sexta-feira, 25 de março de 2011

BOAS LEMBRANÇAS DAS ARAUCÁRIAS!


       A verdade sobre as araucárias está muito longe de ser compreendida pelos homens. Quer sejam descendentes ou não daqueles que foram os gradativos destruidores da grande floresta que existia no sul do Brasil. Essa floresta era do tamanho do Estado do Paraná, com cerca de 200 mil quilômetros quadrados composta por uma vegetação que, infelizmente, não existe mais, em proporções existentes até meados do século XX. Menos que 1% da antiga floresta ainda é encontrada, mas, de forma esparsa em nossos dias.
    A melhor maneira de preservar esta emocionante e imprescindível história  em nossas memórias, é escrever sobre a mesma. Tentar perpetuar as antigas experiências aos remanescentes.  Ao empenhar-me em retratar aqui, o  que seria um abstrato presente, parte da história viva regional, gostaria de volver a mente aos anos de minha infância. Isso que escrevo, somado a muitos outros artigos, para a maioria das pessoas hoje, é meramente literatura. Gostaria de plantar meu sentimento de respeito profundo pela natureza. E também minha indignação para com as pessoas gananciosas que só tiveram em mente degradar e destruir.
Quando eu era criança, brincava muitas vezes num depósito de serragem  de  araucária. Na minha cidade de Curitibanos de outrora, existiam muitas serrarias. Sem exagerar, tinha quase uma em cada esquina. Era mais do que comum, cada uma delas ter seu próprio depósito de serragem. Geralmente jogavam este resíduo em algum morro ou barranco desocupado. Algumas  serrarias, raras, possuíam fornos de tijolos para queimar a serragem.    
Perto da minha casa, no final da Rua Benjamin Constant, havia um enorme morro, onde empregados da antiga serraria do senhor Victor Gava depositavam a serragem com a ajuda de um trator e uma carreta. Essa serragem ia sendo depositada gradualmente sobre o morro, até cobrí-lo totalmente a encosta, como uma capa. Naquele local, havia dois tipos de brinquedo preferido das crianças. Uma, era escorregar morro abaixo sentado sobre uma espécie de trenó ou um escorregador de madeira e lata que confeccionávamos. Chamávamos de trenós. Sempre tinha uma trilha que ia afundando no barranco, cada vez que os trenós desciam. O mais emocionante, era a velocidade e a distância percorrida. Outra brincadeira preferida nossa, era perfurar o barranco com algumas ferramentas e fazer cavernas, galerias sob a montanha. Geralmente essas cavernas não eram muito extensas, por isso não nos preocupávamos tanto com desmoronamentos. A serragem, quando depositada em qualquer lugar, faz uma espécie de amarração e fica compactada. É necessário cutucar bastante para que desfaça essa condição.
Com o passar dos anos, as  serrarias foram fechando. Outras foram sendo vendidas para empresas que tinham matrizes noutras cidades. A tendência natural foi a diminuição drástica das serrarias que serravam araucárias. Até a sua consumação plena por força de legislação vigente.
Hoje as imensas florestas de araucárias ficaram apenas na memória de pessoas mais idosas. A árvore atualmente, em idade de 15 anos e mais velha, serve basicamente para a extração de pinhão. Mas a madeira já foi utilizada para a construção de casas. Algumas ainda visíveis em nossa época. A exportação dessa nobre madeira trouxe poucos benefícios para as regiões que tinham suas economias basicamente plantadas sobre o extrativismo desenfreado. Serraria foi um negócio lucrativo apenas para os donos. Não havia distribuição de renda. A maioria dos empregados vivia em condições precárias. Ganhando apenas o necessário para a subsistência familiar. Ter filhos naquela época, para pessoas de baixa renda, era aparentemente vantajoso, pois quanto mais filhos trabalhando, maior era a renda familiar.
Ao relembrar tudo isso, fico inerte, como uma testemunha do quanto de mal o homem pode fazer para a natureza. Imagino que se tívéssemos hoje grandes florestas dessa árvore, poderíamos criar parques ecológicos, fomentar o turismo, o eco-turismo.Isso traria pessoas para a região e a economia cresceria. Fica agora o alerta quanto à floresta amazônica.

Nenhum comentário:

Postar um comentário