segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

GUAMIRIM

Texto de Antonio Carlos Popinhaki


Na Curitibanos de outrora existia sobre os campos nativos e terrenos baldios, vastidões de capoeiras de uma árvore conhecida popularmente por guamirim (myrcia multiflora). Essa espécie estava em muitos lugares, inclusive nos arredores da minha casa. Elas cresciam em capoeiras, pois suas raízes se espalhavam sob o solo de forma alastradora.

Considero o guamirim uma árvore “abençoada”. Ela não cresce muito alta, se comparada com grandes árvores. É mediana. Cerca de no máximo, uns 20 metros em idade adulta. Seu tronco também não engrossa muito. Isso, porque a árvore cresce lentamente, tendo como uma das suas características, a dureza do tronco. O que a torna apropriada para ser queimada em fogões e fornos.

Na verdade, a madeira do guamirim era muito requisitada para ser usada como lenha. Além disso, seu fruto é delicioso. Provei-o abundantemente na minha infância. Era normal, naqueles anos (início dos anos 70), encontrar alguém com um machado e um tronco de guamirim nas costas, caminhando para a sua casa, para cortá-lo posteriormente como lenha com o objetivo de queimar as lascas em seu fogão à lenha.

Nessa época, a maioria absoluta dos moradores de Curitibanos, utilizava o fogão à lenha em suas casas. A lenha foi o principal combustível para aquecer os lares curitibanenses nos rigorosos invernos de antigamente. E a lenha do guamirim era excelente para ser queimada nesses fogões.

Hoje não encontramos com tanta facilidade essa espécie em nossa Curitibanos. O homem é um ser destrutivo. Percebendo ou não, todos os dias a raça humana coloca em risco de extinção diversas espécies de vegetais e animais. O homem destrói a natureza que o cerca. Como escrevi, quase não encontramos mais as capoeiras de guamirim como havia antigamente na cidade de Curitibanos e na região. Ninguém valorizou esse componente da flora serrana de Santa Catarina.

O guamirim também foi a espécie de madeira utilizada pelos antigos “jagunços” para a confecção de suas armas no conflito denominado de “Contestado”. Isso mesmo! Eles viram nessa madeira dura a utilidade necessária para a confecção de um tipo de facão. Esse facão era uma espécie de espada de madeira usada para suas defesas pessoais de guerrilha. Existem muitas literaturas que citam o famoso “facão de guamirim sapecado no fogo” como armamento paliativo contra o exército republicano do início do século XX.



POPINHAKI, Antonio Carlos. Eu e a madeira / Antonio Carlos Popinhaki. – Blumenau: 3 de Maio, 2016. 93 p.


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