Um dia de serviço voluntário, atuando como fiscal numa seção eleitoral em Curitibanos trouxe-me o conteúdo para o texto a seguir. Como escrevi, eu fui voluntário para trabalhar como fiscal numa seção de urna eletrônica representando a coligação que sagrou-se vencedora na eleição municipal de Curitibanos no dia 15 de novembro de 2020. O local foi a seção 11 da zona eleitoral número 11, instalada numa das várias salas da E.E.B. Casimiro de Abreu.
Durante o dia percebi alguns momentos cômicos e talvez tristes que caracterizam perfeitamente o povo brasileiro. Logo no início dos trabalhos de votação apareceu um senhor com uma voz forte e um tanto alegre e disposto a votar. Me pareceu ser um pouco surdo, pois geralmente quando alguém fala muito alto é porque tem alguma deficiência auditiva. Ele adentrou na sala e foi encaminhado para assinar a sua presença como votante. Ao receber o seu comprovante, virou-se em direção à cabine, deu alguns poucos passos, no momento exato em que a moça que trabalhou para a justiça eleitoral começou a ditar o número do seu título para a mesária. Ela disse:
ㅡ 0045….
Ahnnn? ㅡ Falou o senhor em voz alto, interrompendo-a e parando seu percurso:
ㅡ 8984…
ㅡ O quê? ㅡ Desta vez, virando-se para a moça que ditava os números.
ㅡ 000 ㅡ Continuou ela.
ㅡ Ah tá! ㅡ Percebeu o que ocorria, virou-se novamente em direção à urna para votar.
Achei cômico pela maneira e pela entonação de voz do senhor, sem desfazer dele é claro, anotei a cena para tentar reproduzi-la aqui. Não demorou muito, apareceu uma senhora, também de certa idade, sentada em frente à urna eletrônica, perguntou em voz alta:
ㅡ Onde aperta prá votar? É no verde?
Ela foi muito bem orientada a votar primeiro no número do candidato a vereador e depois no número do candidato a prefeito e só depois, apertar a tecla verde.
De repente surgiu uma mulher de uns 30 anos ou menos com luvas, máscara, chapéu e o corpo bem coberto. “Certamente”, pensei: “Essa tem medo de se contaminar com o coronavírus”. Depois de abusar do uso do álcool nas mãos por cima das luvas, dirigiu-se para assinar a sua presença. Interrompendo os meus pensamentos, surpreendi-me ao vê-la chegar perto demais da mesária. Se a mesária estivesse contaminada, essa mulher, com todo aquele aparato, teria se contaminado com certeza. Algum tempo depois, outro homem tossiu sobre uma das mesárias.
Durante os trabalhos apareceu um senhor com uma bengala na frente da urna eletrônica, derrubou a bengala no chão e sentou-se, ficou digitando vários números. Notamos que alguma coisa não estava certa, pois ele demorava lá e não encerrava a sua votação. Até que escutamos ele perguntar:
ㅡ Vocês não têm aí uma lista com os números dos candidatos à vereador? Eu estou aqui digitando vários números, mas não aparece a foto do meu candidato. Felizmente tinha uma, e estava fixada bem na sua frente.
Imagino que situações parecidas acontecem em todas as seções eleitorais espalhadas pelo Brasil. Geralmente, os que têm certa dificuldade são os mais idosos. Mas mesmo assim, eu achei louvável a atitude desses, pois saíram de suas casa, com bengalas, muletas e, mesmo doentes, com deficiência e comorbidades em decorrer da idade, exerceram o seu direito de cidadão. Eles podem cobrar do prefeito e do vereador pelos seus serviços.
Entretanto, muitos jovens e que estavam saudáveis e fortes negaram a esse direito, ao se absterem de votar. Esses, não podem cobrar e nem exigir nada do prefeito e nem dos vereadores. Não exerceram os seus direitos como cidadão. Não contribuíram com o exercício e a manutenção da Democracia.
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