Texto de Antonio Carlos Popinhaki
A história do município de Curitibanos está profundamente ligada à trajetória da Igreja Católica no sul do Brasil. Segundo os registros encontrados na página 5 do Histórico da Diocese de Lages, há informações sobre a chegada dos primeiros religiosos ao Brasil logo nos primeiros anos após o descobrimento. Por muitos anos, toda a região sul permaneceu em litígio entre Portugal e Espanha devido ao Tratado de Tordesilhas, o que retardou o estabelecimento da Igreja Católica no território. Esse marco só foi alcançado com a construção do “Caminho dos Conventos” ou “Estrada dos Conventos” em 1728, por ordem do governador de São Paulo, Antonio da Silva Caldeira Pimentel, que ligou São Paulo ao Rio Grande do Sul.
Com a abertura dessa via, outras rotas foram traçadas, impulsionadas pela abundância de gado na região. A estrada foi fundamental para o abastecimento dos estados centrais do Brasil e também fomentou a atividade tropeira, que se destacou pelo transporte de mulas para a feira de Sorocaba e o interior de Minas Gerais, regiões conhecidas pela extração de pedras preciosas e ouro.
Os tropeiros foram acompanhados por padres que se aventuraram pelos sertões. A escritora curitibanense Zélia de Andrade Lemos, em seu livro “Curitibanos na História do Contestado”, relata que, em 1737, o padre Diogo Soares elaborou um mapa detalhado do “Caminho das Tropas”, também conhecido como “Estrada das Tropas”. Em 1766, o bandeirante António Correia Pinto de Macedo, capitão-mor do Sertão de Curitiba, fundou uma aldeia na região que hoje corresponde ao Planalto Catarinense, sob a proteção do Hábito de Cristo. No ano seguinte, 1767, chegaram ao local os padres franciscanos Tomaz de Jesus e Camilo da Natividade Teixeira, e foi criada a paróquia “Nossa Senhora dos Prazeres das Lajens”.
A partir da fundação do vilarejo de Lages, fazendeiros portugueses e seus descendentes se estabeleceram na região como latifundiários. Muitos deles eram tropeiros e requisitaram terras devolutas da província, onde construíram suas fazendas e desenvolveram a pecuária, com destaque para a criação de gado da raça Franqueiro, que depois ficou também conhecida como “Crioulo Lageano”.
Os primeiros padres franciscanos Tomaz de Jesus e Camilo da Natividade Teixeira foram os primeiros a pastorear o Planalto Catarinense. No campo de trabalho deles foi incluído o Caminho dos Curitibanos, onde mais tarde se desenvolveria a atual cidade, a partir de uma feitoria pertencente aos irmãos Dias. Esse local servia como ponto de descanso para os tropeiros e também como uma casa de comércio, atendendo às necessidades de quem passava por Curitibanos. Por volta de 1800, começou a se formar um pequeno povoado no alto de uma coxilha (pequena elevação), local onde hoje está situada a Praça da República, em Curitibanos. Esse assentamento inicial deu origem ao que mais tarde se tornaria uma comunidade organizada. Em 1851, a região foi oficialmente estabelecida como distrito, recebendo o nome de “Districto dos Curitybanos e Campos Novos Reunidos”, uma denominação que refletia a união das áreas de Curitybanos (referência aos pinheiros, ou "curis", da região) e Campos Novos (alusão aos campos abertos característicos da localidade).
Um marco significativo ocorreu em 22 de março de 1864, com a promulgação da Lei Provincial n.º 535, que elevou o povoado à categoria de Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Curitibanos. Essa lei garantiu à localidade o direito de demarcar seu território e estabelecer infraestruturas essenciais, como uma praça, uma igreja, um cemitério e uma casa paroquial, consolidando a estrutura administrativa e religiosa da comunidade. Essa medida foi crucial para o desenvolvimento da região, preparando o caminho para sua emancipação política.
Finalmente, em 11 de junho de 1869, por meio da Lei Provincial n.º 626, Curitibanos tornou-se um município independente, desvinculando-se de Lages. O Coronel Theodoro Ferreira de Souza foi nomeado como o primeiro mandatário e Juiz Municipal, marcando o início da autonomia administrativa da cidade.
Essa trajetória, desde o pequeno povoado no alto da coxilha até a emancipação como município, reflete o crescimento e a organização progressiva da região, destacando a importância das leis provinciais e da unificação territorial para o desenvolvimento de Curitibanos.
Segundo Frei Valentim Tambosi, em seu livro Franciscanos em Curitibanos, os primeiros padres católicos chegaram à região de Curitibanos em 1864, com a fundação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição de Curitibanos. Na época, o território ainda pertencia à jurisdição de Lages.
A data da chegada dos padres e o início do serviço católico em Curitibanos apresenta algumas divergências. Segundo registros, a construção da primeira igreja no povoado teria começado um ano antes, em 1863. Essa informação foi publicada por Francisco Ferreira de Albuquerque no jornal “O Trabalho” em 1907 e replicada em uma edição do jornal “Correio dos Campos” de 1952. O fragmento impresso encontra-se no acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza.
O edifício de madeira que abrigou a primeira igreja católica construída em Curitibanos serviu aos padres e à população até o ano de 1914. Durante esse período de 51 anos, as atividades religiosas foram compartilhadas entre os fieis de Curitibanos e de Campos Novos, sob a supervisão e coordenação dos padres de Lages.
Nos escritos de Frei Valentim (Tambosi, 1993, p. 11), consta que “o primeiro vigário, um italiano, se chamava Braz Grassano”. Não se sabe por quanto tempo o padre Braz esteve à frente da paróquia. Ele era meticuloso em seus registros de batismos, casamentos e ordenanças. Contudo, seus livros foram roubados, e, mesmo com a ajuda de um delegado, os registros não foram recuperados, privando-nos de informações valiosas sobre as datas e os eventos de sua atuação em Curitibanos.
