terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

NA BALSA DO POPINHAK

Por Antonio Carlos Popinhaki


A história a seguir, eu retirei dos escritos de Euclides J. Felippe, especificamente, de um dos seus muitos trabalhos, intitulado “O Caminho das Tropas! Curitibanos, o Berço do Tropeirismo em Santa Catarina”. O exemplar foi doado, conforme uma dedicatória escrita a próprio punho pelo autor, encontrada no início do livro, para o acervo do Museu Histórico Antonio Granemann de Souza de Curitibanos/SC em 26 de novembro de 1991. Contém muitas pequenas histórias relevantes que podem ajudar a muitos na preservação e na manutenção das tradições culturais curitibanenses. O livro está impresso numa espécie de cópia xerografada em folhas de papel Ofício, com a margem esquerda (medianiz) toda perfurada, sendo as folhas amarradas uma sobre a outra, com um cordão de cor esverdeado, muito bem amarrado. Provavelmente, o volume seria encadernado com uma capa dura. O texto também está publicado num outro livro do mesmo autor, conforme referenciei abaixo.

O título é “Na Balsa do Popinhak”, fazendo alusão ao meu tio-avô João Popinhak, que teve a concessão para construir uma balsa sobre o rio Marombas no final da década de 1930. Posteriormente, o meu avô Gregório Popinhak o substituiu temporariamente nesse serviço de balseiro, até ser contratado pela Fábrica de Papel e Papelão Marombas naquela localidade. A história segue abaixo, conforme o autor a apresentou em seu trabalho:

“Estamos em 1940. Durante a Segunda Guerra Mundial. Com a falta de gasolina, os nossos caminhões eram movidos a gasogênio (*) por combustão à lenha ou carvão, com o que diminuía a potencialidade do motor pela metade. 

O transporte de passageiros ainda se fazia por caminhões com toldas de lonas e os bancos de tábuas brutas presas aos lados da carroceria. Viajávamos para Caçador. Ao alcançarmos o rio Marombas, a balsa do Popinhak estava dando passagem a uma tropa de porcos. Após alguma espera, chegou a nossa vez. Ao atingirmos a margem oposta, faltou força ao motor para vencer a subida do barranco. O tropeiro e os peões foram solícitos em nos auxiliar a impelir o veículo até superar a rampa.

Um dos passageiros, que trazia um litro de conhaque, ofereceu um gole a cada um dos que ajudaram a empurrar o carro. Dirigindo-se ao tropeiro, que era homem franzino:

- Beba um trago, baixinho; você bem o mereceu.

Ao que o dono da tropa, tomando o litro às mãos, fez uma mesura, deu um passo à retaguarda e retrucou com altivez:

- Sou baixo na estatura, arto na posição. Grosso na algibeira, e fino na inducação.

O tropeiro foi ovacionado por uma forte salva de palmas”.

Essa foi mais uma das inúmeras histórias de tropeiros, que aos poucos vamos resgatando e passando adiante. A minha intenção é compilar, produzir e reproduzir textos que possam ajudar os alunos, pesquisadores, simpatizantes e pesquisadores da história curitibanense.


(*) Um motor específico que funciona com gases (nitrogênio, hidrogênio, monóxido de carbono, metano). O combustível gasogênio surgiu no Brasil durante a crise do petróleo decorrente da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o racionamento de gasolina imposto pelo governo brasileiro obrigou os motoristas a converter seus carros para funcionar com gasogênio (gás obtido por meio da queima de carvão). – Fonte: HTTPS://m.brasilescola.uol.com.br


Referência para o texto:


FELIPPE, Euclides J. Caminho das Tropas em Santa Catarina (O), O Pouso dos Curitibanos, 1ª edição do autor, 1996, Curitibanos-SC. 158 p.

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