quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

DUAS CORTICEIRAS E UM INGAZEIRO



Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Já escrevi sobre o professor David Novak e seus notáveis feitos em prol do povo curitibanense. Sempre ligado à área educacional, fez história na cidade, principalmente, por proporcionar aos jovens, oportunidades de estudo, que antes, por aqui, não existiam. David Novak também foi o principal fundador do Colégio Comercial Cardeal Câmara e da Fundação Educacional do Planalto Central Catarinense — FEPLAC, antecessora do Campus de Curitibanos da Universidade do Contestado — UnC. Muitos que passaram pelos bancos escolares dessas instituições, tornaram-se, também, notáveis em Curitibanos. O professor David Novak e sua equipe eram rigorosos no zelo didático.

A história das edificações do antigo Colégio Comercial Cardeal Câmara, passa, em minha vida, pela sua construção. Em 1972, meu pai construiu uma casa no final da Rua Benjamim Constant, esquina com a Rua Frei Gaspar. Os construtores, enquanto construíam a nossa casa, começaram as obras do novo colégio que ofereceria aos jovens curitibanenses a oportunidade de se formarem em Técnico em Contabilidade. Após o término da construção da nossa casa, toda a equipe dos construtores, pedreiros e carpinteiros mudou-se para a Rua Barão do Rio Branco, ao lado da antiga Delegacia de Polícia, que serviu também como cadeia pública. Lá, terminaram a obra do educandário.

Em 1973, as instalações estavam praticamente prontas e aproveitáveis para o ensino, com amplas salas de aula, banheiros, secretaria, e outras dependências para o uso geral. Naquele mesmo ano, a cidade de Curitibanos, através do envolvimento de quase toda a população, comemorou através de desfile cívico, com carros alegóricos, o centenário da instalação definitiva do município, a direção do Colégio Comercial Cardeal Câmara, com o corpo de docentes e alunos participaram das atividades comemorativas, dessa forma, expressaram gratidão à população curitibanense, por concluírem o tão sonhado prédio para o funcionamento do colégio. O orgulho estava estampado nos rostos de todos que os viram naqueles dias de euforia.

Dessa forma, a área educacional e profissional do município cresceu, muitos jovens tiveram diversas opções, pois após a conclusão do ensino fundamental, puderam seguir o magistério, através do curso Normal, oferecido pelo Colégio Santa Teresinha, puderam atuar em diversas áreas do conhecimento, através do curso Científico, oferecido pela Escola de Educação Básica Casimiro de Abreu, ou puderam tornar-se contabilistas, através do curso de Técnico em Contabilidade, oferecido pelo Colégio Comercial Cardeal Câmara. Assim, muitos rapazes e moças conseguiram se sobressair profissionalmente, obtendo melhores condições de vida, incluindo, o bem-estar das suas famílias. Mais ainda, após concluída essa etapa, estiveram aptos para dar continuidade com seus estudos, através de submissão a provas de vestibulares. Personagem fundamental nesse processo, o professor e diretor David Novak era um homem determinado, visionário e incansável.

Após a inauguração do colégio, o terreno ao redor do edifício estava por arrumar, como foi aplainado anteriormente, mostrou-se pedregoso e cheio de rochas de basalto (pedra-ferro). Removidas do local, após serem quebradas e a maioria, aproveitada como pedras para calçamento, muito comuns na nossa região, são geralmente cobertas por uma capa amarela de um barro pegajoso, incrustado. Quando removidas, essa cobertura amarela cai e esfarela-se, deixando o terreno pigmentado de cor amarela. Assim era o terreno ao redor das edificações do Colégio Comercial Cardeal Câmara em 1973. Não havia grama, nem vestígio de um solo fértil, pelo contrário, o solo mostrava-se impróprio para qualquer vegetação ornamental e de paisagismo.