O Padre Braz foi substituído pelo Padre Gregório Fernandes Villanueva em 24 de dezembro de 1875. Frei Valentim, em seus escritos, questiona o motivo dessa substituição. Chegaram ao conhecimento do Bispo do Rio de Janeiro e de Santa Catarina, Dom Pedro Maria de Lacerda, rumores de que um padre no Planalto Catarinense tinha família. Embora o verdadeiro alvo fosse o padre de Lages, protegido do Imperador e, portanto, intocável, as suspeitas recaíram sobre o Padre Braz. Apesar de protestar sua inocência, com o apoio do vigário de Lages, ele teve que deixar o cargo. Braz partiu para a Europa com seu irmão, também sacerdote, que atuava no Rio Grande do Sul, e nunca mais se teve notícia dele.
Até 1878, todos os batismos foram realizados e assinados pelo Padre Gregório Fernandes Villanueva. Após esse período, devido à doença do padre, as funções passaram ao vigário de Campos Novos, Padre Tomás Sobrinho. Padre Gregório sofria de hidropisia, também conhecida como edema, o que dificultava muito a sua locomoção. Ele faleceu em 3 de dezembro de 1885, conforme atestado de óbito, e foi enterrado pelo pároco de Lages.
A partir do início do ano de 1880, missionários jesuítas começaram a auxiliar no trabalho religioso na região. Esses missionários percorreram os vastos territórios do Planalto Serrano Catarinense. Nos dois primeiros anos da década de 1880 do século XIX, chegaram dois missionários jesuítas: Padre Augusto Sevanzini e Padre João Maria Cybêo. Eles percorreram diversos locais da paróquia, pregando missões e administrando sacramentos.
Assim, oficialmente, a Paróquia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Curitibanos foi criada em 24 de dezembro de 1875. O Padre Gregório Fernandes Villanueva, de nacionalidade espanhola (natural da Galícia), foi o primeiro pároco da paróquia.
Abaixo, segue uma pequena relação dos primeiros batismos e casamentos registrados nos documentos originais da paróquia:
1.º Batismo: Leonardo, batismo realizado em 1.º de janeiro de 1876. A criança, nascida em outubro de 1875, era filha da escrava Antonia, a serviço de Ivencia Ferreira de Souza. Os padrinhos foram Elias Antônio Ferreira e Florinda Bernardina de Souza. O celebrante foi o padre Gregório Fernandes Villanueva.
1.º Batismo de pessoa branca: Olinda, batizada em 26 de dezembro de 1875, nascida em 3 de maio de 1875, filha de Salvador Inácio Pereira e Maria Rodrigues França. Os padrinhos foram Manoel Rodrigues França e Maria Custódia.
1.º Casamento: Antonio Rodrigues e Jacinta Maria dos Santos, realizado em 9 de janeiro de 1876.
Entre os documentos preservados no arquivo paroquial, há o registro de uma doação de uma estátua de madeira, medindo quatro palmos e meio, vinda de Portugal. Os doadores foram Fioravante José Alzerino Gondim e Maria Delfina da Silva Coelho. Essa doação, datada de 1.º de dezembro de 1885, foi acompanhada de um documento solene, indicando sua importância. A estátua, que representava Nossa Senhora de mãos postas com anjinhos aos pés, serviu como padroeira da igreja. Originalmente, tinha uma coroa de filigranas de ouro, que foi roubada em 1938.
Mais tarde, a estátua foi substituída por uma de argila, com 1 metro de altura, que permanece no altar-mor até hoje. Em 1961, Frei Edgar Loers, O.F.M., reconhecendo o valor artístico da antiga imagem de madeira, removeu a tinta colorida aplicada posteriormente, deixando-a com sua cor natural. A estátua original ainda é usada nas coroações de Nossa Senhora e está guardada na casa paroquial.
Curitibanos é uma das mais antigas paróquias do Planalto Catarinense. Em 1864, foi criado o Distrito de Curitibanos, que pertencia então a Lages. Posteriormente, em 11 de junho de 1869, o Distrito foi elevado à categoria de município.
A primeira igreja (prédio) de Curitibanos foi construída, provavelmente, por ocasião da criação da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição dos Curitibanos, em 1864. Conforme relato de Frei Valentim Tambosi, “quando os franciscanos chegaram à região, já existia uma igreja simples, sem bancos, utilizando garrafas e latas revestidas de papel como vasos. Com o tempo, a igreja passou por várias reformas e ganhou um altar”.
O Padre Tomás Sobrinho atuou em Curitibanos até 1894, já na era republicana. Em 1895, com a instalação definitiva dos padres franciscanos em Lages, os trabalhos em Curitibanos passaram a ser realizados remotamente. Naquele ano, Frei Rogério Neuhaus celebrou em Curitibanos 118 batismos e 26 casamentos.
Em 15 de fevereiro de 1896, o vigário Herculano Limpinsel foi nomeado para a vila de Curitibanos. A situação era complicada e desafiadora para os padres, principalmente por se tratar de uma região de sertão e de difícil acesso. Por essa razão, eles se mudaram para a região de Blumenau, deixando em Lages Frei Rogério e Frei Redempto Kullmann.
Finalmente, em 24 de julho de 1900, chegou a Curitibanos o novo vigário, Frei Osvaldo Schlenger, acompanhado de seu colega, Frei Willehael Haess. Como a casa paroquial ainda não estava pronta, eles se hospedaram provisoriamente na residência de Cândida Hoefling. Nesse período, Frei Osvaldo solicitou à superintendência um pedaço de terra para a construção de uma horta e de um potreiro que consistia num terreno cercado utilizado principalmente para o pasto de animais de grande porte, como bovinos (vacas, bois e bezerros) e equinos (cavalos, éguas e potros). No entanto, ele também foi usado para outros animais de criação, como ovinos (ovelhas) e caprinos (cabras). A doação foi assinada pelo coronel Henrique Paes de Almeida (Sênior). A solicitação do terreno para a construção da casa paroquial havia sido feita em 1899 e já tinha sido aprovada, pois, ao chegar em Curitibanos, Frei Osvaldo encontrou a casa paroquial em fase de construção.
