Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Ontem, dia 22 de março de 2022, estive na agência da Caixa Econômica Federal da minha cidade, para solicitar uma segunda via de um cartão de débito da minha conta-corrente. Após meses, sem muita disposição para enfrentar alguma fila, tive a coragem necessária, explico que não fui antes, porque me irritaria principalmente, se a espera fosse demasiada. Todos os dias, ao passar na frente da agência, deparo-me com uma enorme fila de pessoas. Isso é assustador, coloquei na minha mente, que no dia que eu tivesse a coragem necessária, me irritaria pela demora, ao enfrentar tal fila.
Tenho um aplicativo da Caixa no meu celular, onde controlo entradas e saídas, nestes últimos tempos, principalmente utilizando o PIX para transferências. Os tempos são outros, antes, utilizávamos dinheiro em espécie, depois, cartões magnéticos com “chips”, agora, nem cartões utilizamos mais. Ter algum dinheiro, em muitos casos, não significa vê-lo, mas saber que ele existe, mesmo que virtualmente.
Pois bem! Com o meu aplicativo, não consegui emitir a segunda via do tal cartão de débito. O meu cartão tinha data de validade e expirou há meses. Recebi uma mensagem para dirigir-me até uma agência da Caixa Econômica Federal, especificamente, num dos terminais de caixas de autoatendimento. Segundo a mensagem, lá, eu poderia solicitar a segunda via do dito cartão. Ledo engano! Precisava de uma assinatura eletrônica. Eu tenho essa assinatura eletrônica, que nada mais é do que uma senha, ao digitá-la, nova mensagem, em termos “mais ou menos” assim: “sua assinatura eletrônica encontra-se bloqueada, favor dirigir-se até uma agência para solucionar o problema”. Como eu estava na frente de um terminal de autoatendimento, solicitei ao funcionário que fica naquele setor, uma senha para desbloquear a assinatura eletrônica. Dessa vez, eu teria que entrar na agência, porque há uma divisão de vidro que separa os terminais de autoatendimento, da agência, propriamente dita, e ser atendido por senha e vez.
Eram por volta de 14 horas. A fila na parte externa da agência estava enorme, dobrando a esquina. O sol estava forte e as pessoas, como sempre, precisando de algum serviço da Caixa, do banco do povo, do banco do Governo Federal, sendo tratadas como qualquer coisa, menos como gente. Se o sol estiver quente, que se queimem, se chover, que se molhem. Que aguardem a vez! Ao entrar na agência, me informaram que eu deveria ser atendido no andar superior. Ao meu lado estava uma pessoa que reclamou estar desde as 10:30 horas, quando entrou na tal fila e ainda não fora atendido. De alguma forma, fui privilegiado, ao não ser direcionado para aquela fila, demorei quase uma hora para ser atendido por um funcionário, numa das mesas daquela agência. Me informaram que aquelas pessoas da fila, eram os que tinham algum dinheiro para receber dos programas assistenciais do Governo Federal, disponibilizados pelo aplicativo "Caixa Tem" e que, por alguma razão, não sabiam utilizar ou não tinham acesso a tal aplicativo.
— Boa tarde! Em que posso ajudá-lo? — O servidor, foi logo falando, enquanto eu me aproximava.
— Boa tarde! Eu gostaria de solicitar uma segunda via de um cartão de débito da minha conta-corrente. — Ao olhar para a cadeira em frente da mesa, perguntei: — Posso sentar? — A resposta veio com um aceno de cabeça, consentindo.
— O senhor tem algum documento de identificação?
Entreguei-lhe a cédula de identidade que tinha no bolso. Após abrir alguma tela no seu monitor, começou a digitar uma infinidade de informações, enquanto olhava invariavelmente para a cédula de identidade. Cheguei a desconfiar que ele estava realizando outro serviço, ou se comunicando com alguém. Não seria somente conferir as informações, que no meu entendimento, já estariam de posse do cadastro do banco? Então, depois de algum tempo, o silêncio foi rompido com uma pergunta do servidor.
— Casa própria, ou paga aluguel?
— Casa própria! — Respondi incisivamente.
— Temos uma linha de crédito para quem possui casa própria. Vamos fazer uma simulação? — De repente, sacou de uma planilha impressa, que, no meu entendimento, é mostrada a todos os que sentam naquela cadeira. Tentou me oferecer empréstimo, financiamento, carta de crédito, consórcio…
— Obrigado! Sei que vocês têm suas metas, o que eu quero é apenas a segunda via do cartão de débito da minha conta. Apenas isso. No atual cenário em que estamos vivendo, não posso pensar em fazer alguma dívida dessa natureza.
— Olha só, meu senhor, sempre vivemos em ciclos. Sempre houve crises econômicas, elas são passageiras. Temos que tocar a vida. O senhor quer que eu faça uma simulação de um valor qualquer?
— Não estou interessado em empréstimo, apenas solicite a segunda via do cartão e desbloqueie a minha assinatura eletrônica, para eu poder realizar transações via aplicativo ou terminais de caixa de autoatendimento. — Nesse momento, fui bem claro.
Demorou mais algum tempo, sua digitação continuou, não sei quanta informação ele encontrou para escrever enquanto permaneci sentado à sua frente. Pareceu-me estar escrevendo um texto. Quando me dei conta, já eram 15:00 horas. Ao ser finalmente atendido, ao sair, notei que a fila, fora da agência bancária, continuava enorme. As pessoas continuavam no sol, sendo maltratadas. Pensei: “Onde está a aplicação da famosa Lei dos quinze minutos?” Eu li sobre isso na internet, soube que em Curitibanos, na Câmara de Vereadores, em tempos passados, deliberaram em plenário sobre o assunto.
A culpa desse relaxamento no atendimento não é dos funcionários e contratados das agências bancárias. Os funcionários são cobrados, vivem sob pressão, assediadas moralmente, diariamente! Precisam atingir metas de vendas de seguros, empréstimos, empréstimos consignados, venda de máquinas de cartão, venda de financiamentos, cartas de crédito e uma infinidade de serviços. Por outro lado, o povo é maltratado ao não ser prontamente e comodamente atendido. Até quando viveremos assim? É cultural? Sim, me parece ser cultural, tradicional, pois aceitamos o que nos é apresentado, sem reclamarmos, sem questionarmos e sem fazermos nada. Em tempos de pandemia, a situação piorou muito no atendimento ao povo pelo setor bancário, lembrando que esse ramo de atividade é, talvez, o mais lucrativo do Brasil.
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