segunda-feira, 3 de abril de 2023

O CAPITÃO CALOTEIRO

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Foi na gestão de Salomão Carneiro de Almeida que aconteceram os seguintes fatos, envolvendo algumas pessoas importantes da história de Curitibanos, e outras, não tão renomadas. Todavia, todas foram importantes, pois a história aconteceu e merece ser contada.

Salomão Carneiro de Almeida, conhecido também pelas alcunhas de Salico e Salo, foi, talvez, o mais polêmico prefeito que Curitibanos já teve. Assumiu como chefe do poder executivo, na sua primeira vez, em 25 de março de 1940, sendo nomeado pelo Interventor Federal em Santa Catarina, que naquela época, era o lageano Nereu Ramos. Ficou ocupando a cadeira de prefeito até o dia 15 de novembro de 1945. Depois, de 21 de fevereiro de 1946 até 9 de maio de 1947. Finalmente, foi prefeito eleito, assumindo em 13 de dezembro de 1947 até 30 de janeiro de 1951. No dia 21 de março de 1945, recebeu uma homenagem dos seus amigos, em forma de uma placa comemorativa, pelo seu 5.º aniversário de governo à frente do poder executivo municipal. Essa placa está fixada na parede do prédio da antiga Prefeitura Municipal de Curitibanos, hoje, o prédio que abriga o Museu Histórico Antônio Granemann de Souza. Várias foram as histórias, os fatos e ocorrências registradas e contadas pelos munícipes até os dias de hoje. Algumas dessas histórias, cômicas, outras tristes.

Quem viveu naqueles anos das décadas de 1940 e 1950, conta que o ex-prefeito Salomão mandava e sua palavra era a autoridade em Curitibanos. Isso por causa do grande prestígio que tinha com os membros da família Ramos, que disponibilizaram, ao longo dos anos, vários governadores, deputados e políticos em Santa Catarina e no Brasil. Como tinha esse apadrinhamento, ninguém ousava contestá-lo, nem mesmo o juiz da Comarca, ou o delegado, ou mesmo o comandante da Polícia Militar. Era ele que indicava as nomeações para cargos estaduais em Curitibanos, tudo tinha que ser conforme o seu desejo. É bem verdade, que tinha algumas pessoas que o afrontavam, que o rotulavam de “burro”, por essa razão, os apelidos. Foi um prefeito que se preocupou mais com a sua imagem pessoal. Não foi um construtor de obras, a não ser, nominar, ele mesmo, a principal avenida de Curitibanos com o seu próprio nome. Ele queria deixar uma marca na história local, e deixou.

Na sua gestão, foi transferido para trabalhar em Curitibanos, um capitão da Polícia Militar, alinhado politicamente com os ideais partidários do mandatário local. Naquele tempo, já haviam sido construídas as instalações do quartel da Polícia Militar, na rua Barão do Rio Branco. O grupamento era uma “Companhia Provisória da Força Pública de Curitibanos”. Havia soldados recrutados voluntariamente e poucos oficiais. Esse capitão escolheu para morar, uma casa que ficava onde hoje é a rua Luiz Dacol, perto de onde está edificado o Colégio Casimiro de Abreu. A mulher desse capitão contratou uma empregada doméstica para os afazeres da casa. Essa empregada não morava longe. Era um tempo, onde todos em Curitibanos, se conheciam e a maioria se tratava com respeito. Essa empregada, apesar de ser pobre, era muito conhecida entre os curitibanenses. Ela aceitou trabalhar com a esposa do Capitão. Acertado o valor do trabalho, que seria pago por mês, disse:

— Tenho uma condição, eu tenho um bebê pequeno. Não moro longe, então, em horários definidos, preciso me ausentar para dar de mamar pra criança.

A esposa do Capitão concordou com os termos da nova empregada. Todos os dias, em horários escolhidos e acertados, a mulher se ausentava para dar de mamar ao seu bebê. Aconteceu que passados três meses, nem a esposa do Capitão, nem ele próprio, fizeram qualquer pagamento pelos serviços prestados à empregada doméstica. Eles, por alguma razão, não perceberam a necessidade dessa mulher. Certo dia, por não ter mais como protelar, precisou cobrar os patrões. Numa manhã, enquanto ambos estavam em casa, a empregada falou:

— Eu preciso do dinheiro do pagamento dos três meses. Eu não sou rica, trabalho porque realmente preciso.

O casal estava tomando café da manhã. O desconforto pela cobrança, logo cedo, fez com que os ânimos se exaltassem ao ponto da empregada mostrar-se insistente e alterar o tom de voz. Foi o suficiente para que o Capitão chamasse dois soldados para prender a pobre mulher.

Os soldados conduziram coercitivamente, a empregada da casa do Capitão da Polícia Militar de Curitibanos, para uma cela do quartel, localizado na rua Barão do Rio Branco. Mandou prender por desacato. Era de manhã cedo, poucas pessoas viram e presenciaram o movimento de policiais na residência do Capitão. Mesmo os que viram, não deram importância, pois consideraram normal a entrada e saída de policiais na casa do chefe militar.