No início do século XX, a presença franciscana em Curitibanos, ganhou um importante marco com a fundação da Casa Franciscana de São Francisco Solano em 1900. Essa instituição facilitou o trabalho missionário na região, fortalecendo a atuação dos franciscanos na evangelização e no apoio às comunidades locais. No ano seguinte, em 1901, a Missão dos Franciscanos Alemães foi elevada à condição de Província Independente da Imaculada Conceição do Brasil, consolidando a autonomia e a expansão da ordem franciscana no país.
A escolha do nome da casa franciscana homenageia São Francisco Solano (1549–1610), um frade franciscano e missionário espanhol renomado por seu trabalho evangelizador na América do Sul. Conhecido como o "Apóstolo da América", ele dedicou sua vida a espalhar o cristianismo entre os povos indígenas e colonos em países como Peru, Argentina, Paraguai e Bolívia. Sua habilidade de comunicação, compaixão pelos pobres e milagres atribuídos a ele fizeram-no uma figura venerada, sendo posteriormente canonizado pela Igreja Católica em 1726. São Francisco Solano é considerado padroeiro de várias cidades e dioceses na América Latina, simbolizando a dedicação missionária e a fé católica no continente.
A fundação da Casa Franciscana em Curitibanos e a elevação da missão à província independente refletem a importância do legado de São Francisco Solano e o compromisso dos franciscanos em continuar sua obra de evangelização e serviço às comunidades, especialmente no sul do Brasil.
Apesar das limitações, em 1901 foi construída uma sacristia, e, aos poucos, os elementos necessários para as atividades sacerdotais foram sendo providenciados. No ano seguinte, o altar-mor foi reformado e pintado, e dois altares laterais foram adicionados: um em honra ao Sagrado Coração de Jesus e outro ao Senhor Bom Jesus. Em 1906, Frei Columbano Cremer, um marceneiro e escultor renomado, talhou um novo altar-mor em Blumenau. No mesmo ano, chegaram da Alemanha as estátuas do presépio, que encantaram os fiéis durante as celebrações natalinas. Em 1907, Frei Rogério construiu uma pequena torre, financiada por doações, e adquiriu sinos para a matriz. Em 1908, foram instalados bancos e uma nova pia batismal, complementando as melhorias no espaço.
Em 1903, os padres abriram uma escolinha paroquial, sob a direção do professor Claudino da Rosa, um órfão educado pelos franciscanos de Lages, que rapidamente conquistou a estima da comunidade. A escolinha, que começou com 16 alunos, em pouco tempo chegou a 32 matriculados (Valentim, 1993, p.15).
Essa escolinha paroquial de Curitibanos recebeu o nome de “Colégio São José” e enfrentou dificuldades no final de 1907, quando o professor Claudino da Rosa adoeceu e precisou se afastar. Em 1908, a direção ficou a cargo do Padre Menandro Kamps, que permaneceu até 1909, quando foi transferido para Lages. A escola, então, passou a ser conduzida pelo professor Luiz Schmidt, contratado em Florianópolis. No entanto, ele não se adaptou ao local e logo se mudou para Gaspar. Em seguida, João de Matos foi contratado como professor, mas houve reclamações, pois, segundo registros antigos, ele “parecia entender pouco de ensino”. Conforme relatos de Frei Valentim Tambosi, “a escolinha voltou a aprumar-se quando o professor Eduardo do Amaral assumiu, alcançando 74 alunos em 1911”.
A primeira residência dos franciscanos em Curitibanos começou a ser construída em 1900, em uma grande casa de madeira localizada no local onde, atualmente (em 2025), funciona o Centro de Educação Santa Teresinha (CEST).
A festa em honra à padroeira de Curitibanos, Nossa Senhora da Imaculada Conceição, tornou-se uma tradição religiosa que ocorre anualmente no dia 8 de dezembro. No entanto, em 1908, a celebração foi realizada em uma data diferente, iniciando-se em 18 de dezembro e se estendendo até 27 de dezembro, conforme noticiado na primeira edição do jornal “O Planalto” de 1º de janeiro de 1909. A mudança de data pode ter sido influenciada pelas condições climáticas, já que o texto menciona o excesso de chuvas durante as festividades. Mesmo com o mau tempo, a festa foi bem sucedida, com a realização de novenas, leilões e uma missa solene acompanhada por uma orquestra. A procissão, que percorreu as ruas da cidade, contou com grande participação da população, e a “Banda Eutherpe Curitybanense” abrilhantou o evento.
Essa edição de 1908 destacou o forte vínculo da cidade com a fé católica, refletido na presença da banda de música e no envolvimento de figuras locais como o festeiro, coronel Francisco Ferreira de Albuquerque. Ele, que mais tarde teria atritos com os padres locais. A festividade sempre foi um exemplo da importância da religião na história do município de Curitibanos. Além disso, o evento também nos apresentou a “Banda Eutherpe Curitybanense”, nome inspirado na musa grega da música, e nos forneceu um vislumbre da antiga igreja (Santuário) que existia em 1908, antes da construção da nova igreja em 1915.
Em 14 de julho de 1912, a vila de Curitibanos foi elevada à condição de paróquia independente, e Frei Menandro Kamps foi nomeado o primeiro vigário nessa nova fase do catolicismo franciscano na região. Na paróquia, também atuava Frei Gaspar Flesch. Desde maio daquele ano, as missas dominicais estavam sendo celebradas na escolinha, pois a antiga matriz ameaçava desabar e não oferecia mais segurança.
