espécie de contramão do progresso, nas últimas décadas, os passageiros minguaram e os ônibus rodavam, aparentemente, mais vazios. Várias empresas de transporte rodoviário de pessoas entraram em falência ou recuperação fiscal, inclusive, a empresa Reunidas S.A., que ficou por sete anos, tentando se recuperar.



Referências para o texto:


Curitibanos inaugura em setembro de 1972. O Estado. Ano 58, n.º 16937 - Florianópolis, domingo, 16 de julho de 1972, p. 7.


Frei Valmor Cattoni. On-line, disponível em: https://franciscanos.org.br/quemsomos/inmemoriam/falece-frei-valmor-cattoni-em-rodeio/#gsc.tab=0


Curitibanos — Lei n.º 4311/2008, de 18 de dezembro de 2008. Dispõe sobre o funcionamento da Estação Rodoviária Municipal “Doromeu Bossardi”.


Placa da inauguração, datada de 28 de janeiro de 1973, localizada nas dependências da antiga Estação Rodoviária Municipal “Doromeu Bossardi”.


POPINHAKI, Antonio Carlos. Hélio Anjos Ortiz. Blog curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/helio-anjos-ortiz.html




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