Adaptado por Antonio Carlos Popinhaki, à partir do texto de Juvenal Bráulio Bacelar, de 22 de fevereiro de 1974
Juvenal Bráulio Bacelar era uma espécie de cronista na antiga cidade de Curitibanos. Escreveu várias curtas biografias sobre seus contemporâneos habitantes. Dentre esses escritos, encontrei um, que se referia a três personagens da nossa história. Esquecidos pela maioria, mas imortalizados nas linhas delineadas pelo vigilante da história. Segundo as suas palavras:
“Como simples cronista das coisas acontecidas nesta querida cidade de Curitibanos, sentimos que não devemos omitir nomes de pessoas que fizeram parte de uma época nas suas ruas, tornando-se atraentes pelas suas anormalidades inocentes. Tais são eles: João Bobo, Francisco da Igreja e Acácio. Todos já residem no mundo dos espíritos. Certamente, São Pedro, ao topar com suas almas, teria dito:
— Vocês são de Curitibanos? Entrem! Sejam bem vindos. Tenho em meu poder o “diário” de vocês lá na terra, que, por ser de humildade, terão boa acolhida e nossas bênçãos.
João Bobo perambulava, ao sabor dos ventos, pelas ruas da cidade e abordava as pessoas do seu conhecimento, às quais transmitia as novidades do dia:
— Hoje chega aqui o Senhor Governador! Está preparado um grande banquete para a sua excelência — é o governador… É o governador, e repetia várias vezes.
Ou, outra autoridade qualquer.
— O Deputado fulano.
Ou outra personalidade do momento. Conhecia todos os homens importantes do Município.
— Seu Juvenal… hoje chega o Vicente, chega o Vicente — (repetia sem cessar).
Ele me informava, postado na esquina das ruas Quintino Bocaiúva e Conselheiro Mafra, de onde, como ponto estratégico, se avistava os pousos dos aviões. Este senhor Vicente foi o primeiro aviador a cortar o céu de Curitibanos e pousar nas imediações do atual cemitério.
João Bobo tinha a sua paixão: o ex-PSD. A sua máxima preocupação: tocar os sinos da Igreja, às seis horas da manhã, ao meio-dia e às seis horas da tarde. Assim completava a sua tarefa diária. Sucumbiu a um enfarte.
Francisco da Igreja se preocupava com as coisas atinentes da Paróquia local, assistindo às missas, servindo de curumim. Acompanhava os enterros, depois que os mortos eram recomendados, postando à sua frente, uma cruz de madeira. Atendia a chegada dos ônibus e carregava as malas e pacotes dos viajantes. Com isso, sustentava a sua pobre mãe. Todos o queriam e o estimavam. Era uma rica criatura. Os bons entes de coração abastados, o cercavam nas ruas, estendendo-lhes suas mãos, dando-lhes uma esmola. Nessa situação, numa noite sinistra, após aguardar a chegada dos ônibus, ainda quando a rodoviária funcionava no prédio Tortato, tomou o rumo da sua residência, uma pequenina casa situada na zona sul da cidade. Foi surpreendido por um louco, que lhe desferiu 57 facadas. No local, soltou os seus últimos suspiros. Da mesma sorte que o anterior, foi recebido e afagado pelo “senhor da chave dos céus”.
Temos que analisar, por fim, o senhor Acácio. De tantas correrias entre a piazada da cidade, que não o deixavam em paz:
— Acácio! Vai tomar banho!
Ele, em sua defesa, investia violento contra aqueles que o importunavam. Foi uma figura humana muito singular. Perambulava pelas ruas da cidade, transportando um saco carregado de lenha e, de sobressalente, pedaços de lenha ou de madeira às costas. Quando mexericado pelos andantes, ah! Senhor! — o mundo caia aos pedaços, pois sua reação era violenta. Armado de cacete, investia contra uns e outros. As pessoas mais generosas davam-lhe dinheiro e então seu contentamento era infinito. Essas, ele seguidamente, as procurava.
— Têm uns trocados?
Ele distinguia pessoa por pessoa, citando o seu nome.
— Seu Bacelar! Tem um trocadinho aí?
Sem dúvida, ele era um “débil mental”. Vivia solto, sem um tratamento adequado. Mas, em si, era uma criatura mansa. Viveu apenas para o divertimento da molecada. Morreu, atropelado, por uma Kombi, na boca da noite, que fraturou o seu crânio, inapelavelmente, sem recursos clínicos, pois, prontamente foi atendido. Ele está lá nas alturas, reunido aos seus conterrâneos, abençoado pelo Senhor”.
Segundo o autor, essas pessoas eram simples. Eu mesmo conheci o João Bobo e o Acácio. Lembro vagamente deles! Seus funerais foram cheios de pessoas, que, em reconhecimento pessoal, prestaram-lhes as últimas homenagens. Todos os três morreram com pouco mais de trinta anos.
Viviam soltos nas ruas de Curitibanos. Não faziam mal algum, a não ser se fossem confrontados ou molestados oralmente.
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