segunda-feira, 11 de setembro de 2023

A MORTE DO TENENTE SOLLBERGER


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Trabalhei por 10 anos em São Cristóvão do Sul, município desmembrado de Curitibanos, através da Lei Ordinária Estadual n.º 8.555, de 30 de março de 1992. Nesse tempo, ao trafegar cotidianamente pela rodovia BR-116, numa das margens do km-179, notei diversas vezes a presença de uma placa indicando que naquele local, no ano de 1956, faleceu um oficial do Exército Brasileiro. Me chamava a atenção a anotação de que ele morrera “no cumprimento do dever na BR-116”. 

Os anos passaram, várias narrativas ou histórias relacionadas ao oficial e à sua morte chegaram até o meu conhecimento. Na placa de metal está estampado o seu nome, 2.º Tenente Engenheiro Roberto Ricardo Sollberger. Devido à recente informação de que a mesma foi removida e está atualmente, em local diferente daquele que eu a via no passado, resolvi pesquisar um pouco sobre esse personagem e a sua história.

Roberto Ricardo Sollberger nasceu em 9 de abril de 1931 na cidade de Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro. Seus pais se chamavam Frederico Sollberger, natural de Berna, Suíça, e Isaltina Domingues, natural de Petrópolis/RJ. O pai era comerciante e a mãe era funcionária pública federal. O jovem Roberto formou-se com distinção na academia militar em 1953, na Turma Tamandaré (homenagem ao Almirante Joaquim Marques Lisboa, o Marquês de Tamandaré, que se tornou o Patrono da Marinha do Brasil, uma homenagem do exército brasileiro a um oficial marinheiro). Em 25 de setembro de 1953, como Aspirante a Oficial, desligou-se da então Diretoria Geral da Academia Militar para seguir carreira nas fileiras do exército. Entre os seus primeiros serviços, encontramos, destacado, em 1954, para a 12.ª Companhia de Comunicações. Alguns batalhões do exército, costumeiramente, mudam a sede do seu acantonamento, por essa razão, não consegui informações do local onde essa Companhia estava, naquele ano. Depois, em 1956, foi designado para o 2.º Batalhão Rodoviário de Engenharia e Construções, acantonado em Lages/SC.

Dentre as tarefas daquele batalhão, estava a construção da Rodovia Federal BR-2 (posteriormente, BR-116). Era o tempo de ouro das construções, onde o Presidente da República, o senhor Juscelino Kubitschek de Oliveira, queria transformar o Brasil, progressistamente, 50 anos em 5 do seu mandato (31 de janeiro de 1956 – 31 de janeiro de 1961).

De Lages até o local onde hoje está localizado o município de São Cristóvão do Sul, local do acidente que vitimou o 2.º Tenente Engenheiro Roberto Ricardo Sollberger, temos 67 quilômetros pela mesma rodovia BR-116. No dia 11 de maio de 1956, ele estava fazendo medições, utilizando o seu instrumento de trabalho, o teodolito, ele procedia com a medição de um trecho sinuoso para o recebimento da pavimentação asfáltica. Estava concentrado no seu trabalho, em meio às anotações e a lente do equipamento, foi colhido repentina e brutalmente por um caminhão comercial que trafegava em alta velocidade.

O Tenente Sollberger não resistiu às numerosas fraturas recebidas. Foi levado imediatamente para o Hospital Nossa Senhora dos Prazeres de Lages, onde faleceu às 12 horas, do dia 13 de maio de 1956 (dois dias após o acidente). No seu registro de óbito consta que a causa da sua morte foi “traumatismo do crânio, fratura do crânio, base frontal e ossos da face”. Ainda diz que “foram feitos todos os procedimentos complementares”, não sendo possível, naquele estado, salvar ou prolongar a vida do oficial. Ele tinha, na ocasião, 25 anos, 1 mês e 4 dias de vida. Deixou a esposa, Anna Maria Lobo Sollberger e duas filhas de nomes: Angela Maria Lobo Sollberger, com um ano e quatro meses e Maria Cristina Lobo Sollberger com um mês e dezesseis dias.

O seu corpo foi movido para o então Distrito Federal, que naquela época, era Rio de Janeiro/RJ, sendo sepultado com honras no Cemitério Público São João Batista. O Exército Brasileiro soltou uma nota, informando que o Tenente Sollberger era considerado por todos, como um oficial de engenharia de admiráveis predicados.


