sábado, 1 de janeiro de 2011

Carpe Diem

Econ. Antonio Carlos Popinhaki

Esta é uma citação em latim de um poema de Horácio, e é popularmente traduzido para “colha o dia” ou “aproveite o momento”. Colha o dia como se fosse um fruto maduro que amanhã estará podre. Em outras palavras, a vida não pode ser economizada para amanhã. Isto vem bem de encontro com o início de um novo ano. É uma época especial de fechar o balanço e preparar o orçamento para o novo ano.
Ao analisar o ano de 2010, percebi que peculiarmente, obtive conquistas, mas também uma perda enorme no final. Refiro ao falecimento de meu pai, ocorrido recentemente no início de dezembro. Desde então, não tem um único dia em que eu não medite sobre a vida e o propósito de estarmos aqui. Tenho pensado muito sobre as crenças e a fé das pessoas que me cercam. É bem verdade que houve uma contribuição de amigos, principalmente porque no natal e na virada do ano, recebi muitas mensagens de caráter espiritual.
Isto volveu minha mente para o tempo em que eu acreditei muito numa causa teológica. Depois de quase vinte anos, descobri que era uma causa perdida. Uma canoa furada. A doutrina que eu me inserira e que me envolvia não faz sentido algum no mundo atual. Portanto, num certo dia, abandonei o pretexto e ando sempre desconfiado no que se refere a associações teológicas, doutrinárias e eclesiásticas. Com a morte de meu pai, tenho refletido muito sobre tudo isso. Tenho estudado, através de leitura, pesquisado na internet, ponderado. Não consigo chegar a nenhuma conclusão. Nada que não seja envolta com certo tempero de ceticismo e desconfiança. Isto das atuais doutrinas e seus doutrinadores apresentados a mim nestes últimos tempos. Portanto, quando encontrei a frase “carpe diem” na internet, resolvi prontamente associar ao meu sentimento.
Quando uma pessoa está envolvida numa causa espiritual, parece que ela está cegada para a razão. Principalmente se a própria doutrina ensina que não é necessário comprovação cientifica alguma. E que somente a fé mostra-se necessária para galgar um patamar mais elevado, rumo a Deus ou ao céu. De certa forma, isto é um perigo imenso para qualquer um, por menos que pareça, qualquer pessoa que está envolta numa doutrina alienista, de certa forma, pode até cometer suicídio por ordem do líder eclesiástico. Nunca esqueço o caso de James Warren “Jim Jones” que fundou uma seita religiosa denominada “Templo dos povos”. Em 1978 ele foi responsável pela morte de 918 pessoas que tomaram veneno em forma de refresco de cianeto. O pastor reuniu o rebanho para o último sermão. Falou dos inimigos preferindo a suposta honra da morte à rendição, exigindo que todos ingerissem um refresco de cianeto. Três seguidores, que já algum tempo tentavam a fuga, conseguiram nesse mesmo dia fugir para a selva. Mais tarde, os sobreviventes contaram que as mães metiam o veneno na boca das crianças enquanto as famílias esperavam serenamente pelo desenlace. Morreram bebês, crianças, mães, pais, avós... Jim Jones suicidou-se com um tiro na cabeça.
Agora recentemente, meses atrás, um grupo escapou da morte na Califórnia, Estados Unidos porque a polícia foi acionada e evitou que 13 pessoas cometessem suicídio em massa. Isso, porque deram ouvidos a uma mulher chamada Reyna Marisol Chicas de 32 anos. Eles informaram que queriam se suicidar porque o mundo estava perdido e iria acabar. Era preferível morrer e ir para o céu do que participar e viver num mundo com as condições atuais. Deixaram cartas aos parentes antes de tentarem o suicídio coletivo. O capitão da policia que achou o grupo no deserto contou que "As cartas basicamente diziam que todos eles logo iriam para o céu, ao encontro de Jesus e seus parentes falecidos." Parentes de Reyna Chicas a acusaram de ter feito lavagem cerebral no resto do grupo.
Eu freqüentei e participei ativamente de uma organização com fachada religiosa, mas de cunho extremamente corporativo. Esta organização é conhecida comumentemente como “mormonismo”. A alienação nesta religião não é nenhum pouco diferente dos casos citados acima. Se bem que eu não creio que algum líder vá solicitar suicídio coletivo dos membros da Igreja Mórmon. Na verdade, um escândalo na Igreja é tudo o que os líderes desta seita não querem. Por quê? Exatamente pela razão de que o negócio deles não é religião e sim uma grande corporação de empresas e holdings. Empresas de comunicação, shoppings, fazendas multiplicam os ativos da corporação. Usam a Igreja apenas para não pagarem impostos. Pegam o dinheiro arrecadado em forma de dízimos e aplicam nas empresas. Estas, por sua vez, doam os lucros em forma de dinheiro para a igreja, isentando-se de imposto de renda nos Estados Unidos.