No entanto, apesar dessas reformas e aquisições, a matriz tornou-se pequena e insegura para atender à comunidade. Diante disso, em 1910, iniciou-se o planejamento para a construção de uma nova igreja, visando suprir as necessidades dos fieis e garantir um local adequado para as celebrações religiosas.
A construção da nova matriz foi um desafio para Frei Gaspar, devido a desentendimentos com o superintendente Francisco Ferreira de Albuquerque e a oposição de grupos fanáticos. Frei Columbano Cremer elaborou um belo projeto para a construção de uma nova matriz, mas, na época, não havia recursos financeiros para realizá-lo. Foi então que Frei Gaspar assumiu o desafio da construção, contratando o mestre de obras Guilherme Bossov para dar início à obra. No entanto, Frei Gaspar foi transferido para Palmas antes da conclusão, e Frei Redempto Kullmann ficou responsável por finalizar a construção, que foi inaugurada em 4 de dezembro de 1915. Essa igreja matriz atendeu satisfatoriamente a comunidade católica de Curitibanos até o ano de 1962.
Após a conclusão da construção da igreja em 1915, os padres foram retirados de Curitibanos devido ao delicado contexto que a vila enfrentava, marcado pela violência e instabilidade decorrentes da Guerra do Contestado (1912-1914). Um dos episódios mais devastadores para a vila de Curitibanos ocorreu em 26 de setembro de 1914, quando invasores atacaram a localidade, incendiando pelo menos duas dúzias de imóveis. Entre os edifícios destruídos estavam a Casa de Câmara e Cadeia (sede administrativa do município, também conhecida como superintendência municipal), a escola pública, o açougue municipal, a sede do jornal “O Trabalho”, além de documentos do cartório de registro de imóveis e parte dos registros civis, que foram jogados na lama ou consumidos pelo fogo.
Esse ataque causou grande comoção e levou a maioria dos moradores a abandonar a vila, buscando refúgio em outras localidades. Diante desse cenário de destruição e desorganização, a liderança católica tomou medidas para reorganizar a região, extinguindo a Casa Franciscana de São Francisco Solano em Curitibanos. Essa mudança visava restabelecer a ordem administrativa e religiosa, buscando estabilizar a comunidade após os graves conflitos que marcaram esse período turbulento da história curitibanense.
O incêndio de 1914 e suas consequências deixaram um legado de trauma e reconstrução, refletindo os desafios enfrentados por Curitibanos durante e após a Guerra do Contestado. A reorganização da vida local, tanto no aspecto civil quanto religioso, foi essencial para a recuperação da vila e a reestruturação de sua identidade comunitária.
Dessa forma, após a construção da nova Igreja Matriz, os padres foram removidos, e as paróquias de Curitibanos e Campos Novos foram anexadas à de Lages. Em 1916, o padre jesuíta Luiz Steiner ficou remotamente responsável pela paróquia de Curitibanos. No ano seguinte, durante uma visita a Curitibanos, o bispo de Florianópolis prometeu enviar um novo padre para a localidade.
Nessa época, a escolinha dos padres, conhecida como Colégio São José, já não existia mais. Vale destacar que, mesmo durante o funcionamento dessa escolinha, Curitibanos contava, desde a época do Império, com uma escola destinada a alunos do sexo masculino, mantida pelo Estado.
Durante quase 18 anos, Curitibanos permaneceu sem a presença de padres residentes na vila. A nova igreja ficou fechada, recebendo apenas visitas esporádicas de sacerdotes vindos de Lages para celebrações pontuais. Nesse período, a casa dos padres foi alugada ao senhor Jorge Knoll, que zelou pela manutenção do imóvel, incluindo o jardim e as árvores plantadas no início do século. A residência possuía uma grande banheira, conhecida como “piscina”, que era usada por Knoll para seus banhos matinais de água fria.
Em 17 de janeiro de 1927, por meio da bula Inter Praecipuas, o Papa Pio XI criou as dioceses de Lages e Joinville, tornando-as sufragâneas de Florianópolis, que foi elevada à condição de sede arquidiocesana. No entanto, a Região Serrana precisou aguardar mais alguns anos. Somente em 18 de outubro de 1929, a Diocese de Lages foi oficialmente instalada com a chegada de seu primeiro bispo, Dom Daniel Henrique Hostin, um franciscano catarinense nomeado em agosto daquele ano.
Em 28 de janeiro de 1932, após quase 18 anos do fechamento da igreja e da saída dos padres, chegou a Curitibanos o padre Justino Girardi, o primeiro vigário da paróquia nessa nova fase da Igreja Católica na região. Assim, o bispado de Lages havia sido criado em 1929, tendo como líder Dom Daniel Henrique Hostin. Franciscano de coração, Dom Daniel incorporava plenamente o espírito de São Francisco de Assis, vivendo com simplicidade e humildade, fiel ao ideal de pobreza que guiava sua vida.
Em 1932, a Congregação Franciscana aceitou a inclusão da Paróquia de Curitibanos sob sua jurisdição, o que possibilitou a reabertura da paróquia na então vila de Curitibanos. Naquele ano, o gestor municipal era Antonio Granemann de Souza, um líder comprometido com a reconstrução da vila, que, embora fosse chamada de vila, já era oficialmente o município de Curitibanos.
No ano de 1933, o prefeito Antonio Granemann de Souza reuniu-se com frei Justino Girardi para discutir a possibilidade de Curitibanos abrigar um educandário voltado ao curso primário. Durante a reunião, que contou com a presença de outras autoridades da época, decidiu-se solicitar ao Bispo Diocesano, Dom Daniel Henrique Hostin, a instalação de um colégio de prestígio na cidade. O objetivo era oferecer educação de qualidade aos jovens locais, tornando-os competitivos com estudantes de outros centros.
O pedido do prefeito Antônio Granemann de Souza foi prontamente atendido por Dom Daniel, que iniciou os trâmites legais junto à Igreja Católica. O bispo entrou em contato com a Madre Provincial da Congregação das Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria da “Província Menino Jesus”, com sede em Curitiba, solicitando o envio de freiras para trabalhar em Curitibanos.
