quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Cartão de Crédito como uma bomba relógio?


Era mais ou menos por volta do ano de 1990. Recebi meu primeiro cartão de crédito do então Banco Meridional. Lembro que era da bandeira Mastercard. Eu tinha uma conta corrente na agência de Curitibanos/SC. Logo em seguida, não demorou muito, recebi outro pelo correio. Desta vez, inusitadamente, sem ter conta corrente ou poupança em nenhum banco. Era um American Express Card. Verdinho, bonitinho. Ter um cartão American Express, naquela época, era símbolo de status, e não era para qualquer pessoa. A cidade de Curitibanos estava começando a engatinhar na aceitabilidade de cartões de crédito. Quase nenhum estabelecimento aceitava. Quando aceitava, cobravam uma espécie de taxa de juros sobre o valor da compra, alegando que a empresa que controlava e emitia os cartões, demorava a repassar ao estabelecimento os valores. Quando repassava, era sem juros. Chegava até a ser compreensível, vivíamos em época de inflação galopante.
Pois bem, após estes dois cartões vieram outros, de várias bandeiras. Com vários limites de crédito. Esses limites foram aumentando gradativamente, ano a ano. Eu ia comprando e pagando. Comprando e pagando. Às vezes pagava só o valor mínimo da fatura. No mês seguinte, o valor que eu tinha deixado de pagar, vinha acrescido de juros exorbitantes, fora de uma lógica concisa. Somado com o valor das minhas novas compras. Quando eu podia pagar, pagava tudo, mas quando não podia, enrolava novamente para o próximo mês. E assim fiz por cerca de 18 anos.
Quando me dei conta, eu tinha três cartões. Minha esposa tinha dois. Todo mundo oferecia cartão de crédito para nós. Sempre pagamos certo, com juros ou não.  Consequentemente, oferecemos lucro para essas empresas. Nunca tiveram do que reclamar.
No ano de 2003, eu estava na faculdade, numa aula de economia. Um professor que não reside mais em Curitibanos falou que: “quando uma pessoa chega ao ponto de comprar comida fiado, pagando com cartão de crédito ou cheque pré-datado. Ou quando tem que colocar gasolina fiado e paga com estas ferramentas financeiras, o termômetro deve acusar que as coisas não estão bem”.
Não importa o que as pessoas digam, para mim não fez sentido algum aquelas palavras. Eu estava vivendo naquela situação, e era perfeitamente normal, comprar num mês e pagar noutro com cartão ou cheque pré-datado. Mas estava errado. Com o passar dos anos, aprendi que cartão de crédito é como uma bomba relógio, prestes a explodir.
 E este é exatamente o título de um artigo que li na internet essa semana. Que o cartão de crédito pode ser uma bomba relógio. Não importa o limite que as operadoras de cartão de crédito passem aos seus clientes, duzentos, quinhentos, mil reais ou mais. Se o detentor do cartão não for uma pessoa equilibrada, e organizada, sem que faça um planejamento, não se deve nem sonhar em aceitar ter um cartão de crédito. Não que o cartão de crédito seja um objeto terrível, que não se possa ter de maneira alguma. Absolutamente! Para algumas poucas pessoas com educação financeira e que fazem planejamento, que se consideram equilibradas e competentes, é possível conviver com esta ferramenta na carteira. Aliás, essas pessoas podem transformar isso, numa ferramenta auxiliar. É possível ganhar tempo e ainda algum prêmio só por ter um cartão de crédito.
Vou passar aqui o que aprendi com o constante uso do cartão de crédito por longos anos. É indispensável que os gastos com o cartão de crédito não ultrapassem em hipótese alguma 30% da renda. Vou fazer um exemplo prático aqui:
Se a sua renda for hipoteticamente de R$ 1.000,00 seu limite no cartão de crédito nunca poderá ultrapassar 30% da sua renda. Isto é planejamento. Se você não fizer isso, e gastar mais já estará comprometendo sua renda. Terá facilmente surpresas desagradáveis. O cartão de crédito não é um complemento da sua renda. Não considere o limite de seu cartão, nem os 30% que citei anteriormente como um complemento da renda. Considere que 30% da sua renda devem ser destinados ao pagamento dos gastos mensais do cartão de crédito.
Mas lembre-se que em hipótese alguma você deverá gastar mais do que o estipulado. Considere que não há mais dinheiro acima do limite de 30% da sua renda. Mesmo que haja limite no cartão. No primeiro mês que você receber o novo cartão de crédito, não deverá gastar nada. Pegue os 30% e guarde numa conta corrente ou poupança. No segundo mês, você terá os 30% que guardou e mais os R$ 1.000,00 dos seus rendimentos para pagar os teus gastos. Note que você não precisa mexer nos teus rendimentos para pagar a fatura do cartão, porque tem 30% guardado para esta finalidade. Reserve novamente 30% e guarde como se estivesse pagando a fatura.


Mês
Renda
Reserva
Gastos Cartão
1
R$ 1.000,00
R$ 300,00
R$ 0,00
2
R$ 1.300,00
R$ 300,00
R$ 300,00
3
R$ 1.300,00
R$ 300,00
R$ 300,00
4
R$ 1.300,00
R$ 300,00
R$ 300,00
12
R$ 1.300,00
R$ 300,00
R$ 300,00


Todo o planejamento é importante. Você jamais poderá ser surpreendido se seguir à risca. Porque você sempre terá o dinheiro que reservou para pagar o cartão de crédito. É um bom plano. Mas precisa ter personalidade para segui-lo e por em prática. Você poderá fazer as compras, inclusive, parceladas. Muitas bandeiras de cartões e bancos premiam os usuários através de programas de fidelidade com livros, milhas de viagens e outras quinquilharias.
Com relação às anuidades. Elas devem ser inclusas nas despesas dos 30%. Mas antes devem ser negociadas. É possível que em alguns casos, você não tenha despesas com anuidade.
Para encerrar minha história com os cartões de crédito, quero dizer que me desfiz de todos. Agora não possuo nenhum cartão. Somente uso cartão de débito. Aprendi a controlar melhor minhas finanças. Fazer orçamento, anotar os gastos e policiar melhor as minhas receitas e as despesas. Poderia até possuir cartão de crédito agora. Por opção minha não quis mais. Faz alguns anos que vivo assim. Compro tudo o que necessito depois de muita ponderação e planejamento, deixando de lado as emoções, que são na maioria das vezes, responsáveis por muitas tragédias financeiras.
De vez em quando me oferecem um cartão. Eu sempre recuso. Não quero correr o risco de ter uma recaída. Espero ter ajudado com a receita. O planejamento está aí, porém, há uma necessidade imensa de ser muito competente em seguir este plano. Não quero arriscar. Prefiro não arriscar.

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