Texto de Antonio Carlos Popinhaki
Passou por Curitibanos recentemente, um casal de viajantes que possui um Canal no YouTube, chamado “Fala Zion Oficial”. Chegaram à noite e aproveitaram para elaborar um vídeo com conteúdo para abastecer o referido canal. Ao assistir o material deles, fiquei surpreso e não me contive. Precisei anotar pausadamente as suas falas para tentar, de alguma forma, explicar que não gostei do trabalho realizado pelos dois naquela noite.
O casal que se identificou como Zion (Sião) e Elianara. O primeiro nome, que não deve ser o nome de batismo, me revelou que o homem tem ou teve uma ligação com alguma fé cristã, pois no decorrer do vídeo, eles deram a entender isso.
Ao adentrar na cidade, perto do “Parque Pouso do Tropeiro”, Elianara narrou que a cidade tinha “em média” 39.600 habitantes, nesse momento já fiquei curioso, pois não tinha ouvido ou lido isso antes, “em média”. Para ser uma média, são necessários números acima e abaixo de 39.600 habitantes, em algumas épocas específicas. Mesmo quando Frei Rogério, São Cristóvão do Sul e Ponte Alta do Norte eram distritos de Curitibanos, não tínhamos número de habitantes suficiente para compor essa "média". Depois, ela leu sobre a cidade de Curitibanos em algum lugar, possivelmente na “internet”, pelo “smartphone” e soltou o seguinte:
— A colonização de Curitibanos foi realizada por tribos indígenas, kaingangues e guaranis, os famosos bugres. Foram as tribos mais comuns que colonizaram o Brasil.
Qualquer tipo de colonização, não pode ser efetuada por nativos. A própria palavra já diz, “ato ou efeito de colonizar”, “criar colônia, habitar como colonos, transformar em colônia”. Isso só pode ser efetuado por pessoas de fora, que venham a ocupar um determinado lugar. No nosso caso, inicialmente, os portugueses, depois vieram para Curitibanos, famílias de outras origens. Curitibanos nunca foi colonizada por tribos indígenas. Os próprios indígenas da região, eram nômades. Não permaneciam no local, principalmente, por causa do frio e da alimentação de frutos sazonais.
Depois disso, mais uma narrativa errada:
— Curitibanos, além de fazer parte do Vale do Contestado, onde ocorreu a Guerra do Contestado, ainda era "campo de passagem dos tropeiros" durante a Revolução Farroupilha. Os tropeiros passavam por Curitibanos, para se reabastecer, e depois, se dirigiam até o local onde estava ocorrendo a Revolução Farroupilha.
Os tropeiros não passavam por Curitibanos com a finalidade de abastecimento para ir ao local onde estava ocorrendo a Revolução Farroupilha. Isso seria, no mínimo, ridículo.
De acordo com as palavras de Elianara:
— A modernidade em Curitibanos está chegando bem devagar, tão vagarosa. Pelo que vi, chega a ser quase que despercebida. — Ela viu a modernidade devagar e vagarosa? Eles estavam chegando pela primeira vez em Curitibanos, não conheceram o antes e o depois, não viram a evolução ocorrida nos últimos anos, como ela pode dizer que foi “tão vagarosa”? E foi além: “Eles (os curitibanenses), não fazem questão de trazer a modernidade”.
Quando desceram a Rua Cornélio de Haro Varella e avistaram alguns prédios, notaram que na cidade tinha 40 mil habitantes, então mudaram o conceito: “não é uma cidade pequena”.
Ao passar em frente ao templo da Igreja do Evangelho Quadrangular, Zion disse:
— Tem uma igreja estragando o ar aqui.
Elianara respondeu:
— Cadeia da prece! Diga, deveriam ter deixado como cadeia da prece. Nesse momento e parte do vídeo, eu não entendi, mas foi aí que notei que eles foram ligados às crenças religiosas.
Após passar numa pastelaria, Elianara disse:
— Um dos pontos altos de Curitibanos é a gastronomia.
Zion respondeu imediatamente:
— Os bugres?
— Por ser uma cidade dos bugres, eu estou me sentindo bem dentro, somos descendentes de bugres, automaticamente, descendentes de índios. — Explicou Elianara. O que tem a ver a gastronomia de Curitibanos com os bugres? Não entendi essa comparação, pois não vejo, nas pastelarias, ou mesmo nos restaurantes e lanchonetes de Curitibanos, a venda de iguarias indígenas.
— Tem um museu, que foi fundado em 1972, cujo prédio foi antes, a Prefeitura Municipal de Curitibanos. — Continuou Elianara. — Aqui temos mais uma informação errada. O Museu Histórico Antonio Granemann de Souza foi inaugurado em 7 de maio de 1973. Errou no ano.
Depois que chegaram na Praça da República, Zion exclamou:
— É uma praça bem antiga mesmo, até os bancos. Os bancos, são aqueles bancos bem tradicionais mesmo, dos anos 90. — O que será que ele quis dizer com essa frase? Os bancos foram colocados na praça na gestão do prefeito Generino Fontana, já no século XXI.
Depois começaram a ler os textos nos monumentos fixados na praça, ao ler “um conflito social, onde milhares de caboclos tombaram defendendo seus direitos", Zion exclamou e questionou.
— Ah! Os índios né? Cara, eu lendo isso já me dá uma certa revolta, falando bem a verdade, porque eu sou um cara que sou muito dessa questão aí, né? Do capitalismo querer passar por cima de pessoas, para poder conquistar poderes, né?
