quarta-feira, 17 de março de 2010

PINUS NÃO É UMA ÁRVORE POLUIDORA?



É alarmante o que estão fazendo com os campos de cima da serra catarinense e gaúcha. Bem como, as adjacências de mata atlântica remanescente... Nasci e vivi quase toda a minha vida na cidade de Curitibanos/SC, portanto, qualifico-me a opinar sobre os fatos. Nesta região, ocorre desde finais dos anos 60 uma exacerbada massificação de plantações de pinus. Tendo uma grosseira e notável acentuação nos anos 80 e 90. No início, foi por força da legislação do antigo IBDF. Posteriormente, pela viabilidade econômica. Principalmente, devido à escassez da araucária, árvore nativa que foi exaustivamente explorada sem escrúpulos desde o início do século XX.

A farsa comprovada com atitudes estranhas dos representantes do Estado sempre foi bem nítida. Se escondendo no que ainda resta de nossas matas, por trás de lobbies bem articulados de empresários gananciosos e políticos que visam somente seus interesses eleitorais. Nada fizeram até a presente data para estancar a destruição das matas e da preservação da natureza na serra catarinense. A floresta com araucárias originalmente consistia de uma área de 200 mil Km². Quando do descobrimento do Brasil, se estendia numa faixa contínua, no planalto meridional, desde o sul do estado de São Paulo até o norte do Rio Grande do Sul chegando à província de Misiones na Argentina. Outras manchas esparsas existiam nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O habitat perfeito desta árvore são regiões altas de 400m até 1000m, sendo que são encontrados alguns exemplares de pinheiro do Paraná (araucária angustifólia), árvore característica da floresta com araucária, também até a 1800m de altitude, por exemplo, na serra da Mantiqueira. Hoje resta pouco mais que 3% desta área.

Até há poucos anos atrás era comum na região serrana, principalmente no final do inverno e primavera, a derrubada indiscriminada de áreas cobertas com árvores nativas para o plantio de pinus. Uma árvore conífera introduzida na região, que mostrou características de descaracterização da flora serrana (parece até uma redundância escrever assim). Isto foi feito sob as barbas da lei. Mesmo quando notificados, os proprietários de tal investimento sempre lograram vitória, pois o estrago já estava feito. O principal prejudicado já estava ferido, o meio ambiente. Não importava o valor da multa aplicada, dinheiro nenhum iria recompor a floresta secular. Quem acha que eu exagero, é só pesquisar em inúmeros artigos de exemplares antigos de jornais como o Diário Catarinense, A Notícia, A Semana, O Correio Lageano.

Na época do antigo IBDF eram corriqueiras as autuações falsas, processos falsos, multas falsas. Emissão de guias florestais sem lastro. Eu mesmo presenciei como os controles de entrada e saída eram controlados em fichas, anotadas a lápis por funcionários do instituto, na cidade de Curitibanos. Até o escritório do órgão que posteriormente mudou o nome para IBAMA, em Curitibanos, desapareceu sob um incêndio. Até os dias de hoje não foi bem explicado o sinistro. O Estado como um todo e a FATMA, juntamente com a Polícia Ambiental também são cúmplices neste cenário macabro. Muitas vezes, sem fiscalizar direito, emitem Licenças Ambientais sem o menor cabimento. Agem assim por causa de forças políticas, sem dó nem piedade do meio ambiente. Isso ocorre porque os chefes de tais órgãos são politicamente indicados sob uma espécie de fidelidade ao indicador. Geralmente estas pessoas não são nada técnicos e são totalmente leigos aos postos nomeados. Outras vezes a FATMA e o IBAMA se embasam em projetos e relatórios ambientais falsos, mal elaborados intencionalmente, para conceder a licença de desmatamento. Nestes há sempre o compromisso de providenciar áreas de preservação permanente (APP) e o reflorestamento de espécies nativas, principalmente, da espécie araucária angustifólia, o que jamais vai acontecer na prática. Nem desta espécie ou de qualquer outra qualquer, que seja a espécie viva que foi dizimada. Se isso não fosse verdade, veríamos muitas pessoas empenhadas em reflorestar com árvores nativas da região e não com pinus ou eucalipto. Os viveiros de mudas florestais existentes na região serrana estariam empenhados em produzir e comercializar mudas nativas em larga escala. O que, efetivamente, não acontece.

Não sei dizer até onde a natureza suportará. Acredito que até o homem ver ou perceber que não se come dinheiro! Não estou negligenciando que não é bom ganhar dinheiro, apenas acredito que destruir a natureza em busca deste bem, se torna uma forma ilícita. Sempre disse às pessoas que são do meu relacionamento. As terras rurais geralmente não ficam na mão de uma mesma família por mais de cinqüenta anos. Isto porque os herdeiros não dão o valor a ela conforme deveriam. A terra é um fator de produção não entendida por muitas pessoas que a herdam. Não a compreendem e acham que devem apenas extrair tudo o que há sobre a mesma. Mas, por outro lado, podem se tornar patrimônio familiar por séculos se houver educação. Comprometimento com o meio ambiente. Respeito pela natureza.