Pois bem, quando eu estava envolvido com esta religião, acredito que de tanto escutar algumas frases alienistas, comecei a acreditar em muitos absurdos. Existe um lugar onde os membros vão, chamado templo. Lá os que entram, prometem doar tudo o que tem em favor da edificação do reino de Deus na terra, ou seja, a Igreja Mórmon.
O fundador desta igreja se chamava Joseph Smith. Ele se intitulava “profeta” com dons especiais como falar com Deus e anjos. Dizia que recebia revelações para organizar uma Igreja e conduzir as pessoas à exaltação, um lugar no reino celestial.
Enquanto estive dentro da igreja, fui ensinado a praticamente adorar este homem numa similaridade a Jesus Cristo. Como um santo, um juiz, um porteiro do céu. De tanto ouvir falar bem dele, achava que realmente era um profeta. Só que não era bem assim. Trata-se de um bandido, pedófilo, adúltero e um engodo. Casado escondido de sua esposa com mais de quarenta mulheres, na sua maioria meninas de 14 a 18 anos de idade.
Ele disse que recebera de um anjo, um conjunto de placas de ouro. Estas continham a história dos antigos habitantes do continente americano. Descreveu de forma detalhada o tamanho do conjunto de placas. Nunca nenhum membro questionou, mas após sair da Igreja, descobri que este conjunto pesaria no mínimo uns 100 quilos. Nunca ficou explicado como ele conseguira transportar estas placas sem a ajuda de outra pessoa, ainda mais que ele tinha um defeito num joelho. Devido um acidente sofrido quando criança. De acordo com o “Livro de Mórmon”, que pretensamente, foi o resultado da tradução das placas, somente onze pessoas, além de Joseph Smith viram as tais placas. Mas nunca foi relatado que alguma destas pessoas o ajudou a transportar o conjunto de placas de ouro de um lugar a outro.
Eu, como os demais membros, praticamente aceitava tudo sem questionar. Tinha um livro chamado “Livro de Abraão”. Tratava-se dum suposto livro perdido do patriarca Abraão da bíblia. Com instruções sobre a moradia de Deus e algumas instruções adicionais que não estão no livro de Gênesis, na bíblia. Joseph Smith disse que tinha traduzido este livro com ajuda divina a partir de papiros egípcios que lhe chegaram às mãos enquanto morava no estado de Ohio. Com a perseguição à Igreja e revoltas internas, os papiros se perderam. Felizmente, foram reencontrados num museu nos anos 60 do século passado. Egiptólogos, inclusive alguns contratados pela Igreja para averiguar se a tradução de Joseph Smith estava correta, descobriram que nos papiros apenas estavam instruções de como embalsamar os mortos. Não continha nada, além disso, nenhuma referência a Abraão ou ao conteúdo exposto aos membros da Igreja como o “Livro de Abraão”. Um egiptólogo, chamado Dee Jay Nelson, contratado para a tradução apresentou uma carta aos líderes solicitando a remoção de seu nome e dos membros da sua família dos anais da Igreja. Ele certificou-se de que os líderes da Igreja nada fariam para elucidar os membros do grande engodo que é este livro.
Dee Jay Nelson usou não somente sua considerável capacidade lingüística, mas também a ajuda de um computador que mostrou ser matematicamente impossível Joseph Smith ter traduzido tantas palavras de tão poucos caracteres egípcios num fragmento de papiro tão pequeno (1.125 palavras oriundas de 46 caracteres). Este "manuscrito original" do "Livro de Abraão" é, na realidade, um texto fúnebre egípcio de alguns séculos antes do nascimento de Cristo, contendo instruções aos embalsamadores. A tradução de Joseph Smith fazia com que este mesmo texto versasse sobre Abraão e sua vida na Mesopotâmia alguns 2.000 anos antes.
Tinha até esquecido sobre a Igreja Mórmon e sua doutrina, mas devido os acontecimentos recentes, veio tudo à minha mente novamente. Não tenho nada contra as pessoas acreditarem no que bem entenderem, Mas, por favor! Analisem racionalmente antes da filiação, para depois não virem a se arrependerem. Tal como eu, após ter doado certa quantia em forma de dízimos e ofertas. Portanto, neste ano, não quero mais me envolver com associações de cunho doutrinário, especialmente aquelas que prometem o céu e que exigem uma contrapartida monetária para tal objetivo. Carpe diem e feliz 2011.

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