segunda-feira, 2 de outubro de 2023

A HISTÓRIA DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA MARECHAL EURICO GASPAR DUTRA


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Não se pode escrever a história de nenhum educandário do município de Curitibanos, sem deixar de registrar parte da história do ensino formal local. A primeira escola estadual criada no povoado chamado Curitibanos, deu-se através do Ato datado de 17 de novembro de 1864, ainda na época do Império. Nessa época, cerca de 80% da população era analfabeta. Era uma escola somente para alunos do sexo masculino, excluindo as meninas do aprendizado. Não se tem nenhuma notícia antes dessa data, da existência de alguma escola em Curitibanos. O povoado tinha pouco mais de 50 anos. Ainda era um Distrito de Lages. Entretanto, devido ao movimento de estabelecimento social e comercial oriundo da pecuária, houve a necessidade da instalação dessa escola. Com a Proclamação da República, em 1889, a escola do sexo masculino foi mantida, de forma precária, até o começo do século XX. Os padres franciscanos abriram, em 1903, uma escolinha paroquial de natureza particular. A escolinha, que começou com 16 alunos, em pouco tempo tinha 32. Conforme os escritos dos padres franciscanos da época, a escolinha paroquial de Curitibanos sofreu muito no final do ano de 1907. As dificuldades para conduzir uma escola particular no interior eram imensas. Essa escolinha voltou a “se aprumar” somente em 1911. 

A escola para alunos do sexo masculino, mantida pelo Estado, foi destruída pelos caboclos fanáticos em 26 de setembro de 1914, então a partir de 1915, ela foi improvisada e restaurada. A jovem lageana Josefina Amorim foi a primeira professora nomeada pelo Estado para ensinar em Curitibanos nessa nova etapa da escola. Ela atuou como professora estadual, desde 1915 até 1933, quando se aposentou por motivos de saúde. A escola pública para alunos do sexo masculino ensinava às crianças, somente o conteúdo, que era chamado de escola primária, ou seja, quatro anos. Depois desses anos iniciais, caso o aluno fosse privilegiado e os pais pudessem arcar com as despesas, era mandado para outros centros, como Florianópolis, Caçador e/ou Curitiba.

Os anos de 1933 e 1934, foram de reviravolta para a área estudantil de Curitibanos. Chegaram no município, no dia 4 de fevereiro de 1933, as irmãs da Sagrada Família, Irmã Irene Wisniewski, Irmã Felícia Greboge e Irmã Isidora Charnikowska. No mesmo ano de 1933, as freiras iniciaram as suas atividades num novo colégio particular, inicialmente, com 83 alunos, com a implantação do curso primário de 1.ª a 4.ª série. Esse colégio se chamava Colégio Santa Teresinha.

Como havia muitas crianças, em Curitibanos, desprovidas de recursos financeiros, e também considerando a aposentadoria da professora Josefina Amorim, foi criado pelo Estado, também em 1933, o Grupo Escolar Arcipreste Paiva, que começou a funcionar em 1º de maio de 1934. O primeiro Diretor foi o professor Antonio Francisco de Campos, nomeado pelo Interventor Federal em Santa Catarina, o senhor Aristiliano Ramos.

Décadas se passaram sem haver alguma modificação significativa na área urbana educacional curitibanense, até que no início do ano de 1957, foi construído um novo colégio em Curitibanos. Esse educandário recebeu o nome de “Grupo Escolar Professor Antonio Francisco de Campos”. Paralelo a esse novo colégio, em 11 de março de 1958, foi fundado pela “União Pró­-Ginásio Curitibanense”, tendo como Presidente dessa entidade, o Sr. Evaldo Amaral, o Ginásio Casimiro de Abreu, concretizando o velho sonho do povo de Curitibanos. Somente na década dos anos de 1960 é que os filhos dos curitibanenses, principalmente os menos afortunados, puderam ter opções para estudar na sua terra natal, com o Colégio Secundário Casimiro de Abreu.

No dia 12 de outubro de 1963, através do Decreto da Secretaria de Educação n.º 796, o então Governador do Estado de Santa Catarina, senhor Celso Ramos, criou, em Curitibanos, o “Grupo Escolar Marechal Dutra”. O edifício que abrigaria o educandário deveria ser construído num terreno localizado no Bairro São Luiz. O teor do Decreto foi publicado na primeira página no Diário Oficial do Estado — DOE n.º 7.404, de 22 de outubro de 1963.