Naquela época, Curitibanos ainda era uma pequena cidade de difícil acesso. As estradas eram rudimentares e quase intransitáveis, e a estrada de ferro ainda não alcançava o município, obrigando os moradores a utilizarem carroças, cavalos e mulas para locomoção. Aqueles que precisavam viajar para centros maiores embarcavam na ferrovia em Capinzal ou Caçador, após um ou dois dias de deslocamento, dependendo do meio de transporte.
Atendendo ao pedido do bispo, a Madre Provincial enviou três Irmãs Franciscanas da Sagrada Família de Maria para Curitibanos. Elas chegaram à cidade em 4 de fevereiro de 1933, vindas de Curitiba, Paraná. Essas foram as primeiras Irmãs da congregação a se estabelecerem em Curitibanos, marcando presença na história local e regional.
As três pioneiras foram: Irmã Irene Wisniewski, Irmã Felícia Greboge e Irmã Isidora Charnikowska. Seguindo a doutrina católica e os ensinamentos de São Zygmunt Felinski, elas assumiram a missão de servir a Cristo e à Igreja. Ao saber da chegada das freiras, Frei Justino, junto com a comunidade, organizou uma acolhida memorável. O entusiasmo era tanto que logo foi escolhido o nome para o novo colégio: “Colégio Santa Teresinha”.
As freiras se instalaram na antiga casa dos padres franciscanos. Com o apoio da Congregação, iniciaram as obras das salas de aula e de um ambiente adequado para o funcionamento do grupo escolar. Tudo foi realizado com muito sacrifício, já que não havia materiais de construção disponíveis na região e as precárias vias de transporte dificultavam o abastecimento. A areia utilizada na construção era retirada do Rio Marombas e transportada em mulas, que carregavam duas bruacas com 45 quilos de areia em cada lado. Esse processo envolvia várias viagens diárias, percorrendo ao menos 30 quilômetros de ida e volta.
Ainda em 1933, o Colégio Santa Teresinha iniciou suas atividades com o curso primário, da 1.ª à 4.ª série, atendendo inicialmente 83 alunos. Além de lecionar, as freiras colaboravam na Igreja e na catequese. Irmã Irene foi nomeada pela Madre Provincial como Madre Superiora da comunidade Santa Teresinha e também do internato, desempenhando ainda a função de professora no colégio.
Em 8 de maio de 1935, assumiu o cargo de prefeito em Curitibanos o Coronel da Guarda Nacional Graciliano Torquato de Almeida. Ao assumir esse cargo, prontamente deu início à construção de uma usina geradora de eletricidade, ciente de que não seria uma solução definitiva para a crescente Curitibanos. A cidade começava a dar sinais de desenvolvimento após um período de estagnação provocado pelo incêndio de várias casas em 1914.
Diante dessa necessidade, em 1937, o prefeito reuniu empresários e representantes da sociedade organizada, decidindo pela instalação de uma usina movida a lenha construída na Rua Hercílio Luz. O objetivo era fornecer energia elétrica para a área urbana de Curitibanos.
Relatos históricos indicam que, em um dia de janeiro de 1938, às 19 horas, acenderam-se, pela primeira vez na história da cidade, algumas lâmpadas elétricas. Conforme registrado por Frei Valentim Tambosi no livro Franciscanos em Curitibanos (p. 55), “em março, já muitas casas tinham ‘aposentado’ as lâmpadas de querosene. A matriz havia retirado os lampiões e instalado lâmpadas elétricas. A alegria não durou. Na noite de 30 para 31 de março, queimou tudo. Assim que o incêndio começou, os sinos da matriz tocaram por meia hora para alertar a população, mas de nada adiantou. Não sobrou nada.” A usina movida a lenha foi totalmente consumida pelo fogo.
Naquela época, em cidades emergentes como Curitibanos, os incêndios eram frequentes, muitas vezes causados pelo manuseio descuidado do fogo em fogões à lenha, velas, lampiões e lamparinas.
Em 1941, uma nova tentativa de geração de energia elétrica foi feita, dessa vez utilizando carvão. Contudo, não demorou muito para que a usina fosse novamente destruída por um incêndio. Localizada na esquina da Rua Hercílio Luz com a Rua Conselheiro Mafra, hoje não restam vestígios dessa usina.
Várias freiras moraram e trabalharam em Curitibanos. O serviço na igreja era exemplar, especialmente com a promoção da música e do canto nas missas. Nas décadas de 1940 e 1950, foi construído o Salão Paroquial Frei Rogério, um amplo edifício que, no primeiro pavimento, abrigava um espaço destinado a festas. No segundo pavimento, funcionou por algum tempo o Cine Teatro Ópera. Aldair Goeten de Moraes, curitibanense e pesquisador da história, relata que, em 1958, assistiu no local a uma sessão de cinema com áudio pela primeira vez, algo inédito na região, que não era oferecido pela concorrência, especificamente no antigo Cine Teatro Monte Castelo de Curitibanos. Assim, a primeira exibição de cinema com áudio em Curitibanos ocorreu no Cine Teatro Ópera, enquanto este funcionava nas dependências do antigo Salão Paroquial Frei Rogério. Além disso, no mesmo segundo pavimento, nos fundos do salão, operava a emissora da Rádio Coroado AM.
As escavações para a construção da terceira e atual Igreja Matriz de Curitibanos tiveram início em 1953. No entanto, a obra foi embargada pelo CREA por não apresentar um responsável técnico. Após várias tentativas de regularização, Frei Valentim Tambosi, com o apoio do arquiteto gaúcho Ticiano Bettanin, renomado por suas construções de igrejas no Rio Grande do Sul, conseguiu dar continuidade ao projeto, embora o prédio só tenha recebido pintura dois anos após o início do uso.
