sexta-feira, 22 de abril de 2011

TRÊS MIL MUDANÇAS NO LIVRO DE MÓRMON - SÓ ORTOGRÁFICAS?

Tradução: Emerson de Oliveira




O Livro de Mórmon apareceu em 1830. Desde então, passou por sucessivas e constantes correções (cerca de 3000), que os Mórmons alegam terem sido somente ortográficas e de questões literárias (para se adequar ao linguajar de hoje, etc.). No entanto, não é bem isso o que se vê em alguns trechos do livro, onde as mudanças vão muito além de serem só "ortográficas". 
Esta é uma lista sumária de algumas passagens no LM onde podemos ver que houveram mudanças e que elas não só tinham objetivo de corrigir o inglês, mas de alterar a doutrina. Vamos examinar:


1) Mudanças sobre a Divindade
Parece originalmente que Smith tinha um entendimento menos perfeito da Trindade do que a maioria dos cristãos em geral. O Livro de Mórmon original (a edição de 1830) tinha algumas frases surpreendentes sobre a divindade de Jesus Cristo, muito mais parecidas com o sabelianismo que o trinitarianismo. Vejam:  
Edição de 1830:
1 Néfi 11:18: "E disse-me ele: a virgem que vês é a mãe de Deus, segundo a carne".


1 Néfi 11:21: "Eis aqui o Cordeiro de Deus, sim, o Pai Eterno."
1 Néfi 11:32: "E, olhando, vi o Cordeiro de Deus ser carregado pelo povo, sim, o Deus Eterno ser julgado pelo mundo;"
1 Néfi 13:40: "que o Cordeiro de Deus é o Pai Eterno e salvador do mundo..."

Compare esses versículos com uma edição do LM moderna, tipo 1975 (que eu possuo). Em todas as frases acima, o texto foi corrigido adicionando a frase "Filho de" nos lugares apropriados.



Parece que depois de começar esta revisão, Smith percebeu que teria que fazer muitas mudanças no texto e assim abandonou o projeto. 


2) Mudando Benjamim para Mosiah
O texto original de Mosiah 21:28 diz:
"E Limhi novamente se encheu de alegria ao saber, pela boca de Amon, que o rei Benjamim tinha um dom de Deus, mediante o qual podia interpretar tais gravações; sim, e Amon também se regozijou".
O problema, é claro, é que o rei Benjamim já estava morto nesta época (Mosiah 6:5, em 121 a.C., segundo o livro do Mórmon, ou seja, 1 ano antes da citação de Mosiah 21:28). Esta referência foi mudada 'Mosiah' em 1837 e nas edições posteriores. Porém, parece que este não foi o único lugar onde esta mudança foi feita. O texto original de Éter 4:1 reza:



"e por essa razão o rei Benjamim as guardou, a fim de que não viessem ao mundo senão depois que Cristo aparecesse a seu povo".

De novo, foi mudado para 'Mosiah' nas edições posteriores. O fato que há duas dessas mudanças nos faz pensar que Smith podia ter tido uma outra versão diferente para a narrativa. Lembre-se que as 116 páginas perdidas tinham a história do rei Benjamim. É possível que nesta versão o rei Benjamim viva muito mais tempo. Smith pode ter confundido entre as duas versões da narrativa, e inadvertidamente matou prematuramente seu protagonista  enquanto voltava a reescrever as páginas perdidas.

3) Apresentando Cristo
O texto original de 1 Néfi 12:18 diz:
"sim, a palavra da justiça do Deus Eterno e de Jesus Cristo, que é o Cordeiro de Deus..."
O problema é que o nome 'Jesus Cristo' não foi revelado aos nefitas antes de 2 Néfi 10:3. [Nota do Tradutor: na edição do LM de 1975, que eu tenho, diz que a data em que ocorreu a passagem de 1 Néfi 12:18 foi entre 600 e 592 a.C. E diz que a passagem de 2 Néfi 10:3 aconteceu entre 559 e 545 a.C.!]. Em 2 Néfi 10:3 diz:
"portanto, como já vos disse, é necessário que Cristo (pois que na noite passada o anjo me informou que este seria o seu nome) venha entre os judeus."
Para corrigir esta contradição, o texto de 1 Néfi 12:18 foi mudado para ler "Messias" em vez de "Jesus Cristo".


Este episódio revela um equívoco fundamental da palavra "Cristo" por Joseph Smith. "Cristo" e "Messias" são realmente sinônimos (veja Jo. 1.41), o anterior derivando do grego e o último do hebraico. "Messias" se usa corretamente no LM como um título, mas "Cristo" se usa incorretamente como nome próprio, um erro muito comum entre aqueles que não estão totalmente inteirados com a etimologia da palavra. A declaração de 2 Néfi 10:3 tem pouco sentido.


4) Batismo no Antigo Testamento
O texto original de 1 Néfi 20:1 diz:
"Escutai e ouvi isto, ó casa de Jacó, que és chamada pelo nome de Israel, que saíste das águas de Judá; que juras em nome do Senhor e que mencionas o nome do Deus de Israel, mas que não juras nem em verdades nem em justiça". 



A frase "ou das águas do batismo" foram inseridas na ediçãod e 1840.