Quem não gostaria de deixar para a sua prole como herança, o cheiro do mato nativo da serra catarinense? O sabor de degustar as frutas silvestres de outrora. Amoras, pinhão, goiaba serrana, araçá, ingá, guamirim, guabiroba, pitanga, e outras. Quem poderá mostrar a emoção de estar diante de uma imbuia gigante ou de uma araucária centenária? Onde estarão as bracatingas, as diversas canelas, as açoitas? Onde nossos netos e descendentes encontrarão o prazer de, ao andar nas matas da serra catarinense, topar com um bugio, com uma gralha picaça ou uma gralha azul? Ou ainda com um tucano? Ou um puma? As capivaras que viviam ao longo do rio marombas já não existem mais naquele rio. Meu pai sempre falou que elas viviam em abundância ali. Até serem todas extintas pelos homens cruéis que viam na sua carne uma iguaria impar. E os pássaros? Onde estão as arapongas, sanhaços, sabiás?

Voltando à araucária! Chega a ser irônico! Esta árvore movimentou a economia de muitas cidades por muitas décadas no século XX. Foi assim em cidades como Curitibanos, Caçador e Palmas no Paraná. Hoje, devido a sua escassez, muitos proprietários de terras, descendentes daqueles beneficiários, agem bizarramente. Quando nasce um pé desta espécie em suas propriedades, tratam de destruir logo a pequena árvore, com medo que ela cresça. Se isso acontecer, não poderão derrubá-la. Pois a mesma está amparada em legislação vigente, sendo protegida como espécie em extinção.

Na rádio Coroado AM de Curitibanos, minha cidade natal, tocava quando eu era criança, uma antiga canção que dizia “Curitibanos, terra hospitaleira, capital da madeira de um povo tão gentil”. A cidade de Curitibanos já abrigou mais de trezentas serrarias. Todas serrando na sua maioria araucárias. Lembro que a cidade tinha um cheiro peculiar de madeira serrada. Era muito fácil encontrarmos caminhões carregados de taboas com destino a São Paulo, Rio de Janeiro ou ao porto de Itajaí. Em contrapartida, caminhões também carregados com toras imensas desta espécie, chegavam e descarregavam nos estoques das serrarias. Era comum, caso de cargas em que os caminhões traziam uma única tora desde a floresta até a serraria. Bem no início da história da devastação da floresta, as toras eram transportadas por vagões de trem quando a Southern Brazil Lumber and Colonization Company se estabeleceu na cidade de Três Barras/SC. A estrada de ferro nunca chegou a Curitibanos, sendo adotado para este fim, o meio de transporte rodoviário.

No Artigo 28, parágrafo XVI, da Lei 14.675 de 13 de abril de 2009 (Código Estadual do Meio Ambiente de Santa Catarina) lê-se que: os campos de altitude: ocorrem acima de 1.500 (mil e quinhentos) metros e são constituídos por vegetação com estrutura arbustiva e ou herbácea, predominando em clima subtropical ou temperado, caracterizado por uma ruptura na seqüência natural das espécies presentes e nas formações fisionômicas, formando comunidades florísticas próprias dessa vegetação, caracterizadas por endemismos, sendo que no estado os campos de altitude estão associados à Floresta Ombrófila Densa ou à Floresta Ombrófila Mista.

Uma das razões racionais deste artigo, é que as áreas da serra catarinense que se enquadram como "campos de altitude", no texto do Código do Meio Ambiente são poucas. A maioria das terras com características de altitude estão acima de 800 metros do nível do mar. Segundo a aplicabilidade desta lei, quase toda a área poderá ser descaracterizada, principalmente com reflorestamentos de pinus e eucalipto. A exceção é a Instrução Normativa da FATMA que burocratiza os empreendimentos.

No dia 02 de março de 2010, reuniram-se em Curitibanos representantes do Conselho Estadual de Meio Ambiente – CONSEMA, o secretário do Desenvolvimento Econômico Sustentável, o curitibanense, Onofre Agostini, representantes da EPAGRI, representantes do Sindicato Florestal de Curitibanos e pessoas afins. O encontro visou principalmente burlar a lei. Isso mesmo! Quem planta pinus geralmente são pessoas de grandes posses. Há toda uma burocracia de cadastramento, plantio, emissão de licenças ambientais e sua manutenção. A fiscalização em reflorestamentos de pinus e eucalipto na região são feitas pelos órgãos envolvidos com o Meio Ambiente. Tudo isto, de acordo com a Instrução Normativa nº 34 da FATMA que requer uma série de documentação aos interessados nesta cultura.Tentaram descaracterizar o pinus e o eucalipto como árvores poluidoras do ecossistema. O pinus e o eucalipto não são oriundas nem pertencentes à Floresta Ombrófila Mista, nem Densa. Nem existiam aqui no inicio do século XX, quando começaram a extrair araucária e imbuia. Estão aqui como intrusas no ecossistema. São responsáveis diretamente pelo ressecamento do solo e pelo desaparecimento de muitas espécies, tanto da fauna como da flora, que foram dizimadas através de queimadas, destocamentos e que não conseguiram sobreviver sob a sombra destas coníferas. Elas nem frutos produzem. Destroem toda a vegetação existente onde são introduzidas.

Precisamos realmente repensar sobre o que queremos para os nossos descendentes quanto à manutenção do nosso planeta. Pelo visto, continuamos a dar murro em ponta de faca e nossos representantes eleitos estão trabalhando na contra mão para o não aquecimento global e a mudança do clima da terra.



2 comentários:

  1. Meu caro amigo, foste muito feliz em seus comentários. Mas sou pessimista em afirmar que poco se fará para mudar a realidade de nossa região. Pode ser que a informática e as campanhas de de preservação possam atenuar os efeitos destas práticas, mas só vejo isto parar quando a água bater na garganta. Abraços meu caro Maurício

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