Texto de Antonio Carlos Popinhaki e
Nelson Antonio de Moraes
Para uma melhor compreensão sobre o histórico do município de São Cristóvão do Sul, precisamos contextualizar o seu passado, com documentos fundamentados e produzidos por cartórios. Isso mostra relevância, principalmente, devido aos números das matrículas e dos registros. Os indígenas da etnia Kaingang foram os primeiros moradores da região. Eles também foram os primeiros proprietários das terras do planalto catarinense. Todavia, para a coroa portuguesa, os proprietários precisavam ter comprovação com documentação, o que não era o caso dos indígenas. Dessa forma, o proprietário legal mais antigo que se tem notícias das terras que compreendiam parte da antiga Fazenda Monte Alegre, que hoje faz grande parte do território de São Cristóvão do Sul, foi o ex-superintendente de Curitibanos, Francisco Ferreira de Albuquerque. Em 1913, ele vendeu essa propriedade para o Tenente-Coronel Maximino Antonio de Moraes, que durante a Guerra do Contestado, numa tentativa de salvaguardar a sua família do centro do conflito, construiu a sua residência nessa nova propriedade. Em 1918, Maximino adquiriu outra área de Guardiano Pires de Moraes, anexando a mesma à anterior, perfazendo dessa forma, uma enorme fazenda que permaneceu com o nome de Fazenda Monte Alegre.
Maximino Antonio de Moraes, antes era morador do Distrito de São Sebastião da Boa Vista (São Sebastião do Sul). Ficou viúvo entre 1902 e 1903. Ele trouxe para a sua residência, na Fazenda Monte Alegre, além dos seus quatro filhos menores, frutos do seu segundo casamento em 1904, a segunda esposa (Maria Luiza Thibes) e os pais, Leandro Antonio de Moraes e Maria Tibes. No local, foram construídas algumas benfeitorias, como a casa que serviu como sede da fazenda, potreiros e um cemitério para uso familiar. Nesse cemitério foi sepultada a sua mãe que faleceu no dia 28 de agosto de 1916. Sendo essa, a primeira pessoa de que se tem notícias e registro sepultada na Fazenda Monte Alegre.
O casal Maximino e Maria Luiza tiveram nove filhos. No dia 24 de agosto de 1934, faleceu em sua residência, na Fazenda Monte Alegre, deixando bens a inventariar. Um dos seus filhos, de nome Florisbal Bragança de Moraes, herdou parte da Fazenda Monte Alegre. Depois, com o passar dos anos, adquiriu outras glebas herdadas pelos irmãos e áreas de terceiros vendidas pelos mesmos herdeiros. Dessa forma, Florisbal conservou a área original da Fazenda Monte Alegre e ainda aumentou o patrimônio familiar.
Florisbal casou-se em 1932 com Graçulina Felipe dos Santos. O casal residiu na “Invernada do Guardiano”, local onde nasceram seus dois filhos, Nery Brasil de Moraes, em 1933 e Nerico Antonio de Moraes, em 1935. Moraram no local até mais ou menos 1937/8, depois, construíram uma nova residência numa região, que foi denominada de “Encruzilhada de Monte Alegre” (o lugar exato dessa residência, atualmente, fica ao lado da sede da Prefeitura Municipal de São Cristóvão do Sul). Dessa forma, podemos afirmar que Florisbal Bragança de Moraes foi considerado o primeiro morador do que seria hoje a sede do município.
“Bá Moraes”, como ficou conhecido por todos, tinha, entre seus muitos afazeres, a atividade de captura de capivaras no Rio Marombas. Essa atividade era muito lucrativa na época. Havia muitas capivaras a serem capturadas, as mesmas eram consideradas “pragas” nas plantações dos agricultores. Além da casa construída na fazenda Monte Alegre, seu pai, Maximino, adquiriu em 1917, na vila de Curitibanos, um terreno e casa que ficava entre as ruas Lauro Müller e Santa Catarina (Caminho das Tropas). No local, havia um vizinho de nome Felisbino Ortiz, que possuía uma casa comercial, para quem Bá Moraes trazia a banha das capivaras e o couro para serem comercializados. Como citado anteriormente, esse negócio de venda de banha e couro de capivara foi muito lucrativo na época. A maioria das terras adquiridas por Bá Moraes, se deu, por causa dessa atividade. Ele não escondia isso de ninguém.
