O Monumento ao Monge João Maria, erguido no Bairro Água Santa em Curitibanos, guarda, em sua imponência, uma história que transcende a data oficial de sua inauguração, em 5 de setembro de 1985, durante a Semana da Pátria. Para compreendermos a verdadeira essência desse marco cultural e religioso, é necessário mergulhar em um passado rico em crenças, conflitos e, finalmente, reconciliação, impulsionada pela ação do poder público municipal.
O terreno onde o monumento se encontra hoje, pertencia à família França desde o início do século XX. Entre seus membros, destaca-se Theodoro França Pereira, conhecido popularmente como “Tiodorinho França”. A tradição oral narra que o Monge João Maria de Jesus teria passado alguns dias no local, no final do século XIX, deixando marcas indeléveis na memória da comunidade.
Para a população da época, João Maria de Jesus era venerado como um homem santo. Seus ensinamentos, divergentes da doutrina católica tradicional, geraram debates acalorados com o Frei Rogério Neuhaus, um influente padre de Lages. Apesar das críticas da Igreja, João Maria conquistou a devoção popular, sendo visto como um agente de cura e bênçãos.
Os locais de descanso do monge, geralmente próximos a nascentes de água potável, eram tidos como sagrados. As pessoas buscavam essa água para batizar seus filhos e para o uso medicinal, equiparando-a à água benta da Igreja Católica.
Antes da construção do monumento, o local era frequentado por seguidores de João Maria, para a realização de rituais, como batismos, acendimento de velas e agradecimentos por graças recebidas. Acredita-se que membros da família França tenham erguido, no local, uma pequena capela em sua homenagem, disfarçando-a como devoção a São João para evitar conflitos com a Igreja Católica. Foi colocado, posteriormente, no interior da capela, um quadro de “Bom Jesus”
Um incêndio de causas desconhecidas destruiu a capela, mas o quadro de “Bom Jesus” foi preservado das chamas. Estava guardado na casa de uma pessoa que o tirou, antes do incêndio para manutenção e limpeza. A lenda diz que este quadro deu origem à igreja e ao Bairro Bom Jesus do outro lado da avenida Doutor Leoberto Leal. Entretanto, o local da capela e da fonte de água, ainda considerado sagrado, ficou localizado no Bairro Água Santa.
Mesmo após a construção da igreja de Bom Jesus, a fé em João Maria de Jesus persistia entre alguns moradores. As crianças continuavam a ser batizadas nas águas da fonte e a crença nos ensinamentos do monge se mantinha viva, resistindo às provações do tempo.
Em 1985, reconhecendo a importância cultural e religiosa do local, o então prefeito Armando Costa, ergueu o Monumento ao Monge João Maria. Mais do que uma simples obra de arte, o monumento simboliza a religiosidade dos antepassados e a gratidão por aqueles que preservam a tradição local.
João Maria de Jesus deixou um legado de enigmas e profecias que ainda intrigam e inspiram reflexões entre os moradores. Suas previsões sobre cobras-pretas gigantes, inundações da vila de Curitibanos pelas águas do rio Marombas e gafanhotos que devorariam as enormes araucárias, permanecem vivas na memória popular, servindo como um convite à reflexão sobre o futuro e a relação do homem com a natureza.
Desde a sua inauguração, o monumento passou por diversas restaurações e está sob os cuidados da Prefeitura Municipal de Curitibanos. A antiga fonte de água foi substituída por uma cisterna para garantir a qualidade da água, com a instalação de uma torneira. O local se tornou um importante ponto turístico da cidade, atraindo visitantes que desejam se conectar com a fé, a história e as tradições de Curitibanos.
O Monumento ao Monge João Maria é mais do que uma simples construção em pedra e concreto. Ele representa a convergência da fé, da história e da tolerância, demonstrando a capacidade do ser humano de superar diferenças e construir pontes entre o passado, o presente e o futuro. Através da preservação desse marco cultural e religioso, Curitibanos garante que a memória de João Maria de Jesus e seus ensinamentos continuem a inspirar as gerações vindouras.
Referências para a produção do texto:
Com informações de Aldair Goetten de Moraes
Com informações de Aldo Dolberth
LEMOS, Zélia de Andrade. Monumento ao Monge João Maria. A Semana, ed. n.º 0139, de 21 de setembro de 1985, p. 7.
PARABÉNS, excelente matéria resgatando fatos históricos da nossa terra.
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