O resultado foi uma belíssima igreja em estilo Romântico. Uma construção no estilo romântico é aquela que segue as características do movimento artístico e arquitetônico do Romantismo, que teve seu auge no final do século XVIII e durante o século XIX. Esse estilo se caracteriza na obra da Igreja Matriz Imaculada Conceição, na busca de expressividade emocional, liberdade criativa e o resgate de elementos históricos. Localizada ao lado da Avenida Frei Rogério, no centro de Curitibanos, ao lado do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza, a edificação possui 540 metros quadrados e foi construída em alvenaria convencional, devido à disponibilidade de mão de obra, à durabilidade do material e ao fato de ser o método construtivo predominante na região na época (TAMBOSI, 1993).
A análise da arquitetura da Igreja Matriz Imaculada Conceição revela sua inspiração no Romantismo Eclético, movimento artístico europeu que atingiu seu auge em meados do século XVIII. Este estilo valorizava a liberdade de expressão artística, o sentimento e a espiritualidade, promovendo uma retomada de modelos históricos, como o gótico e o romântico, ao mesclar diferentes estilos arquitetônicos para criar uma nova linguagem.
No Brasil, o Romantismo surgiu no século XIX com o crescimento do Ecletismo, caracterizado pela combinação de estilos arquitetônicos do passado, principalmente influenciados por imigrantes franceses, italianos e alemães (VIVA DECORA PRO, s.d). O Romantismo permitiu o renascimento de múltiplos estilos, trazendo a redescoberta de formas anteriormente rejeitadas e transformando-as em um novo princípio estilístico.
Durante debates sobre a adoção do estilo neocolonial como identidade arquitetônica nacional, o Ecletismo deixou de ser a única maneira de romper com o passado colonial. Surgiram padrões arquitetônicos que tentavam modernizar as construções, rompendo com o tradicionalismo colonial (MELO, 2013, p. 59). O Ecletismo, portanto, tornou-se uma alternativa para a renovação da arquitetura brasileira, integrando estilos como o neoclássico, o neogótico, o neocolonial e reinterpretando detalhes com características historicistas (MELO, 2013).
O estudo do movimento Romântico Eclético permite comparar a Igreja Matriz Imaculada Conceição, em Curitibanos, com outras obras do mesmo estilo ao redor do mundo. Sua arquitetura apresenta um Ecletismo de estilos históricos, com elementos do período Romântico.
A edificação possui características do estilo neocolonial, como as releituras de colunas toscanas na entrada principal. Arcos de volta perfeita, frontões e mísulas estão presentes na fachada e na torre da igreja, remetendo ao estilo clássico greco-romano. A planta da igreja é composta por uma nave central única, similar às basílicas da Roma Antiga.
Ao longo da nave, vitrais moldados por arcos de volta perfeita representam cenas bíblicas, com figuras adornadas por auréolas douradas, conhecidas como Cristo Sol, e olhos amendoados, elementos típicos do estilo bizantino. Essas imagens também aparecem nos clerestórios que coroam a abside, onde fica o altar.
O interior da igreja conta com pinturas murais que retratam momentos importantes da história religiosa. A imagem da padroeira é ladeada pelas figuras dos quatro evangelistas, representadas em afrescos emoldurados por motivos geométricos que se estendem até o teto, inspirados no estilo renascentista.
Pilares embutidos nas paredes sustentam as nervuras da abóbada da nave central, decorados com a técnica do “fingido”, pintura que imita mármore em tons de verde e roxo, remetendo ao estilo rococó.
A Igreja Matriz Imaculada Conceição de Curitibanos reflete a arquitetura Romântica, que se desenvolveu paralelamente à independência política do Brasil em 1822, como reação à arquitetura neoclássica. Caracterizada pela combinação de elementos de diferentes estilos, a igreja apresenta um arranjo eclético que inclui características do neoclássico, neocolonial e renascentista.
Construída com as técnicas disponíveis na região na época, a igreja destaca-se como um ponto turístico de Curitibanos devido à sua beleza e imponência em meio aos campos do meio-oeste catarinense.
Em 24 de dezembro de 1960, mesmo com a igreja ainda em construção e cercada por andaimes, o Bispo Coadjutor Dom Afonso Niehues celebrou a missa de ordenação sacerdotal do diácono Otávio de Lorenzi, marcando um momento histórico para a comunidade de Curitibanos. A obra foi finalmente concluída em 1962, e a igreja, construída em estilo romano, tornou-se um marco arquitetônico e espiritual. A nave da matriz possui 30 metros de comprimento, 18 metros de largura e 8 metros de altura, com espaço para quatro fileiras de bancos. O altar central, inicialmente uma mesa de mármore com o tabernáculo ao fundo, foi substituído por um altar de madeira em 2014. A padroeira, Nossa Senhora da Conceição, é representada por uma estátua de 1,20 metro, posicionada em local de destaque, enquanto vitrais adornam o interior da igreja, exibindo símbolos eucarísticos e homenagens a São Cristóvão e São Francisco Solano.
A torre, com 20 metros de altura, é encimada por um grande relógio e abriga três sinos. No interior, há um altar dedicado a Nossa Senhora da Paz, inaugurado em 8 de dezembro de 1986, graças à doação de um casal devoto. Em 1965, a matriz passou por melhorias, incluindo pintura, calçamento e a instalação de um sistema de som, consolidando sua estrutura e funcionalidade.
A construção da igreja foi um verdadeiro símbolo de perseverança, enfrentando desafios técnicos, limitações financeiras e exigindo o esforço coletivo da comunidade. Cada etapa do projeto refletiu a fé, a determinação e a união do povo de Curitibanos, que transformou adversidades em um legado religioso e cultural duradouro. A igreja, além de seu significado espiritual, consolidou-se como um marco histórico para a região, representando a força e a devoção de uma comunidade que superou obstáculos para erguer um espaço de fé e celebração. No mesmo ano de 1962, a matriz de madeira foi demolida, após a conclusão da construção de uma nova igreja. Essa substituição marcou o fim de uma era e o início de um novo capítulo na história religiosa da comunidade, com um templo mais moderno e adequado às necessidades dos fieis. As tábuas da antiga igreja de madeira foram utilizadas para a construção da Igreja no bairro Bom Jesus.