Conforme descrito anteriormente, havia em Curitibanos, três outras instituições de ensino mantidas pelo Estado de Santa Catarina, O Grupo Escolar Arcipreste Paiva, o Grupo Escolar Professor Antonio Francisco de Campos e o Ginásio Casimiro de Abreu. O Grupo Escolar Marechal Dutra foi o quarto educandário criado para atender a demanda de alunos curitibanenses que estava, naquela época das décadas de 1950 e 1960, em pleno crescimento.

Entre essa data de 1963 e a efetiva instalação do novo “Grupo Escolar” nas suas próprias dependências, demorou alguns anos. A primeira diretora nomeada da nova escola, foi a professora Iracema Olinda Maria Busato, removida, a pedido, do “Grupo Escolar Joaquim d’Agostini”, da cidade de Lacerdópolis/SC. O ato ocorreu no dia 24 de junho de 1965, tendo sido publicado no DOE do dia 28 de junho daquele ano. Por meio de Portaria emitida em 23 de agosto de 1965, o então governador Celso Ramos, designou, objetivando melhorar a qualificação profissional, a diretora Iracema, para frequentar o Curso de Supervisão Escolar. Tal curso foi ministrado pelo Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Rio Grande do Sul, na cidade de Caxias do Sul/RS, pelo período de cinco meses, de 1.º de agosto a 31 de dezembro de 1965. O curso de qualificação foi proporcionado pelo Estado de Santa Catarina, com todos os direitos e vantagens do cargo inclusas.

Com a troca de governadores de Santa Catarina, onde saiu em 31 de janeiro de 1966, Celso Ramos e assumiu Ivo Silveira, houve, logo no início, alguns meses após o início das aulas, a substituição da diretora Iracema. Conforme as informações do DOE do dia 25 de abril de 1966, a professora Julia Mello Ferreira, que estava ocupando o cargo de Regente do Ensino Primário, foi designada por meio de Portaria datada do dia 6 de abril daquele ano para “responder pela direção do “Grupo Escolar Marechal Dutra” com data retroativa a 15 de fevereiro. A ex-diretora Maria Célia Popinhak informou que as atividades no novo edifício do bairro São Luiz iniciaram somente em 1967. Mesmo nomeadas, as professoras e a direção permaneceram com atividades pedagógicas diárias nas dependências do antigo “Grupo Escolar Arcipreste Paiva”. A ex-professora, Eunícia dos Santos Lima, informou que os alunos não sabiam da existência de uma divisão escolar, parecendo que todos estavam estudando no “Arcipreste Paiva”. Somente os professores e a direção é que sabiam que no mesmo prédio havia dois colégios funcionando simultaneamente, o “Grupo Escolar Marechal Dutra” e o “Grupo Escolar Arcipreste Paiva”.

Dessa forma, e efetivamente, as aulas iniciaram no novo prédio, no bairro São Luiz, construído para a finalidade estudantil, no início do ano letivo de 1967. A ex-professora Marlene Caramori Moroso Córdova, informou que o prédio era considerado bonito e um tanto luxuoso para o bairro e época. Após instalados, havia uma preocupação com a conservação, higiene e limpeza do local. O chão era constantemente encerado e lustrado.

Quando chovia, havia uma estratégia toda especial com relação ao barro das ruas envoltas que, naquela época, não eram pavimentadas. As professoras, sob a orientação da direção, pediam para os alunos levarem, em dias de chuva, um par de chinelos para usarem na escola, enquanto os calçados enlameados ficavam guardados em local seco. A ex-professora Josefina Johann Rossa disse que para aqueles alunos que não tinham um par de chinelos, as próprias professoras cortavam algum tecido e faziam uma espécie de tapete, colocado sob as carteiras, para que eles não ficassem pisando no chão gelado.

As primeiras professoras nomeadas por concurso para trabalharem no “Grupo Escolar Marechal Dutra” foram: Zenilda Medeiros Zanchet, Helena Suzin Cambrussi, Francisca Cunha de Almeida, Eunícia dos Santos Lima e Maria Célia Popinhak. Tais informações estão na página 2, do DOE de 24 de fevereiro de 1966.