O início dos anos da década de 1950 foi promissor para a região do planalto catarinense. Na região, havia uma enorme quantidade de árvores centenárias, principalmente, de araucária angustifolia. Essas árvores, também chamadas de pinheiros, eram derrubadas, as toras eram transportadas para serem serradas e a madeira era comercializada. Na região de Monte Alegre havia uma densa floresta dessa espécie. Bá Moraes, que era um dos proprietários das terras, logo constatou a necessidade de trazer para a região uma serraria, para serrar parte desses pinheiros. Se instalaram várias serrarias a partir do final da década de 1950. Essa atividade de extração de pinheiros perdurou até a década de 1980.
Nesse meio tempo, o casal Bá e Graçulina montaram um hotel na Encruzilhada. O nome do hotel era “Hotel Maravilha”. Aproveitaram a nova rodovia BR-2 (antecessora da BR-116) que estava para ser asfaltada e ligaria a região de Curitiba ao Rio Grande Sul. Exploraram essa atividade hoteleira até o ano de 1965. Além dos serviços de pernoites, havia no local, lanchonete e restaurante. Os muitos motoristas que utilizavam os serviços do estabelecimento, sugeriram no início dos anos da década de 1960, para a Dona Graçula, a alteração do nome do lugar, alterado de Encruzilhada de Monte Alegre, para São Cristóvão do Sul. Havia também algumas pessoas que popularmente chamavam o local de Encruzo.
O povoado se desenvolveu com a construção de inúmeras casas dos funcionários das serrarias. Uma igreja foi construída, depois a empresa Reunidas S.A. Transportes Coletivos abriu uma agência rodoviária, no Bar e Lanchonete Calipso, de propriedade de José Farias Pereira, o Juca do Bar, como era conhecido. A empresa de ônibus de Caçador utilizou o local para embarque e desembarque de passageiros.
Em 1967, apareceu uma nova proposta para Bá Moraes, uma empresa de São Paulo (D’Ans & Borges Ltda.) se associou com o fazendeiro do novo Distrito de São Cristóvão do Sul e formaram a empresa Cia. Bragança de Hotéis S.A. com o objetivo da construção, segundo nota no Jornal Farol da Serra, do melhor e mais moderno hotel da América do Sul. Segundo a reportagem, as edificações seriam na localidade de Meu Postinho, ao lado da Rodovia BR-116, com 100 apartamentos iniciais, bar, restaurante, diversos salões, força motriz, posto de gasolina, moderna estação rodoviária e estação de rádio para comunicações com diversas capitais do Sul. A área destinada era de 10 hectares. Por alguma razão desconhecida, o empreendimento não vigorou. Seria uma ótima oportunidade para o desenvolvimento do local.
No dia 13 de maio de 1963, através da Resolução n.º 3/63, a Câmara Municipal de Curitibanos criou o Distrito de São Cristóvão do Sul. Homologado pela Lei Ordinária Estadual n.º 890/1963. Desde esse ano houve um grupo de pessoas que formaram um movimento pró-emancipação do Distrito de São Cristóvão do Sul, elevando o povoado à categoria de município. Esse movimento ganhou força a partir do ano de 1991, com a criação de abaixo-assinados e plebiscitos para o desmembramento do território de Curitibanos.
Em 30 de março de 1992, através da Lei Ordinária Estadual n.º 8.555, foi criado o município de São Cristóvão do Sul com todas as confrontações especificadas, salvo a localidade de Campo da Roça de Cima anexada ao território são cristovense em 8 de maio de 1996, através da Lei Ordinária Estadual n.º 10.081/1996.
No início da década de 1980, o casal Bá e Graçulina deixou esta vida, entretanto, o exemplo de dedicação e empreendedorismo desse casal serve como exemplo para gerações futuras. Graças a esses, existe o município de São Cristóvão do Sul, um dos mais promissores da região central de Santa Catarina.
Referências para o Texto:
Maria Tibes. Registro de óbito. Cartório de Registro Civil de Curitibanos.
O Melhor da América do Sul. Jornal Farol da Serra. Curitibanos, Santa Catarina, 15 de abril de 1967. Ano I, Ed. n.º 46, p.1.
Santa Catarina — Lei Ordinária Estadual n.º 10.081/1996
Santa Catarina — Lei Ordinária Estadual n.º 8.555/1992
Santa Catarina — Lei Ordinária Estadual n.º 890/1963
Curitibanos — Resolução n.º 3/1963
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