O professor David Novak, paralelamente, enquanto atuava na área educacional, mantinha em Curitibanos, um hobbie ligado à sua primeira profissão, a de Prático Rural. Foi um grande admirador da fruticultura e da arboricultura local. Por essa razão, em 1958 adquiriu um terreno situado a poucos quilômetros do centro urbano da cidade de Curitibanos. David iniciou uma plantação de árvores frutíferas. O local se chamava “Granja Alvorada”. Era um exemplo da eficiência da boa terra e do clima da região. Possuía aproximadamente no local, 2.500 ameixeiras e pessegueiros que demandavam cuidados especiais, dominados pelo proprietário. O professor orgulhava-se das suas abundantes colheitas: a média por safra era de mais ou menos 60 quilos por ameixeira e 150 quilos de pêssego em cada árvore. O elevado número de frutos tinha o seu consumo em diversas cidades, inclusive, em outros estados da federação. O cuidado com que as árvores eram tratadas, bem como os frutos, proporcionava ao mercado, produtos de primeira qualidade, perfeitos à vista e saborosos. O esmero da apresentação conquistava a freguesia. Os frutos eram fornecidos para comerciantes e industriais de muitas cidades, principalmente, para a confecção de doces enlatados, ou compotas. A fruticultura no terreno do professor David Novak envolvia cuidados rotineiros, pois os frutos precisavam ser envolvidos em papéis apropriados, para defendê-los do que lhes era nocivo. Ele lembrava a todos, que era um trabalho árduo realizado na sua “Granja Alvorada”, acondicionar fruta por fruta. Entretanto, era um belo espetáculo para os curitibanenses visitarem a Granja, principalmente, nas épocas de floração e de colheita. Estando lá, podia-se avaliar, mentalmente, o “quanto é pródiga a terra curitibanense e como é altamente recompensado o trabalho do pomicultor”. Conhecedor de várias espécies de árvores, trouxe da cidade de Canoinhas, sua terra natal, dois tocos de corticeiras e uma muda de ingazeiro para plantar no árido terreno do colégio. Ele, por muitos anos, cuidou assiduamente dessas mudas, fazendo até fogo ao redor delas, no inverno, para que não perecessem pelo intenso frio. Por muitos anos, os vizinhos degustaram o doce da polpa das vagens do ingazeiro. Demorou para que a grama se espalhasse e cobrisse o solo, quase a mesma demora para que os tocos das corticeiras pudessem se transformar em árvores.

Agora, em 2023, 50 anos depois, ainda é possível encontrarmos as duas corticeiras plantadas com muito zelo. Infelizmente, o ingazeiro não está mais vivo. A maioria daqueles que passam na Rua Henrique de Almeida Sênior, ao lado de onde está instalada a atual sede da Secretaria de Assistência Social, não sabe, ignora, ou não percebe a beleza das flores das corticeiras, nem sabe da sua história. Quem observa a beleza exuberante das belas árvores (corticeiras), talvez não tenha ideia do quanto de história essa espécie carrega em alguns países da América do Sul. Hoje, encontramos no local, quatro pés de Tipuana, um pé de Araçá-Rosa, um pé de Guabirobeira, um pé de Louro, uma Araucária, um pé de Aroeira, uma árvore não identificada e um Ingazeiro morto pelo descuido, pela ação dos anos e por força de trepadeiras que, de forma predatória, o sufocaram.

Cada árvore tem uma história para ser contada e passada adiante. Tal como o professor David Novak fez, orgulho-me de ter plantado, ao longo dos meus anos, várias espécies de árvores, algumas dessas, tenho a história anotada, guardo esses registros para a posteridade. Espero poder compartilhar com os leitores e curiosos.



Referências para o texto:


ALMEIDA, Coracy Pires de. Curitibanos, terra promissora. Curitibanos, 1971, p.113-116.


ALVES, Sebastião Luiz. Memórias Curitibanenses: David Novak, A Semana, Curitibanos, Edição nº 1776, Caderno Livre, p. 03, 05 de janeiro de 2018.


Com informações do Professor Waldir Piccoli


Com informações de Romilda Waltrick


Fotografias de Antonio Carlos Popinhaki.


NOVAK, David. A História da Escola Técnica de Comércio Cardeal Câmara. Acervo do Museu Histórico Antônio Granemann de Souza de Curitibanos.


POPINHAKI, Antonio Carlos. David Novak. blog curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2018/01/david-novak.html


Texto anônimo publicado na página do Facebook “Curitibanos Memórias da Nossa Terra”, criada e mantida por Sebastião Luiz Alves (in memoriam). On-line, disponível em: https://www.facebook.com/memoriasdecuritibanos/photos/a.1519404225018417/1584006018558237/

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