“Cultuando a memória do saudoso oficial, o Comandante do 2.º Batalhão Rodoviário, a cuja frente se encontra o coronel Augusto Fragoso, fez erguer à margem da BR-2, no local exato em que ocorreu o acidente, um singelo marco que foi inaugurado pelo Presidente da República, quando da sua visita, em março de 1957, aos trabalhos de construção de estradas a cargo daquela Unidade do Exército”.


Transcorrido um ano do falecimento do Tenente Sollberger, realizaram-se em Lages várias cerimônias na sede do Batalhão. No dia 11 de maio de 1957, por ocasião da formatura matinal do Batalhão, o Major Delpho Pereira pronunciou uma oração relembrando a trágica ocorrência. Às 11 horas daquele dia, o bispo diocesano Dom Daniel Hostin oficiou uma missa solene na Catedral daquela cidade catarinense, em sufrágio da alma do saudoso oficial. No dia 13, em frente do marco inaugurado no local do acidente, a tropa e os funcionários do batalhão reuniram-se para renderem as suas homenagens ao companheiro morto no cumprimento do dever. Numa nota do Exército, de 1957, diz que “o Tenente Sollberger é um autêntico mártir da nossa engenharia Militar Rodoviária” (Notícias Militares).

Depois de 22 anos, no dia 30 de outubro de 1978, na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, a viúva, Anna Maria Moraes Lobo Sollberger (Pedagoga), casou com o fazendeiro, Rubens Pinheiro de Toledo. Ela tinha, na ocasião, 44 anos e passou a assinar como Anna Maria Lobo de Toledo. O casamento foi em regime de comunhão universal de bens.

Para encerrar, vale ressaltar que o Presidente da República que inaugurou a Placa de Bronze no local do acidente, que vitimou o Tenente Sollberger, em São Cristóvão do Sul, foi Juscelino Kubitschek de Oliveira. Portanto, rogo para que as autoridades dessa cidade, na pessoa da Gestora Municipal, mande recolocar a placa de bronze no seu devido lugar. Caso contrário, uma fração da história do município se perderá, pois a mesma possibilita lembrar os munícipes, de que no dia 31 de março de 1957, o Presidente da República, Juscelino Kubitschek de Oliveira, visitou o local, hoje chamado de São Cristóvão do Sul.



Referências para o Texto:


2.º Ten Eng Roberto Ricardo Sollberger (Missa de 7.º Dia). Correio da Manhã, ed. 19371. Rio de Janeiro, domingo, 20 de maio de 1956, p. 26.


Boletim do Pessoal — O Jornal Rio de Janeiro, quarta-feira, 7 de abril de 1954, p. 4.


Cartório de Registro Civil de Campo Grande/MS.


Cartório de Registro Civil de Lages/SC.


Convite Missa. Correio Lageano. Ano XVII, Ed. n.º 37. Lages, 8 de maio de 1957, p. 2.


Desligamento de Aspirantes a Oficial. Correio da Manhã, 2.º Caderno. Ed. 18560, ano LIII. Rio de Janeiro, sexta-feira, 25 de setembro de 1953, p. 1.


Fotografia de Nelson Antonio de Moraes


Preito de Homenagem na BR-2 — Jornal O Estado de Florianópolis. Ed. 13065. 1957, p. 12.


Rende o Batalhão Rodoviário preito de homenagem ao Ten. Sollberger — Mártir da Engenharia Militar. Correio da Manhã, 1.º Caderno. Rio de Janeiro, domingo, 26 de maio de 1957, p. 14.


Santa Catarina — Lei Ordinária Estadual n.º 8555/1992.


Ten. Roberto Ricardo Sollberger (Missa de 7.º Dia). Correio da Manhã, ed. 19371. Rio de Janeiro, domingo, 20 de maio de 1956, p. 27.


Transitará por Lages o Presidente JK. — Correio Lageano. Ano XVII, Ed. n.º 26. Lages, 30 de março de 1957, p. 1


Turma Tamandaré — Correio da Manhã, ed. 20055. Rio de Janeiro, quarta-feira, 13 de agosto de 1958, p. 20.

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