No final da década de 1950 e início da década seguinte, enquanto ainda se construía o salão Frei Rogério, diversas festas para arrecadar fundos para a paróquia de Curitibanos foram realizadas sob as árvores do antigo Capão, que futuramente se transformaria na Praça Centenário, no bairro do Bosque. As mesas eram distribuídas sob as árvores que eram maiores e mais frondosas, e a população se reunia para confraternizações. Dois membros do Conselho Comunitário Paroquial eram os senhores Alcides Fabris, na função de presidente, e Nilton Beppler, como tesoureiro, durante a gestão que compreendeu os anos de 1960 a 1962.
O sacrário, móvel utilizado para a guarda das hóstias (pequenos discos de pão sem fermento usados na celebração da Eucaristia), foi adquirido em Caxias do Sul/RS. Coube ao senhor Nilton Beppler e a Alcides Fabris a responsabilidade de transportá-la até a cidade de Curitibanos.
Hercílio Beppler, filho de Nilton, relata que seu pai e o colega ficaram bastante apreensivos com a tarefa, pois a peça era revestida de ouro e possuía grande valor. Após décadas de uso, o sacrário foi transferido para a igreja da Lagoinha, onde foi destruída em um incêndio ocorrido em 22 de março de 2018.
Após a construção da igreja, faltava ainda erguer a torre e instalar os três sinos e o relógio. Sobre a execução dessa importante obra, foram colhidas informações de que o construtor responsável foi o senhor João Dalmolin. Reconhecido como um bom profissional, ele era muito requisitado e, frequentemente, tinha mais de uma obra em andamento. João Dalmolin foi o responsável por diversas construções de destaque, como a Usina do Salto Correntes, o Cine Teatro Ópera e a Igreja São Pedro, localizada no bairro São Luiz. Além desses projetos significativos, ele também auxiliou na colocação dos vitrais da Igreja Matriz Imaculada Conceição, um trabalho que exigiu grande habilidade técnica e expertise para a época, consolidando sua reputação como um construtor talentoso e versátil.
Em 1962 foi chamado para ser o novo Pároco em Curitibanos, frei Edmundo Piechoczek. Surgiu uma oportunidade da compra da Rádio Coroado AM que estava à venda. Quando ficou evidente que a rádio seria vendida devido à incapacidade técnica e administrativa dos proprietários, o então pároco Frei Edmundo Piechoczek decidiu agir. Ele temia que a emissora caísse nas mãos de pessoas que promovessem ensinamentos contrários aos valores católicos. Para evitar isso, Frei Edmundo iniciou uma campanha junto aos fazendeiros e pecuaristas de Curitibanos, angariando doações em cabeças de gado. O gado arrecadado foi vendido em festas católicas organizadas com o objetivo de levantar fundos para a compra da rádio.
Frei Edmundo Piechoczek visitava pessoalmente as casas dos fazendeiros, conseguindo doações suficientes para realizar duas grandes festas. Muitos em Curitibanos ainda comentam, até os dias de hoje, que “quem comprou a rádio e doou aos padres foram os fazendeiros de Curitibanos”. Essa história, no entanto, é lembrada principalmente pelos mais idosos, que viveram essa época.
Frei Edmundo também tinha um programa na rádio chamado “A Hora do Fazendeiro”. Com seu sotaque marcante e uma pronúncia peculiar, ele mesmo brincava ao dizer: “A horra do fazendeirro”, acentuando as consoantes de forma característica. Esse programa tornou-se uma das marcas registradas de sua atuação na emissora.
A virada decisiva ocorreu em 1967, quando a Rádio Coroado foi oficialmente adquirida pela Paróquia Imaculada Conceição, sob a liderança do Frei Edmundo Piechoczek. Ele investiu em novos equipamentos e na qualidade da programação, transformando a emissora em um veículo de comunicação confiável e popular, consolidando seu lugar no coração da comunidade curitibanense.
O Centro Comunitário teve origem em um antigo salão adquirido por Frei Roque em 1939, localizado na esquina das ruas Conselheiro Mafra com Quintino Bocaiuva, próximo ao prédio da antiga prefeitura. Apesar de ser construído em madeira, o salão tornou-se um espaço importante para eventos da comunidade. É também importante destacar que esse salão não deve ser confundido com o antigo Salão Paroquial Frei Rogério, que foi desmontado posteriormente para a construção do novo Centro Comunitário. Com o passar do tempo, o espaço tornou-se pequeno e inadequado para as necessidades da comunidade, o que levou o pároco Frei Eliseu Tambosi a idealizar a construção de um novo centro comunitário.
O antigo Salão Paroquial Frei Rogério, uma edificação mista de madeira e alvenaria, foi desmontado para dar lugar ao novo Centro Comunitário. Essa estrutura, que por décadas serviu à comunidade, foi substituída por um espaço moderno e adaptado às demandas da época, simbolizando uma transição entre o passado e o presente. Na década de 1970, as atividades como os "Encontros de Casais" e a "Lareira", que reuniam cerca de 40 casais para retiros e pernoites. Esses eventos eram realizados nas dependências do Colégio Santa Teresinha, onde os participantes dormiam no chão, separados por gênero, em condições precárias. Diante dessa realidade, Frei Eliseu decidiu criar um ambiente mais digno e adequado para acomodar os casais durante essas atividades.