Em 26 de novembro de 1969, o governador do Estado removeu, por Decreto daquele dia, a servente Eutália Lemos Garcia das "Escolas Reunidas Professora Alice Macedo de Ataíde", localizada em Marombas, via Lebon Régis, para ocupar a mesma função no Grupo Escolar Marechal Dutra. Eutália trabalhou na escola do bairro São Luiz até 1978, quando enfrentou um sério problema de visão, todavia, por ser uma pessoa de extrema confiança, continuou a ser a zeladora das chaves do estabelecimento por muitos anos. Todos, na escola, gostavam muito dessa zeladora. Foi tão importante, que anos após a sua morte, a Câmara Municipal de Vereadores a homenageou com o nome de uma rua em Curitibanos.

O terreno onde foram construídas as edificações da escola, foi doado pela prefeitura de Curitibanos, conforme o Projeto de Lei n.º 42/1976, de 16 de setembro de 1976, e Lei Ordinária Municipal n.º 1250/1976, de 24 de setembro de 1976, que regularizaram a situação da transferência do imóvel territorial. Posteriormente, numa nova medição, a área de terras que era inicialmente de 3.600 m² passou para aproximadamente 5.200 m². Uma curiosidade que merece registro e parece um tanto estranha refere-se ao próprio terreno. Conforme a Lei Ordinária Municipal n.º 1053/1973, de 16 de novembro de 1973, o então prefeito Onofre Santo Agostini permutou com o senhor Osório Alves Góis a área de 3.600 m², onde se encontrava construída as edificações do Grupo Escolar Marechal Dutra. Dessa forma, sabemos hoje que a construção foi realizada em cima de um terreno particular e que só foi regularizado 10 anos depois do início das obras. Doado para o Estado, 13 anos depois.

Julia Mello Ferreira, permaneceu na direção do Grupo Escolar até 31 de agosto de 1969. Através da Portaria do dia 23 de janeiro de 1970, com data retroativa, o então governador Ivo Silveira designou Maria Célia Popinhak para ocupar o cargo de diretora da instituição. Ela permaneceu neste cargo até o final do ano de 1978. Em 25 de março de 1976 até 25 de setembro daquele ano, esteve afastada por licença prêmio, assumindo a direção do educandário Jandira Medeiros Giotti, conforme explicado nas informações constantes na Portaria P-n.º 2860-SEE, de 29 de junho de 1976.

Em 1979, assumiu a direção, Gentila Rodrigues Sbravatti que havia sido diretora no “Grupo Escolar Sólon Rosa”. 

Conforme especificado no Histórico da Unidade Escolar, do Projeto Político Pedagógico — PPP, o Grupo Escolar passou a ter nova nomenclatura através do Parecer da Secretaria de Educação do Estado n.º 306/1990, de 18 de dezembro de 1990. Esse, foi sacramentado pela Portaria n.º 025/1991, de 16 de janeiro de 1991, sendo conhecida a partir de então, como “Escola de Educação Básica Marechal Eurico Gaspar Dutra”. No ano de 1994, formou-se a primeira turma de 8.ª série.

Com a alteração, manteve-se o nome do homenageado “Eurico Gaspar Dutra”. Uma das razões pela escolha do nome é que este personagem da história do Brasil foi um político brasileiro, eleito para ser o 16.º Presidente do Brasil (1946 a 1951). Foi também Marechal do exército brasileiro, posto máximo na hierarquia militar, também, foi muito influente em várias áreas estratégicas. Na ocasião da escolha do nome do educandário a ser construído em Curitibanos, o então Governador Celso Ramos desejou homenagear o ex-presidente, por ter seu irmão Nereu Ramos, sido vice-presidente na ocasião em que o Marechal sentou na cadeira do chefe do Poder Executivo do Brasil.

A ex-diretora Maria Célia Popinhak informou que cada turma tinha, em média, 30 alunos. Como foram inicialmente nomeadas cinco professoras, essas foram responsáveis por cerca de 150 alunos. Agora, em 2023, quando são comemorados 60 anos da autorização de funcionamento do educandário, estão matriculados 469 alunos, sendo 220 no período matutino, 184 no vespertino e 65 no período integral. São 10 turmas do Ensino Fundamental I, 7 turmas do Ensino Fundamental II e 10 turmas do Ensino Médio.