— Vale lembrar que essa guerra aconteceu…, o porquê da guerra do contestado, porque a gente sabe que o Brasil foi colonizado por índios, negros, caboclos, mamelucos, enfim…, e o que aconteceu? Começou a vir gente de fora, pessoas brancas, italianas, alemãs, austríacas, pessoas de fora que vinham para o Brasil e tomavam posse das coisas. Resumidamente, era isso. E essa guerra do contestado aconteceu justamente aonde as pessoas, que eram daqui, que eram donas das terras, resolveram se impor e brigar, por isso é que fala o texto (do monumento) sobre a justiça social.
Depois leram sobre o incêndio de Curitibanos. Quando acabaram:
— É o que a gente terminou de falar né? — Continuou Elianara. — É a luta contra uma terra que era deles, e que foi tomada, por eles não terem poder, não terem dinheiro e serem de cor escura.
Ao ler no monumento os locais sobre onde se desenrolou as batalhas do contestado, e onde ficavam os redutos dos fanáticos num mapa, Zion fez uma confusão e considerou todos os lugares (muitos nem existem mais), como cidades. A mulher, após ler a lista disse:
— Fora essas, tem mais algumas que a gente passou.
Por fim, foram ao monumento do Bicentenário do nascimento de Anita Garibaldi e leram o texto que explica sobre a muda de roseira lá plantada. Enfatizaram que a cidade não evoluiu muito com a modernidade. A mulher disse:
— Uma coisa que nos chama a atenção é a Praça da Matriz, porque sempre são aquelas praças lindas, que contam uma história, mas não tão profundas, não tão…, e aí, a gente chega numa praça bem simples, bem antiga…, para outras pessoas, vão dizer assim, “feia”, mas para mim não tem nada de feia. Aí você vai lendo as coisas que tem espalhadas dentro da praça, é de emocionar.
Depois relataram as emoções dos dois e convidaram os viajantes a virem conhecer a Praça da República em Curitibanos. Elianara parabenizou Curitibanos por manter a sua história e as raízes como realmente aconteceram.
Agora, farei as minhas considerações com relação ao vídeo e a transcrição anterior. Notei com a divulgação do vídeo, a importância de mantermos as nossas “praças” limpas, bem conservadas e com identificações históricas sobre os acontecimentos que envolveram no passado a nossa cidade de Curitibanos.
Os monumentos precisam ser conservados e limpos, estou trabalhando para resgatar o histórico de todos os monumentos existentes em Curitibanos, para que os turistas e as pessoas que aqui vierem, possam saber sobre eles e qual a relevância histórica e a contribuição cultural para a cidade de Curitibanos.
Conservar as praças, os monumentos, as árvores, os canteiros e as melhorias feitas pelo setor público é responsabilidade de todos os moradores de qualquer cidade. Os curitibanenses não podem fugir dessa responsabilidade. É cultural. Portanto, se formos porventura testemunhas de qualquer vandalismo, temos a obrigação e o dever de denunciar para que o vândalo possa ser responsabilizado e punido de acordo com a lei.
Por outro lado, o que aprendemos com o vídeo e a transcrição anterior? Aprendemos que não podemos simplesmente expor as nossas ideias na “internet”, sem antes fazermos uma consulta prévia, ou uma pesquisa detalhada sobre os fatos e sobre a história do lugar, ou do que expomos. Ficou horrível a impressão passada sobre Curitibanos e o seu passado, bem como, sobre a sua modernidade. Curitibanos cresceu bastante, se desenvolveu em vários sentidos. Nas últimas décadas, as ruas foram pavimentadas, novos prédios foram construídos, novas casas foram edificadas, dentro dos mais altos padrões arquitetônicos existentes em nosso tempo.
A Guerra do Contestado não ocorreu por causa de brancos ou pretos. Nem por causa dos europeus que vieram e tomaram posse das “coisas” ou das terras daqueles que se diziam donos delas. Vários foram os fatores que envolveram e que culminaram com o conflito social citado pelos viajantes como “Guerra do Contestado”, entre eles, nós temos a construção da estrada de ferro que não chegou a Curitibanos, o desemprego, a extração desenfreada da erva-mate na região do Rio Iguaçu, dominada por coronéis e fazendeiros, a questão dos limites entre Santa Catarina e o Paraná, fazendo com que houvesse omissão no trato e cuidado social daqueles que habitavam a região, a influência do messianismo entre a população cabocla ou interiorana da época, a ganância dos coronéis e dos proprietários das terras e outros fatores.
Portanto, mais uma vez chamo a atenção para o cuidado de mantermos a história na mais correta veracidade possível. Caso não saibamos sobre um determinado assunto, devemos pesquisar antes de proferir um parecer, pois caso nós não nos inteirarmos do assunto, incorreremos no risco de proferir um parecer falso.
Curitibanos merece ter a sua história resgatada na sua plenitude. Todo curitibanense tem a obrigação de conhecer e disseminar a verdade, fugindo do folclore, da tradição e do engodo, que foi passado, muitas vezes, via oral, de pai para filho, sem uma comprovação científica.
Para saber mais sobre Curitibanos e sua história, segue alguns links:
https://www.youtube.com/watch?v=O0TfceNYA0s
https://www.youtube.com/watch?v=5VZCEG3U0OM
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