Passou o primeiro horário do bebê mamar, a mãe não pôde ir, pois estava presa. Passou o segundo horário, o terceiro horário, a mãe não apareceu. Os familiares da empregada foram na casa do Capitão, a esposa respondeu-lhes:

— Aqui, ela não está.

Até que, depois de muito procurarem, alguém contou que viu um movimento de policiais, logo cedo, na casa do Capitão. Os familiares da pobre mãe foram até a sede da Polícia Militar em busca de respostas. Chegando lá, encontraram-na encarcerada. Houve então, uma mobilização para soltá-la. Como era pessoa conhecida, de boa índole, teve apoio em seu favor, inclusive, do senhor Lauro Antonio da Costa, que era cunhado de Salomão Carneiro de Almeida e também era fazendeiro. Também esteve empenhado em soltar a pobre mãe, o antigo secretário municipal e correspondente bancário, o senhor Ceslau Silveira de Souza. Houve mais três pessoas influentes junto, totalizando cinco que se dirigiram até o prédio da Prefeitura Municipal, com a finalidade de soltar imediatamente a infeliz mulher.

Esses cinco homens conseguiram persuadir o prefeito a dar ordens de soltura, depois, retornaram para conversar novamente sobre a arbitrariedade e a falta de ética do Capitão. Chegando na sala do Prefeito, que ficava no andar superior do prédio, próximo à igreja Matriz, os cinco homens tiveram tempo de expor suas impressões sobre o ocorrido. Basicamente o pedido foi alinhado:

— Você tem que pedir ao governador para transferir esse Capitão de Curitibanos. Nós não queremos mais esse militar aqui no nosso meio. Olha se tem cabimento, mandar prender uma mãe que ainda está amamentando e que trabalhou três meses na sua casa, sem receber salário? Você acha justo isso? Precisa pedir imediatamente a transferência.

Foram incisivos. Disseram que “não queriam mais o Capitão trabalhando em Curitibanos”. E que o prefeito, como amigo e membro do mesmo partido do governador, deveria pedir a transferência. Os cinco homens falaram, não foi a palavra de um ou dois representando os demais, os cinco tiveram a oportunidade de expor e reivindicar ao prefeito a razão da visita. Para surpresa geral, quando todos tiveram a oportunidade de falar, o prefeito Salomão Carneiro de Almeida deu um soco forte na mesa e disse, em alto e audível som:

— Ele fica!

Todos deram por encerrada a reunião, ou audiência com o prefeito. Saíram quietos, sem mais argumentar. Ao saírem do prédio da prefeitura, confabularam ainda nos arredores.

— Precisamos arrumar um candidato para derrubar esse homem. 

A conversa rumou para esse lado, o de arrumar uma pessoa, que na próxima eleição, vencesse nas urnas e se sentasse na cadeira de prefeito, em oposição ao então Salomão Carneiro de Almeida. A esposa de Lauro Antonio da Costa era irmã da esposa de Salomão, isso não foi um empecilho para que o escolhessem como candidato. Ele não queria, não se julgava competente para assumir cargo de tamanha responsabilidade. Mas, devido à grande insistência dos amigos, não conseguiu se desvencilhar, tornando-se assim, opositor ao então, atual regime político de Salomão Carneiro de Almeida.

A eleição para prefeito ocorreu em 3 de outubro de 1950, em 31 de janeiro de 1951, Lauro Antonio de Costa assumiu definitivamente o cargo de Prefeito Municipal de Curitibanos, até o dia 31 de janeiro de 1956. Concorreu à eleição como candidato indicado por Salomão Carneiro de Almeida, o senhor Hilário Quadros de Andrade.

Dessa forma, muitas novidades surgiram em Curitibanos a partir dessa mudança. A mais significativa foi o inédito sistema de plantio de pastagem de inverno, implantado a partir de pesquisas realizadas. Naquele tempo, os fazendeiros perdiam dezenas e até centenas de cabeças de gado no inverno, quando as pastagens secavam. Lauro Costa, como ficou conhecido, resolveu esse problema. Outra mudança que vale ser escrita e perpetuada, foi que ele fez um Decreto proibindo de se colocar nome de pessoas vivas em obras públicas. Em 1952, foi construído o campo de pouso e decolagens de aviões de pequeno porte, também chamado de “campo de aviação”, a população da época, queria que essa obra tivesse o nome do prefeito. Ele não quis e nem aceitou. É claro, que anos depois, esse Decreto foi revogado.



Referências para a produção do texto:


Com informações de Aldair Goetten de Moraes


Imagem meramente ilustrativa, retirada da internet.


POPINHAKI, Antonio Carlos. Salomão Carneiro de Almeida. Blog curitibanenses. On-line, disponível em: http://curitibanenses.blogspot.com/2013/05/salomao-carneiro-de-almeida.html


POPINHAKI, Antonio Carlos. Lauro Antonio da Costa. Blog curitibanenses. On-line, disponível em: https://curitibanenses.blogspot.com/2017/11/lauro-antonio-da-costa.html

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