O presente texto é um pequeno resgate histórico desses 60 anos de história. Muitas informações foram perdidas nas constantes mudanças de direção/secretariado e professoras. Uma pena, pois a história do colégio está explicitamente ligada à história do bairro São Luiz. Na ocasião em que foram construídas as edificações, segundo os antigos moradores do local, não havia pavimentação nas ruas, os terrenos ao redor do colégio eram de campos e matos. Havia a Serraria Cibema de propriedade do senhor Sérgio Valiatti, que movimentava bastante aquela região alta de Curitibanos com o fluxo de caminhões. No final dos anos da década de 1970, a Rádio Coroado AM mudou as suas instalações para a Rua Florianópolis, principal via de acesso, inclusive, para o colégio. Havia também, naqueles tempos, em funcionamento, no mesmo logradouro (Rua Florianópolis), o Moinho Santa Filomena, da família Demeneck. Eram apenas essas as atividades existentes no local, notadas a partir de quando o Grupo Escolar Marechal Dutra começou a funcionar no final dos anos da década de 1960.

Com o passar do tempo, o bairro foi crescendo, se expandindo, casas foram construídas, ruas foram pavimentadas, o próprio colégio ganhou ares de Escola de Educação Básica, recebendo uma melhor estrutura física, inclusive, com Ginásio de Esportes para proporcionar melhor conforto aos estudantes. E por falar neles, não foram poucos os que estudaram naquele educandário que orgulham Curitibanos com suas conquistas pessoais e profissionais, em várias áreas de atuação. Seria um erro nominar aqui alguns desses, em razão do esquecimento de nomes de valor.

Rogamos aos futuros dirigentes do educandário que conservem a história viva, como um legado à posteridade, como um exemplo a ser seguido. Preservando nomes de docentes e discentes, fatos e ocorrências que mereçam ser lembrados. Parabéns à família da E. E. B. Marechal Eurico Gaspar Dutra pelos 60 anos de história.



Referências para o Texto:


BRASIL. Decreto SE n.º 796, de 12 de outubro de 1963. Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, Poder Executivo, Florianópolis, SC, Ano XXX, Ed. n.º 7.404, 22 de outubro de 1963.


BRASIL. Decretos de 24 de junho de 1965. Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, Poder Executivo, Florianópolis, SC, Ano XXXII, Ed. n.º 7.847, 28 de junho de 1965.


BRASIL. Portarias do dia 23 de agosto de 1965. Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, Poder Executivo, Florianópolis, SC, Ano XXXII, Ed. n.º 7.904, 17 de setembro de 1965.


BRASIL. Decretos do dia 17 de fevereiro de 1966. Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, Poder Executivo, Florianópolis, SC, Ano XXXII, Ed. n.º 8.001, 24 de fevereiro de 1966.


BRASIL. Portarias de 6 de abril de 1966. Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, Poder Executivo, Florianópolis, SC, Ano XXXIII, Ed. n.º 8.038, 25 de abril de 1966.


BRASIL. Decretos do dia 23 de janeiro de 1970. Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, Poder Executivo, Florianópolis, SC, Ano XXXVI, Ed. n.º 8.835, 4 de fevereiro de 1970, p. 4.


BRASIL. Portaria P- n.º 2860-SEE, de 29 de junho de 1976. Diário Oficial do Estado de Santa Catarina, Poder Executivo, Florianópolis, SC, Ed. n.º 10.522, 9 de julho de 1976.


Com informações da ex-professora da instituição, Eunícia dos Santos Lima.


Com informações da ex-diretora da instituição, Maria Célia Popinhak


Com informações da ex-professora Josefina Johann Rossa


Com informações da ex-professora Marlene Caramori Moroso Córdova


Curitibanos — Projeto de Lei n.º 42/1976, de 16 de setembro de 1976.


Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 1250/1976, de 24 de setembro de 1976.


Curitibanos — Lei Ordinária Municipal n.º 1053/1973, de 16 de novembro de 1973.


Eurico Gaspar Dutra. Lista dos Presidentes do Brasil. Portal Wikipedia. On-line, disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Lista_de_presidentes_do_Brasil


Histórico da Unidade Escolar — Projeto Político Pedagógico da Escola de Educação Básica Marechal Eurico Gaspar Dutra. Curitibanos, fevereiro de 2020.


POPINHAKI, Antonio Carlos. Fatos Históricos de Curitibanos — Cartilha. Curitibanos/SC, 2023 60p.


Santa Catarina — Decreto SE n.º 796/1963.


Santa Catarina — Ato Provincial de 17 de novembro de 1864. 


Santa Catarina — Parecer da Secretaria de Educação n.º 306/1990.


Santa Catarina — Portaria da Secretaria de Educação n.º 025/1991.

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