quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

O Mistério do Sumiço da Placa


Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Na primeira gestão do Governador Esperidião Amin Helou Filho, mais precisamente entre os anos de 1983 e 1987, em Curitibanos, na Praça da República, foi erigido um monumento em memória ao conflito social, denominado de Guerra do Contestado. Na verdade, várias cidades catarinenses identificadas como locais de batalhas ou de estabelecimento de acampamentos, ou redutos de caboclos, também foram agraciadas com semelhantes monumentos.

Naquele ano de 1986, na época da colocação dos monumentos, o prefeito era o senhor Armando Costa, Tais monumentos fizeram parte das comemorações do 70º aniversário do acordo da “Questão dos Limites” territoriais entre os estados de Santa Catarina e Paraná. Naquela época, no município, existiam poucas publicações sobre o assunto “Guerra do Contestado”. Na verdade, os curitibanenses tiveram acesso a dois livros publicados pela escritora local, Zélia de Andrade Lemos. Um, era um registro de seu tio Alfredo de Oliveira Lemos, contemporâneo do conflito do início do século XX. O outro, foi publicado pela autora no ano de 1977, com o nome de “Curitibanos na História do Contestado”.

A senhora Zélia de Andrade Lemos, se considerava e era considerada por aqueles de seu círculo de amizade, como uma especialista no assunto “Contestado”. Na verdade, segundo informações de pessoas que conviveram com ela, a mesma se sentia ofendida se aparecesse, em Curitibanos, algum trabalho acadêmico, artigo ou publicação sobre o Contestado, sem uma prévia consulta particular à sua pessoa. 

E foi o que aconteceu com a instalação do monumento na Praça da República. De acordo com algumas informações, inclusive do advogado e ex-deputado estadual, Walter Tenório Cavalcanti, no seu livro “Guerra do Contestado — Verdade Histórica”, de 1995. A senhora Zélia teria ficado ofendida pelo texto apresentado por parte da equipe do governo estadual, que dizia:


Este monumento perpetua a data de 26/09/1914 de triste lembrança para a população desta cidade. Aqui acontece o episódio do incêndio de Curitibanos quando um grupo de caboclos na luta contra o coronelismo, ataca a cidade, incendiando prédios esfaqueando as casas dos moradores que fogem para as cidades vizinhas. Por 3 dias os sertanejos, sob o comando de “Castelhano”, fizeram imperar violência e pânico em toda a cidade, despejando sua revolta contra fazendeiros e autoridades.


A escritora e alguns pseudo-intelectuais da época, viram um erro grotesco em tais palavras. Ela anotou que “a placa perpetuou grande erro de concordância”, pois, de acordo com a sua linha de pensamento, a vila de Curitibanos estava praticamente abandonada na época da invasão e incêndio, “os estrangeiros encontravam-se no Rio de Janeiro, os fazendeiros, longe da vila, os coronéis politicavam em Florianópolis”. O que ela não percebeu, foi que a violência contra os políticos, coronéis e fazendeiros não foram direcionados diretamente a estes, mas sim, indiretamente. O que lhes fez muito bem, pois, os caboclos, ao queimarem escrituras e documentos de posses de terras do Cartório de Curitibanos, favoreceram esses homens após o término do conflito, em 1916, que, na sua maioria, remanejaram as cercas de suas fazendas, aumentando grandemente suas riquezas, sem contestação.

Conforme a linha de raciocínio da escritora, seguida pelo ex-deputado Walter Tenório Cavalcanti, “o autor, ou autores dessas placas”, se deixaram levar pelo conhecimento de pseudo-historiadores esquerdistas, que viam o conflito como uma luta de classes. Os escritores curitibanenses viam “jargões comunistas” nos textos das placas, conforme explicado no livro do ex-deputado.

O que aconteceu em Curitibanos após a instalação do monumento foi que sorrateiramente, inflados por esses pensamentos, alguém surrupiou a placa colocada pelo Estado de Santa Catarina, no monumento da Praça da República, fazendo com que, meses depois do sumiço, outra placa idêntica fosse produzida e fixada no lugar.

Com o passar do tempo, depois de vários comentários e levantamento de hipóteses, a placa sumida, certo dia, apareceu. Há quem diga, sem provas, que integrantes da equipe da administração da prefeitura da época, foram convencidos pela escritora Zélia, devido à sua influência e “expertise” no assunto Contestado, a remover e ocultar a placa. Hipóteses surgiram em todos os cantos do município, sem comprovação alguma, fazendo do fato, um mistério até hoje, não solucionado.

Hoje, a placa removida encontra-se no Museu Histórico Antonio Granemann de Souza, em Curitibanos. O presente texto visa apenas lembrar dos fatos passados e esquecidos. Visa também, mostrar a todos, a grande influência conservadora, encrustada em alguns formadores de opinião, remanescentes da linhagem de coronéis e fazendeiros locais, que em quase tudo, veem comunismo e obras dos esquerdistas.


Referências para o Texto:


CAVALCANTI, Walter Tenório. Guerra do Contestado — Verdade Histórica. 2.ª ed. Editora UFSC. Florianópolis, 2006.


Com informações de Aldair Goetten de Moraes


Com informações de Aldo Dolberth