Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Os escritos que se seguem são verdadeiros e fazem parte da minha história, de quando eu era um garoto em pleno desenvolvimento, na Curitibanos dos anos 1970. Essas memórias estão ligadas ao falecimento do antigo pároco da Igreja Católica de Curitibanos, o Frei Eliseu Tambosi, ocorrido em 2021. Embora eu não tenha tido um relacionamento próximo com ele, nossos breves encontros foram suficientes para deixar marcas profundas em minha memória.
Uma amiga de Curitibanos, Magda, certa vez me disse que todas as nossas memórias estão guardadas no cérebro, mesmo que pareçam esquecidas. “Estão todas lá”, afirmou ela. Nos últimos dias, não sei explicar ao certo porquê, talvez pela chuva insistente, pelo falecimento de uma figura emblemática da cidade, ou até mesmo pelo fato de eu estar escrevendo biografias de personalidades curitibanenses, acordei com lembranças vívidas da minha infância e adolescência.
A primeira vez que vi o Frei Eliseu foi numa missa dominical, acompanhando meu pai, Pedro Popinhaki. Minha mãe, por razões que desconheço, não costumava ir conosco, mas meu pai, apesar de seu pouco entendimento sobre os ritos católicos, sempre nos levava à igreja. Ele tentava incutir em nós uma certa religiosidade, talvez influenciado por sua família, que sempre esteve ligada ao catolicismo.
Naquela época, havia em Curitibanos outro padre, o Frei Walmor Cattoni, que organizava atividades com jovens, levando-os para passeios no campo. Lembro-me de uma dessas aventuras, quando eu tinha cerca de 13 anos. Fomos até uma cachoeira no Lajeado Estância Nova, próximo ao aeroporto da cidade. O grupo levou comida, cordas, mochilas e utensílios para passar o dia.
A caminhada foi longa e cansativa. Atravessamos capões de araucárias que hoje já não existem, cruzamos a pista de terra do antigo aeroporto ou campo de aviação, como era chamado na época, e adentramos em terrenos privados até chegar a um grande capão de mato. Lá, escondido entre as árvores, havia um barranco onde corria o Lajeado Estância Nova. Quando finalmente avistamos a cascata, foi um momento de pura admiração. A freira que nos guiava exclamou: “Meu Deus! Que coisa mais linda!”, e eu, igualmente extasiado, concordei. Alguns jovens se aventuraram a nadar nas águas calmas abaixo da cascata, enquanto outros improvisaram uma balança com as cordas que trouxeram. Foi um dia de alegria e descoberta, mas também de exaustão, pois a caminhada de volta foi tão cansativa quanto a de ida.
Mas o que essa história tem a ver com o Frei Eliseu? Bem, naqueles anos de 1976 e 1977, eu era coroinha na igreja católica de Curitibanos. Ajudava nas missas, principalmente nas noites de meio de semana, tocando o sininho num certo momento da missa. Conhecia bem o Frei Walmor e o Frei Félix, mas o Frei Eliseu era uma figura distante para mim. Lembro-me de vê-lo pela primeira vez naquela missa dominical com meu pai, apesar de que ele já morava em Curitibanos a partir de 1968.
Foi justamente essa distância que me causou problemas na aula de religião da Irmã Angelina. Ela era rigorosa e exigia que todos os alunos fossem à missa dominical, considerando sua ausência um “pecado mortal”. Certa vez, ela perguntou à turma quem havia ido à missa no domingo anterior. Levantei a mão, orgulhoso, mas quando ela me perguntou quem havia celebrado a missa, respondi que não sabia o nome do padre, pois ele era “novo” para mim. A Irmã Angelina não aceitou a explicação: “Você pensa que pode me enganar? O Frei Eliseu não é nenhum padre novo, ele é nosso pároco há anos!”. Foi assim que conheci o Frei Eliseu Tambosi, o pároco da igreja católica de Curitibanos.
Anos depois, já com 16 anos, eu trabalhava com o Tenente Joaquim Silva, distribuindo o jornal “O Estado” pela cidade. Certo dia de chuva, abriguei-me sob a marquise da igreja Matriz Imaculada Conceição, esperando a tempestade passar. Foi então que o Frei Eliseu apareceu ao meu lado. “Está esperando a chuva passar?”, perguntou ele. “Sim”, respondi, “creio que não demorará muito para eu continuar com as entregas.” Ele então comentou que também esperaria a chuva diminuir para ir à casa da Dona Célia de Andrade Lemos, uma ministra da Eucaristia que morava perto da igreja.
Esse breve encontro, tão simples, ficou gravado em minha memória. Como disse minha amiga Magda, nossas memórias estão todas lá, guardadas em algum lugar da mente, prontas para serem revisitadas. Hoje, ao recordar esses momentos, sinto-me grato por essas lembranças, que trazem de volta um tempo simples, mas cheio de significado.
E assim, espero continuar acessando essas memórias, trazendo à tona outras histórias que merecem ser contadas e compartilhadas.
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