5) Seraphim ou Seraphims?

O texto original de 2 Néfi 16:2 diz:
"Above it stood the seraphims: each one had six wings; with twain he covered his face, and with twain he covered his feet, and with twain he did fly".
Esta é uma citação da Bíblia inglesa King James, em Is. 6.2. Em um raro erro gramatical, a KJV tem um plural incorreto para "seraph". O plural correto (em inglês), claro, deveria ser "seraphim", como o texto na edição de 1975 diz. O que isto mostra é que o LM tem uma confiança muito mais profunda na Bíblia King James que os estudiosos mórmons gostariam de admitir.

6) Cobrindo o Cumorah
Os críticos tem ensinado muito que há uma estranha ligação entre o monte Cumorah e o anjo Moroni e as ilhas Comores na costa oriental de Moçambique, cuja capital é Moroni, que já era capital do lugar desde antes do Livro de Mórmon. Os defensores do Livro de Mórmon dizem que isto é só uma coincidência e que "Comores" tem pouco a ver com "Cumorah". O fato é que antes da ocupação francesa de 1860, as ilhas Comores eram conhecidas por seu nome árabe, Camora (às vezes escrita Comora). Agora note que o Livro de Mórmon de 1830 dizia "Camora" e não "Cumora". Veja o texto original de Mórmon 6:2: 



"E eu, Mormón, escribí uma epístola ao rei dos lamanitas, informando-o de que desejava que ele nos permitisse reunir nosso povo na terra de Camora, nas proximidades de um monte chamado Camora, a fim de que nesse lugar lhes déssemos batalha". 

Como prova da asserção anterior, veja esta seção de um mapa da África de 1808: 

Agora vejam um mapa atual:

4 comentários:

  1. Perguntei a vários mórmons onde era o local exato do Monte Cumorah e todos "enrolaram" e não responderam.Uns disseram que ficava na América Central em local incerto outros nem sabiam ao certo. O Livro de Mórmon cita que nesse monte houve a última e sangrenta batalha entre os dois povos rivais: lamanitas e nefitas e que nessa batalha milhões morreram, sobrando só um para contar a estória (Moroni). A igreja SUD eregiu um obelisco em Nova Iorque ao pé desse morro, construiu um centro de visitantes, etc dando a entender que foi lá mesmo nesse monte ( até deram para ele o mesmo nome: Cumorah) que ocorreu a última batalha. Por que então os mórmons não desenterram e realizam uma busca arqueológica nesse local? A estória que alegam não é mais antiga que os Gregos, os Romanos, etc e se lá realmente foi o local da última carnificina ( argh! o Livro de Mórmon só fala em mortes!) então deve haver lá moedas, ossadas, espadas, couraças e artefatos que provariam a autencidade do referido livro....por que será que a igreja SUD se esquiva tanto nessa busca arqueológica?

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  2. Edson! A Igreja SUD não faz nenhuma escavação no tal monte Cumorah porque seus líderes sabem que lá não encontrarão nada. Uma das questões já levantadas foi sobre uma varredura no tal monte para encontrar a caixa de pedra ou concreto em que estava guardadas supostamente as placas de ouro. Nenhuma caixa jamais foi encontrada. Como também nenhum vestígio de carnificina ou mortandade seria encontrado nesse local. simplesmente nada existiu. Para ser mais correto, não existiam espadas de metal aqui na América na época descrita pelo Livro de Mórmon (421 d.C.). Os descobridores (Cristóvão Colombo e outros) quando aportaram aqui não encontraram índios na idade do metal, mas sim na idade da pedra lascada ou polida. o livro de Mórmon é fantasioso e cheio de anacronismos.

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  3. Caro Antônio, sobre o suposto anacronismo do Livro de Mórmom, um estudante atento da historia das grandes civilizações saberia que o progresso delas nem sempre ocorria de forma linear. Por exemplo, quando os dórios invadiram a ilha de Creta eles causaram um retrocesso cultural entre os gregos ao destruir a civilização micênica de modo que uma sociedade sofisticada regrediu a um nível anterior ao da escrita dando início a um período conhecido como a idade das treva grega. Em parte, ocorreu algo parecido durante a Idade Média, onde o acesso ao conhecimento era algo extremamente limitado. A África pré-imperialista, por exemplo, possuía reinos com organização, cultura e comércio bem desenvolvidos, mas que foram prejudicados pelo progresso europeu. Então, meu caro, não se pode falar em anacronismo no livro de mórmom somente pelo fato dos "descobridores (Cristóvão Colombo e outros) quando aportaram aqui não [terem encontrado] índios na idade do metal, mas sim na idade da pedra lascada ou polida.

    ver:

    http://www.infoescola.com/grecia-antiga/idade-das-trevas/

    http://www.arteafricana.usp.br/codigos/textos_didaticos/002/africa_culturas_e_sociedades.html

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  4. João Henrique Costa!
    Se os anacronismos de que falamos fossem poucos, até poderia concordar com parte de tua tese. Mas são muitos e não há como aceitar que não tenha sido encontrado vestígios de lanças, espadas, armaduras. Bússola, escrita à moda dos egipcios, placas de metais com folhas de ouro, etc.

    Um abraço!

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