A construção do novo Centro Comunitário foi um empreendimento grandioso para a época e exigiu um esforço significativo da comunidade. Para arrecadar fundos, foram organizadas campanhas de doações e eventos beneficentes, como festas da igreja, que contaram com a participação de padres, freiras e membros da comunidade católica de Curitibanos. Histórias locais relatam que um tenente do exército brasileiro percorria o interior do município em busca de doações, utilizando estratégias criativas para angariar recursos. Ele visitava famílias com jovens em idade de alistamento militar e, em troca de doações como cabeças de gado, oferecia ajuda para evitar que os rapazes servissem ao exército, que na época, era obrigatório. Essas doações eram formalizadas com recibos, garantindo a transparência do processo.
Apesar da resistência inicial do bispo Dom Honorato Piazera S.C.J, a comunidade, liderada por frei Eliseu e pelo irmão frei Valentim, decidiu prosseguir com a construção do novo salão. O Centro Comunitário Frei Eliseu, inaugurado posteriormente, em 5 de dezembro de 1976, tornou-se um marco para a região, oferecendo uma infraestrutura ampla e moderna, com salas de conferências, capela, cozinha e áreas de convivência. A obra, de proporções impressionantes para a época, reflete o empenho e a dedicação da comunidade em superar desafios para concretizar o projeto.
Ao final da construção, Frei Eliseu Tambosi nomeou o centro com seu próprio nome, perpetuando sua contribuição para a comunidade. Esse gesto, embora visto por alguns como autopromoção, simboliza o legado de um projeto que transformou a vida comunitária em Curitibanos, consolidando-se como um espaço de encontro, celebração e fortalecimento dos laços sociais.
No dia 8 de fevereiro de 2015, ocorreu a instalação da Paróquia Nossa Senhora Aparecida e a posse do pároco David Bruno Goedert, que já atuava em Curitibanos. O evento aconteceu às 19 horas, na igreja do bairro Aparecida. A instalação foi uma reivindicação antiga da comunidade católica, que finalmente se concretizou. Na ocasião, também foram empossadas as pastorais, os conselhos e demais atividades relacionadas à nova paróquia.
O objetivo principal foi tornar a presença da Igreja mais eficaz e presente na comunidade. A criação da Paróquia visou somar esforços, e não dividir, garantindo que todos fossem atendidos. Naquele momento, a estrutura da nova Paróquia passava por reformas e ampliações para oferecer todos os serviços necessários. No ano de 2024, as obras foram concluídas, com a entrega da igreja aos católicos da Paróquia Nossa Senhora Aparecida. A tradicional festa em louvor à Nossa Senhora Aparecida foi realizada em outubro. Naquele ano, o evento destacou-se pela inauguração do Santuário de Nossa Senhora Aparecida, no dia 12 de outubro, data dedicada à padroeira. O santuário, construído por devotos curitibanenses, estava em fase de acabamento e contou com uma imagem de 1,80 metros da santa, um chafariz e uma revitalização completa da entrada da igreja, visando acolher mais fieis. A Paróquia Nossa Senhora Aparecida sempre buscou melhorar seu espaço físico para fortalecer a vivência da fé. A imagem de Nossa Senhora foi trazida de Dourados (MS) e entronizada em março de 2023. O projeto, inicialmente modesto, cresceu com o apoio do arquiteto Sandro Cabral, resultando em um espaço dedicado à acolhida e à espiritualidade.
A programação religiosa iniciou-se em 21 de setembro com a bênção da cavalgada na Semana Farroupilha e estendeu-se até 12 de outubro, incluindo missas, procissão luminosa e carreata. Já a programação festiva começou no mesmo dia, com carreteiro e bingo, seguida pela venda de alimentos típicos, como pães, cucas, bolachas, bolos e pasteis, entre os dias 9 e 12 de outubro. No dia 12, houve venda de churrasco e almoço, encerrando no dia 13 com macarronada, galeto e distribuição de doces e presentes para as crianças.
Foram inúmeros os casamentos, os momentos felizes, como batismos, primeiras comunhões e atividades ligadas ao calendário católico. As procissões, as festas do Divino Espírito Santo e as celebrações em honra à padroeira do município tornaram-se memoráveis. Ao longo dos anos, diversos padres, freis, frades e párocos atuaram em Curitibanos. Alguns foram vistos como carismáticos e simpáticos, enquanto outros não conquistaram a mesma simpatia. Uns foram amados pela comunidade; outros, criticados por suas posições ideológicas. Até o final do século XX, a igreja conseguia arrecadar entre 50 e 100 cabeças de gado, doadas por pecuaristas, para a realização das festas do Divino e da padroeira. No entanto, após a implantação da Pastoral da Terra, que gerou certo descontentamento entre os doadores, as doações de gado cessaram em intensidade. Os tempos mudaram, mas o cristianismo católico permanece forte em Curitibanos, mantendo-se como a denominação cristã mais expressiva da cidade, com o mais imponente templo de adoração já construído no local.
Em 2025, os católicos de Curitibanos comemoram o aniversário da paróquia, e da ereção canônica que segue sob a égide de Nossa Senhora da Conceição. São 150 anos de muita história a ser lembrada e relatada. A data oficial será dia 24 de dezembro de 2025. Desde 2023, a estrutura do principal edifício passou por reformas significativas, incluindo a substituição do telhado, a pintura externa, a construção de floreiras e uma pintura completa no interior.
Referências para o texto:
Colégio Santa Teresinha, ano jubilar. Jornal A Semana, Edição n.º 19, página 7. Maio de 1983.
Com informações de Aldair Goeten de Moraes
Com informações de Hercilio Beppler
Com informações de Luiz Marcos Cruz
Festa de N. S. da Conceição. Jornal “O Planalto”. Anno I, n.º 1. Curitibanos, 1º de janeiro de 1909, p.3.
Franciscanos, quem somos. Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil — OFM. On-line, disponível em: https://franciscanos.org.br/quemsomos/ondestamos/sao-francisco-solano-curitibanos/#gsc.tab=0
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